Nas mãos de São Pedro: Veja os impactos das chuvas na economia brasileira
Todo começo de ano é a mesma história: as fortes chuvas e calor extremo castigam cidades Brasil afora — que sofrem com enchentes e deslizamentos. No entanto, o nível de chuva no país também determinam como será o crescimento econômico.
Segundo Bráulio Borges, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), parte relevante do desempenho macroeconômico brasileiro nas últimas décadas pode ser explicado pelas oscilações das chuvas. Isso porque a economia do Brasil tem uma elevada dependência de água.
Borges destaca que, apesar dos temporais dos últimos dias, a verdade é que o Brasil está passando por uma estiagem crônica e severa desde 2012. Tanto que o país quase precisou entrar adotar racionamentos compulsórios de energia elétrica em 2014, 2017 e 2021 devido às baixas nos reservatórios. Também vale lembrar da seca no Amazonas em meados de 2023, que colocou a produção da Zona Franca de Manaus em risco.
Como esperado, o agronegócio é o primeiro setor a sentir isso. “O déficit de chuvas também afeta a produtividade do agronegócio, que respondeu por cerca de 21% do PIB brasileiro na média da última década, segundo estimativas do CEPEA/Esalq. Vale lembrar que o percentual de lavouras irrigadas no Brasil, embora tenha se elevado nos últimos anos, ainda é baixo na comparação com outros países”, afirma.
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Impacto das chuvas (ou falta delas) no PIB
Segundo um relatório do Banco Mundial, existe uma relação clara entre o nível das chuvas e a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) per capita.
Por exemplo, caso um país registre um ano muito seco após uma sequência de anos com muita chuva, a tendência é de que o impacto negativo na atividade econômica seja menor do que um histórico de anos secos. Isso reflete o fato de que a água pode ser armazenada no solo, em reservatórios e nos lençóis freáticos.
No caso do Brasil, déficit crônico de chuvas entre 2012 e 2023, teria gerado um impacto negativo anual de 1,7 ponto percentual sobre a taxa de variação do PIB.
Entre os anos de 2022 e 2023, a atividade econômica brasileira acelerou. No entanto, Borges lembra que esse crescimento só foi possível porque o país estava consumindo o excesso de ociosidade da economia até meados do ano passado.
“Também é importante notar que houve um certo descolamento entre PIB e precipitações no último biênio, já que o processo de adaptação da economia brasileira a uma menor disponibilidade de chuvas se acelerou consideravelmente, sobretudo no setor de energia. Somente de 2019/20 para cá, a participação de eólicas e fotovoltaicas na geração efetiva de energia (e não na capacidade instalada de geração) quase dobrou”, afirma.
Segundo o pesquisador, caso os níveis das chuvas tivesse se mantido, o PIB brasileiro poderia ter avançado ainda mais rápido, sem gerar pressões inflacionárias, elevando a capacidade produtiva do país.