Mercados

Não se anime: Dólar tem mais motivos para voltar a subir do que para seguir em queda

23 mar 2022, 14:43 - atualizado em 23 mar 2022, 14:43
Dólar
O dólar rompeu a barreira dos R$ 5 e tem o menor valor desde o início da pandemia (Imagem: Pixabay/webandi)

Seguindo a sua trajetória de queda, o dólar opera nesta quarta-feira (23) abaixo dos R$ 4,90, o menor patamar desde o início da pandemia da Covid-19 em 2020.

Esse movimento, que já vem de alguns dias, pode ser explicado por uma série de fatores, que vão desde a alta dos juros no país, o alto volume de investimentos estrangeiros na bolsa e o preço das commodities que dispararam por conta da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

O fato da moeda ter rompido a barreira psicológica dos R$ 5 depois de tanto tempo traz alguns questionamentos, principalmente sobre ser ou não o momento de comprá-la.

As projeções futuras, no entanto, não apontam para um cenário de queda contínua ou tampouco da moeda se firmando abaixo dos R$ 5. A última edição do Boletim Focus do Banco Central (BC), divulgada na segunda-feira (21), trouxe uma estimativa para o câmbio este ano em R$ 5,30.

André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, destaca que o mais complicado no momento para a análise do cenário é o fato do patamar dos R$ 5 ser muito sensível para o dólar.

“A gente viu uma alta muito grande da moeda norte-americana desde 2020. Ela subiu e ficou oscilando acima do patamar dos R$ 5. Romper esses R$ 5 graficamente joga o dólar para uma zona onde ele cai rapidamente, tentando buscar os patamares pré-pandemia. Mas isso gera uma oscilação muito forte, que deixa o mercado nervoso”.

Já Bernardo Pascowitch, economista e fundador da plataforma de investimentos Yubb, pondera que se colocados na balança, o dólar tem hoje mais elementos que apontam para a sua valorização do que para a consolidação das baixas, como eleição, a taxa de juros nos EUA e o próprio desenrolar da guerra no Leste Europeu, que influencia no preço das commodities.

“Ainda assim, é um mercado difícil de prever, de antecipar o movimento. Pode ser que a guerra [entre Rússia e Ucrânia] tenha alguma mudança que favoreça os mercados emergentes, por exemplo. Mas a gente tem hoje para colocar na balança mais questões que apontam para uma valorização da moeda do que para a continuação da queda”.

O economista avalia que o patamar dos R$ 4,80, em que o dólar se encontra hoje, é considerado de “suporte”, e a partir daí a moeda pode entrar em uma nova onda de valorização, seja por questões políticas, econômicas ou mesmo gráficas.

Eleições 2022

As eleições sempre trazem reação por parte do mercado, e com a de 2022 não será diferente, sobretudo se levado em conta o cenário polarizado entre o ex-presidente Lula (PT) e o atual presidente da República Jair Bolsonaro (PL).

Pascowitch lembra, por exemplo, que aumento dos gastos públicos, o desrespeito ao teto de gastos e outros fatores comuns em ano eleitoral que trazem maior risco fiscal, afugentam investidores estrangeiros — o que tira o dólar do país. 

Perfeito, por outro lado, avalia que, talvez, a eleição não mexa muito com o câmbio, e justamente por isso a projeção do Focus aponta o dólar para casa dos R$ 5.

“Lula e Bolsonaro são diferentes, mas tanto faz [para o mercado]. O que é indiferente é o fato de que ambos terão que discutir a parte fiscal do país; o Banco Central tem falado sobre isso nas atas”.

Taxa de juros no Brasil e nos EUA

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anunciou no último dia 16 o aumento de 1 ponto percentual na taxa básica de juros no Brasil (Selic), elevando-a para 11,75%.

Por aqui, as projeções para o ano seguem apontando para uma Selic ainda mais alta, encerrando 2022 na casa dos 13%.

No mesmo dia, que ficou conhecido como a “Super Quarta”, o Fed (Federal Reserve) também anunciou também uma alta de juros em 0,25 p.p. nos Estados Unidos.

Jerome Powell, chair da instituição, chegou a dizer que o Fed tem que agir “rapidamente” e com mais agressividade se necessário para controlar a inflação.

Pascowitch lembra que o dólar tende a se apreciar quando existe uma demanda grande por títulos públicos americanos no geral — e isso tende a acontecer, justamente, quando os juros aumentam.

“Essa demanda existe geralmente em períodos de muito estresse dos investidores, que querem fugir do risco. Quando existe essa aversão ao risco, normalmente a gente vê o dólar se apreciando. Uma continuação dos juros altos pode fazer o investidor comprar cada vez mais títulos públicos, que se tornam mais atrativos, mais rentáveis. Isso pode gerar uma pressão compradora de dólar em todo o mundo, o que influencia o câmbio aqui”. 

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