Não, Haddad! Aumentar imposto de banco não ajuda na redução de spread
Por Arthur Lula Mota, Editor do Terraço Econômico
O ex-prefeito de São Paulo e candidato a (vice) presidente do Brasil participou de uma sabatina no site Catraca Livre e aproveitou para deixar algumas propostas em seu Twitter ontem. Uma das mais curiosas é esta e vai em linha com a recém aberta temporada de populismo eleitoral (começando por Ciro ao sugerir intervenção do Estado no problema dos devedores e nomes sujos no SPC).
Em partes, o ex-prefeito tem razão. O custo do crédito para todos os agentes da economia aqui no Brasil é muito alto, sendo os empreendedores um caso particular destes. Ainda assim, a proposta do tweet contém toques de populismo.
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Quem lê, pensa que o banqueiro malvadão se mune de spreads altos para enriquecer ainda mais e que todo o diferencial de juro captado no mercado e emprestados no banco vira lucro da empresa. Por conta disso, surge então o político bonzinho, que irá amedrontar os bancos que ousarem aumentar ainda mais seus lucros por meio do crédito emprestado para a população.
Pois bem, isso não é verdade. A maior parte do spread bancário não vira lucro. O Banco Central vem fazendo a decomposição do spread bancário em seu Relatório da Economia Bancária e na versão de 2017 podemos olhar a evolução desta decomposição.
Na tabela 3.5 do relatório é possível ver que a margem do banco roda em torno de 15% do total do spread, o que já sinaliza que o banco não morde a maior parte. Ele apena está cobrando a parcela da sua prestação de serviço (poderia ser menor? Talvez, mas a questão aqui é mostrar que o dinheiro não vai todo para o lucro do banco).
Percebam que a maior parte do spread responde ao nível de inadimplência (veja o glossário no final do artigo). Então terá o aventureiro bradando: “mas a inadimplência é alta por que o spread é alto, e então vira um círculo vicioso”. Bem, o que o prefeito está sugerindo então é aumentar o imposto do banco, com a expectativa de que ele internalize o custo e não repasse para o consumidor final?
Se ele não puder repassar o aumento de custo, certamente vai restringir crédito, com uma avaliação mais rigorosa do tomador, e então dificultando ainda mais a tomada de crédito por parte dos citados empreendedores.
Sabemos que isso vai terminar em taxas mais altas e, por consequência, impacto na inadimplência.
O Banco Central ainda faz uma simulação. E se a margem fosse zero?? Bem, ainda assim o spread bancário seria maior do que 9p.p., continuando como um problema.
A ameaça emite um som bonito, encorajador, mas quando se olha os números, nota-se o claro tiro no pé. Claro, nessa altura do campeonato, o ganho do voto é no grito, não nas propostas efetivas.