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‘Não vejo crise, mas caso AgroGalaxy (AGXY3) preocupa’, diz CEO da Boa Safra (SOJA3)

03 out 2024, 7:00 - atualizado em 04 out 2024, 12:44
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O diretor-executivo da Boa Safra projeta dívida próxima de zero no final de 2024 e diz que empresa surfou onda de inadimplência no setor (Foto: Divulgação)

O CEO da Boa Safra (SOJA3), Marino Colpo, disse, em entrevista exclusiva ao Money Times, que o pedido de recuperação judicial da AgroGalaxy (AGXY3) preocupa o agronegócio, mas disse não enxergar uma crise no setor.

“A notícia é ruim para o mercado no geral, por ser uma empresa tão grande e sofisticada, com acesso ao mercado como é o caso da AgroGalaxy. O setor conta com um grande desafio que é o acesso ao crédito, porque o produtor sempre precisa de caixa, e o ciclo de compra de insumos acontece entre agosto e outubro, mas a colheita só começa em fevereiro. Há um desafio de faturamento”.

Colpo comenta que o acesso ao crédito começou por meio de programas agrícolas, e depois se expandiu para bancos privados, chegando mais recentemente ao mercado de capitais via emissão de CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e abertura de capital pelas empresas.

“Nesse ponto eu acho que o caso AgroGalaxy é muito ruim, já que houve muitos CRA’s e Fiagros envolvidos no meio, sendo ela própria uma empresa listada. Gera desconfiança no investidor sobre o setor, já que se ele perde dinheiro com Fiagros, ele coloca os ativos numa lista negra”, vê.

Efeito “próximo de zero” para a empresa

Quanto à Boa Safra, o CEO ressalta que o impacto na empresa com o pedido de RJ da AgroGalaxy foi de baixo a mínimo, já que havia poucas vendas feitas para a empresa. “O reflexo é próximo a zero”, completa.

“Não vejo uma crise no agronegócio, mas sim um momento conturbado, porque a soja saiu de R$ 200 para R$ 100 em dois anos, com a margem saindo de 40% para 20%. O produtor que tem um nível de endividamento normal, está tranquilo. Acredito que pode haver novas RJs, mas não acredito em uma chuva de pedidos. No entanto, pelas margens menores, o produtor e empresa que se comprometeu com um nível de dívida muito alto está enrolado”.

Colpo reforça que não é difícil perceber, para quem conhece o setor, as empresas que se encontram em uma situação delicada. “Essas empresas ou produtores se colocaram em uma situação difícil, já que não aproveitaram o bom momento anterior de preços. Agora, para o produtor ou empresa com baixo nível do endividamento e baixa dívida líquida, a atividade continua sendo rentável, apesar de estarmos no pior momento do ciclo, na minha visão”.

Resiliência das sementes e inadimplência

O CEO da Boa Safra destaca que a empresa conseguiu surfar a inadimplência no setor. “Concedemos crédito, mas não muito. Em 2023, faturamos pouco mais de R$ 2 bilhões e concedemos R$ 450 milhões em crédito, quase 25% das receitas. Até momento, a nossa inadimplência foi de R$ 7 milhões, 1,5% do total concedido no momento em que muitas empresas tiveram problemas sérios no agro. Eu considero uma vitória para companhia, sendo que esse número pode cair para 1%”.

Colpo salienta o baixo nível de dívida da companhia, que segundo ele, deve encerrar 2024 próximo a zero. “É uma companhia extremamente desalavancada e eu acho que isso traz muitas possibilidades para fusões e aquisições, de expandir mais agressivamente, aproveitando esse momento. 



Ele também enfatiza a resiliência do setor de sementes, citando que 2023 foi um ano de balanço ruim para empresas do setor listadas no mercado internacional, principalmente no segmento de fertilizantes. Colpo comenta que 90% do faturamento da empresa se concentra no segundo semestre de cada ano, quando o produtor adquire a semente.

“Quando você olha os insumos, o que menos caiu foi a semente, mesmo trazendo sempre muita inovação. Adubo e defensivos químicos e biológicos tiveram quedas maiores de preço. Em 2009, a semente representava 9% do custo da lavoura, e hoje isso está em 16%. Daqui 14 anos, eu projeto 25%, pelo maior nível de tecnologia”. 

SOJA3: O momento da ação

Em 2024, a ação da Boa Safra recua 24,30%, acumulando queda de 8.74% em setembro. Para Colpo, o recuo é um pouco chocante. “Lembro que quando realizamos o IPO, me falaram que saiu barato. Era uma companhia que dava R$ 70 milhões de lucro em 2020, sendo avaliada pré-IPO em R$ 700 milhões, 10 vezes o lucro, sendo que muitos esperavam 15 vezes o lucro”.

“Fizemos o IPO, captamos dinheiro, investimos em novas plantas, máquinas, CDs e equipamentos. Nós saímos de 3 plantas para 14 com o follow-on, e o lucro da empresa saiu de 70 milhões para R$ 245 milhões em três anos. Não fizemos nada diferente do que prometemos no IPO, mas hoje entregamos quase R$ 250 milhões de lucro e estamos valendo R$ 1,5 bilhão. Se você parar para pensar, a companhia dobrou de preço, mas o nosso lucro quadruplicou“, completa.