Economia

Não foi dessa vez, mas está perto: Banco Central pode começar a cortar a Selic no segundo semestre

03 maio 2023, 19:40 - atualizado em 03 maio 2023, 19:40
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Banco Central pegou mais leve em seu comunicado e mercado já projeta cortes da Selic a partir de setembro. (Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

A taxa Selic segue em 13,75% ao ano. Essa foi a decisão Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central.

Este é o maior patamar da taxa básica de juros desde janeiro de 2017, onde a Selic está estacionada desde agosto. Mas a manutenção da taxa pode estar chegando ao fim. Em seu comunicado, a autoridade monetária apontou que, “apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.”

O detalhe está no “menos provável”. Até então, o Banco Central era mais enfático ao dizer que poderia voltar a subir a taxa se fosse necessário.

Segundo o comunicado, a reoneração dos combustíveis e, principalmente, a apresentação de uma proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da incerteza em relação à política fiscal.

“Por outro lado, a conjuntura, caracterizada por um estágio em que o processo desinflacionário tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de inflação desancoradas, demanda maior atenção na condução da política monetária.”

BC alivia no comunicado

A manutenção da Selic já era esperado. O que surpreendeu foi o tom do comunicado. Bruno Monsanto, assessor de investimentos e sócio da RJ+ Investimentos, lembra que os últimos comunicados chegaram a irritar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exatamente por sinalizar que não exitaria em subir a Selic.

O novo governo vem pressionando o Banco Central a cortar a taxa básica de juros, alegando que o atual patamar atrapalha o crescimento econômico e o mercado de crédito.

“Agora, o Copom se mantém firme, mas suaviza um pouco o discurso, dando a sinalização de que, com as variáveis analisadas melhorando, o ciclo de cortes pode começar no segundo semestre”, afirma.

Apesar de ter aliviado no comunicado, Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos, afirma que o Banco Central segue atuado de forma técnica e os balanços de riscos continuam iguais.

Para ele, ainda existem incertezas em relação ao arcabouço fiscal e a sua permissividade com o aumento de gastos, causando uma preocupação sobre a deterioração da trajetória da dívida pública.

“O BC tem sido muito técnico e está sendo correto em cima de suas decisões diante de um cenário de tantas incertezas. Na minha visão, a preocupação com a desancoragem das expectativas de inflação continuam”, diz.

Selic mais baixa ainda em 2023

O comunicado reforça as apostas de que a Selic pode começar a cair ainda este ano, em meados do segundo semestre.

Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos, projeta que a taxa básica de juros pode cair a partir de setembro e o texto divulgado hoje reforça isso.

“Já pode ser o Banco Central abrindo caminho para uma sinalização de corte dos juros. Na comunicação do BC, você não pode simplesmente vir de uma reunião que você está sinalizando que pode, eventualmente, subir juros e na próxima falar que pode cortar juros. Tem que ter uma transição um pouco mais suave”, destaca.

O economista André Perfeito aponta que o mercado não deve se animar com um corte em junho, ficando só para os últimos seis meses do ano mesmo.

“Alguns pontos chamaram a atenção como a perspectiva que a aprovação do arcabouço fiscal não gera automaticamente corte de juros, o que no mais é óbvio, mas contrasta com elogios iniciais a proposta do Ministério da Fazenda”, diz.

Já Adriana Dupita, economista-chefe para Brasil e Argentina na Bloomberg Economics, afirma que há pelo menos dois sinais de que um corte de juros está no horizonte: o reconhecimento de que a nova regra fiscal mitigou parcialmente os riscos fiscais, e a projeção de uma inflação abaixo da meta em 2024 caso os juros sigam no nível atual até lá. No entanto, o corte não virá já na próxima reunião.

“Dificilmente as expectativas de inflação estarão ancoradas nas metas até lá, como deseja o Banco Central. Do ponto de vista político, a manutenção da referência, ainda que suavizada, a uma possível alta de juros se necessário pode gerar desconforto no governo. Caso volte a haver ruído público, isso pode contaminar decisões importantes para o cenário de juros, como a indicação de novos membros para o BCB e a discussão sobre metas de inflação”.

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