“Não existe dinheiro suficiente para 2025”, diz Menin, fundador da MRV, sobre o mercado imobiliário
O Brasil irá finalizar o ano com um gosto agridoce na boca. Enquanto os números indicam 2024 como um dos melhores anos para o setor imobiliário, a preocupação com o funding segue assombrando os executivos.
Durante o evento Summit Imobiliário 2024, promovido pelo Estadão em parceria com a Secovi-SP, nesta quinta-feira (28), Rubens Menin, fundador e atual presidente da MRV Engenharia, disse que está bastante otimista com as próximas duas décadas, mas também se mostrou apreensivo em relação aos recursos disponíveis para a construção civil.
Segundo o executivo, a captação de recursos é o ponto de maior atenção e necessita de ajustes. Se por um lado a poupança segue com números elevados de retiradas, o FGTS também apresenta um risco com saques-aniversário. Menin pressiona pedindo por mais políticas públicas acerca do assunto.
“O FGTS, que está salvando o nosso segmento, está sendo atacado. O saque-aniversário vai comprometer o orçamento futuro do FGTS, e de uma maneira ruim, porque você pega o saque-aniversário para pagar uma dívida e gastar o dinheiro de uma vez. Se você pega o dinheiro do FGTS e investe na habitação, além de você propiciar o desenvolvimento econômico e social para aquela unidade, aquilo retorna para o sistema”, disse.
Menin, que além de fundador da MRV também é fundador do Banco Inter, destaca que está nas duas pontas da mesa e sabe que os bancos estão surfando bem a onda dos saques, mas o executivo enxerga que isso trará um prejuízo no futuro.
Outro ponto citado em sua fala durante o evento foi a mudança feita pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), no início do ano, que restringiu o lastro e alterou os prazos das Letra de Crédito Imobiliário (LCIs), utilizadas também para captação imobiliária.
“Temos a poupança que claramente estava tendo um momento ruim, como é que você contrabalança a poupança? Com a LCI. E aí o que fizeram? Passaram a captação para 360 dias. Não existe dinheiro suficiente para 2025”, pontuou Menin.
Macroeconomia também atrapalha o setor
No mesmo painel, também estava presente o presidente da Secovi, Rodrigo Luna, que pontuou que, apesar de números “extraordinários”, o Brasil fecha o ano com uma taxa de juros mais alta, o que costuma ser um ponto de atenção para este setor.
“O desafio começa, obviamente, pela questão macroeconômica, em que nós precisamos encontrar um equilíbrio fiscal”, diz.
Enquanto o evento acontecia, o mercado estava de olho no pacote de contenção de gastos que havia sido anunciado por Fernando Haddad, ministro da Fazenda, na noite anterior. Nele constava a contenção de R$ 71,9 bilhões, além da taxação de salários acima de R$ 50 mil, entre outras medidas. Também foi divulgada a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil.
“O Brasil comunica muito mal. Anuncia pacote de gastos, mas junto com ele tem que vir algo político. É importante cortar, mas tem que ter compromisso com o corte”, disse Menin.