Stuhlberger sobre juros: ‘Não dá para Banco Central ser bicho que ladra e não morde’
Cresce cada vez mais o sentimento entre investidores de que o Banco Central vai elevar os juros. E três dos maiores gestores do mercado, Luís Stuhlberger, da Verde Asset, Rogério Xavier, da SPX Capital, e André Jakurski, da JGP, reforçaram essa visão no Macro Day, evento realizado pelo BTG Pactual nesta terça-feira.
O painel foi comandado por André Esteves, sócio senior do BTG Pactual.
Segundo Stuhlberger, o Banco Central, e, especialmente Gabriel Galípolo, diretor de política monetária, dão sinais de que os juros vão subir.
“Depois de tudo que o Galípolo falou, o Banco Central não pode ser aquele cão que ladra, mas não morde”, afirmou.
“Se você me perguntar um mês atrás qual era a chance do Galípolo dar os discursos que ele deu… o Galípolo vai em baile de deputante e fala que vai subir a Selic, ninguém pediu, ninguém pediu para ele falar isso, entendeu? Ele vai lá espontaneamente, onde quer que ele vá, e diz que vai subir a Selic, que a inflação está desancorada”, disse.
Galípolo, cotado para assumir a presidência do Banco Central após o término do mandato de Roberto Campos Neto, vem repetindo que está preparado para subir os juros.
Ontem, inclusive, disse que o cenário é “mais desconfortável” para a condução da política monetária, com o mercado projetando uma inflação mais alta e juros mais elevados à frente.
“É claro que a gente tem um ambiente onde o juro no mundo inteiro vai cair, está caindo e vai nos ajudar. E eventualmente o dólar, ancorando num nível mais baixo […] Agora, a nossa previsão lá na Verde, do fiscal, a nossa visão, ela é muito pior do que o mercado está comprando”, destaca Stuhlberger.
Ele afirma que as despesas fora do arcabouço podem chegar até R$ 130 bilhões, ou 1% do PIB.
“Dá para evitar que isso aconteça com a arrecadação extraordinária, ou essas medidas que foram anunciadas? Dá, ainda assim, nos parece que a previsão de arrecadação principalmente com precatórios, esses R$ 40 bi, na receita, está muito acima do que vai acontecer”, coloca.
André Jakurski, por outro lado, vê o Brasil crescendo bem, com bom nível de consumo. “Então, acho que essa pressão que tem no pipeline de inflação é verdadeira”, diz.
Ainda segundo ele, se o país aumentar o juro 1%, 1,5%, não será uma diferença tão dramática. “O Banco Central tem que fazer uma missão de manter a meta da inflação estabelecida pelo Conselho Monetário, que é 3%”, diz.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, subiu 0,38% em julho O indicador também acelerou a alta acumulada em 12 meses até julho para 4,50%, de 4,23% no mês anterior.
“Se vai aumentar ou não vai aumentar, eu não sei, agora eu sei que tem uma regra do Banco Central que diz o seguinte, se estiver fora da meta, tem que aumentar, só isso que mecanicamente analiso”, diz Jakurski.
Galípolo e sua oportunidade
Rogério Xavier recorda que quando um novo presidente do BC assume o cargo, precisa ganhar credibilidade. E Galípolo terá uma chance de ouro se puxar essa alta dos juros.
“Eu acho que foi comunicada a alta de juros pelo Banco Central, já está na imprensa, já está no político, já foi combinado com o Lula, a economia está performando bem”, afirma
Ele diz ainda que a inflação está acima do centro da meta do governo para esse ano, enquanto as projeções dos analistas, embora tenham se revertido um pouco, continuam longe do centro da meta.
“Assim, não fazer [aumentar os juros] parece uma loucura, até porque é benefício dele [Galpipolo] na relação da credibilidade”, destaca.
Ainda segundo Xavier, nunca mais precisará discutir se o Banco Central, comandado pelo Galípolo, subirá o juro ou não se a alta ocorrer. “Isso vai ficar no passado. Eu acho que isso tem um valor futuro para a nova administração que é gigantesca”, destaca.
Para Xavier, será bom para o Brasil subir juros, com um pequeno ciclo de alta. Isso permitirá tirar o déficit de credibilidade em relação a um ente que é tão importante como é o Banco Central, declara.
Na votação de maio do Copom, houve racha entre os membros do comitê. A decisão por um corte de 25 p.p. foi disputada, e venceu por apenas um voto de diferença, o que causou ruídos que são lembrados até hoje. Campos Neto votou por corte de 0,25 pp e Galípolo por 0,5 pp.
“Passar os próximos quatro anos, na dúvida, se esse Banco Central, de fato, é independente ou não, eu acho que ia ser muito ruim para o Brasil”.