Pecuária de corte

Não captados pelo mercado, ‘pecuaristas de papel’ explicam parte do derretimento da arroba

09 dez 2020, 12:22 - atualizado em 09 dez 2020, 12:30
Boi confinado caiu em volume, mas ficou na medida para as condições do mercado (Confinamento Coplacana)

O movimento muito acentuado de retração do preço boi começa a trazer um componente que se evidencia só agora. Tem mais animal do que se esperava chegando para os frigoríficos, desde meio de novembro, mais ou menos, por obra de investidores que viraram ‘pecuaristas de papel’.

Tudo com vendas travadas antes com as indústrias grandes, como no contrato a termo.

Não é um volume de bois que justifica todo derretimento da @ em cerca de R$ 30 em São Paulo, por exemplo, mas explica em partes.

Como também não são pecuaristas profissionais, também não foram captados pelo setor.

Se até a Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon) está vendo muitos associados se recusando a dar dados de confinamento, como admite o presidente Maurício Velloso, não se pode desprezar esse mercado paralelo.

Além de “gente que trabalha o dinheiro, que buscam opções, e o boi se tornou um grande ativo”, como diz Velloso, há todo tido de produtor neófito entrando nesse negócio. Com a taxa Selic em baixas históricas e a renda fixa pouca atrativa, quem não foi para bolsa de valores foi para esses investimentos alternativos.

“Tem médicos, engenheiros e até um amigo contador que entrou nisso”, nota Juca Alves, pecuarista. Localizado em Barretos, na faixa Norte paulista, com inúmeros confinamentos fechados e outros para locação, Alves foi percebendo mais claramente que “boa parte do boi que está sobrando em dezembro veio dessa gente”.

Também fazendas foram alugadas para esse fim.

Entre os investidores mais profissionais, como lembrou o presidente da Assocon, estão aqueles que viraram cotistas em projetos de confinamentos casados com os grandes compradores que foram ao mercado captar recursos.

Desde operações tradicionais com Cédula de Produto Rural (CPR), no qual os grandes terminadores de animais de curral buscaram expandir operações para atrair interessados, quanto captações alternativas em crowdfunding (contrato de investimento coletivo). Nos dois casos pode-se lembrar de transações bem sucedidas feitas pela EdafoPec ou da Fazenda Vila Rica I.

A consolidação da China como o grande comprador, com os quase 60% das exportações totais de carne bovina brasileira, as brechas do mercado foram se abrindo.

E isso foi notado também por Sérgio Przepiorka, proprietário do Boitel Chapararral, em Rancharia. “Sim, bastante gente entrou nesse negócio”, conta, embora acredite que as quedas das cotações agora estão se ajustando “às altas fortes e abruptas”.

Que o confinamento de boi caiu este ano, caiu. Talvez fique entre menos 11 e menos 15%, segundo a Assocon. O preço nas alturas até meio de novembro, sem pasto algum, não deixava dúvida.

Mas o movimento de boi a termo, com alguma dose de animais vindo desses convertidos à pecuária, serviu na medida para o momento, quando o consumo interno aumentou sua fraqueza e a China tradicionalmente desacelera as compras em dezembro e janeiro, lembra o pecuarista goiano e presidente da entidade que representa os confinadores.

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