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Nesta semana: Brexit gera incerteza no petróleo; ouro segue de lado

21 out 2019, 18:35 - atualizado em 21 out 2019, 18:35
Outro calcanhar de Aquiles para o petróleo tem sido os dados econômicos decepcionantes que a China vem apresentando (Imagem: Pixabay)

Barani Krishnan/Investing.com

O movimento de vida ou morte do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, no Brexit deixou em pânico os investidores do petróleo nesta semana, bem como as incertezas com o crescimento econômico na China e rumores de que a Rússia estaria ignorando os cortes de produção estabelecidos pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

Já o ouro pode não se distanciar muito do patamar de US$ 1.500, graças ao suporte gerado pela determinação inicial do Reino Unido de deixar a União Europeia em 31 de outubro. Mas Johnson solicitou ao bloco mais um prazo de três meses, após seu plano de saída sofrer uma derrota parlamentar no sábado.

O primeiro-ministro tentará realizar outra votação no parlamento britânico nesta segunda-feira. Uma saída sem acordo, também chamada de “Hard Brexit”, pode ter graves consequências para os mercados de risco globais, inclusive para o petróleo, que teve dificuldade no último mês para romper o teto de US$ 55 por barril no petróleo norte-americano WTI e de US$ 60 no britânico Brent.

Limbo do Brexit pode trazer instabilidade para os ativos de risco como um todo

Uma saída sem acordo, também chamada de “Hard Brexit”, pode ter graves consequências para os mercados de risco globais (Imagem: Reuters/Peter Nicholls)

Fiona Cincotta, analista do forex.com, alertou, em uma nota, que “os ativos de risco como um todo podem sofrer instabilidade” com outra derrota acachapante no plano de divórcio do Reino Unido.

Outro calcanhar de Aquiles para o petróleo tem sido os dados econômicos decepcionantes que a China vem apresentando.

O crescimento do PIB da segunda maior economia do mundo derrapou para 6% nos três meses encerrados em setembro, uma queda em relação aos 6,2% do trimestre passado, segundo dados apresentados na sexta-feira. Trata-se do nível mais fraco desde que China começou a divulgar dados trimestrais em 1993.

Dados anêmicos na China continuam prejudicando o petróleo

O petróleo está preso em uma consolidação de US$ 5 após o ataque de 14 de setembro a instalações petrolíferas na Arábia Saudita (Imagem: Reuters/Jason Lee)

Dominick Chirichella, diretor de risco e negociação do Instituto de Gestão Energética, em Nova York, declarou:

“O mercado está ficando cada vez mais preocupado com a desaceleração econômica na China, pois isso pode derrubar o crescimento da demanda mundial de petróleo, haja vista que a China é o motor principal do crescimento da demanda petrolífera.”

O petróleo está preso em uma consolidação de US$ 5 após o ataque de 14 de setembro a instalações petrolíferas na Arábia Saudita.

No domingo, a Rússia diminuiu o já combalido apetite pelo risco no petróleo, ao admitir que havia produzido mais petróleo em setembro do que o previsto em seu acordo com a Opep, sua aliada no suporte de preços nos últimos três anos.

Jogo da Rússia com a Opep+ também está pesando sobre o mercado

Apesar de diversos membros da Opep já terem reclamado da prática seletiva da Rússia ao honrar o compromisso com a Opep no passado, a Arábia Saudita, líder do cartel, tem evitado criticar abertamente o país por causa disso (Imagem: Stefan Wermuth/Bloomberg)

A Rússia, a Opep e outros produtores de petróleo, em uma aliança conhecida como Opep+, concordaram, em dezembro, em reduzir a oferta em 1,2 milhão de barris por dia (bpd) a partir do início deste ano. Moscou afirmou, no fim de semana, que ultrapassou a cota de produção da Opep+ no mês passado, após um aumento na produção de condensados de gás durante sua preparação para o inverno.

Apesar de diversos membros da Opep já terem reclamado da prática seletiva da Rússia ao honrar o compromisso com a Opep no passado, a Arábia Saudita, líder do cartel, tem evitado criticar abertamente o país por causa disso, em vista da importância do papel de Moscou como aliado não membro.

Alguns analistas dizem que esse fato incentiva ainda mais a Rússia a agir como bem entender com a Opep, em prejuízo dos outros membros do grupo de 14 países.

Novo projeto entre Arábia Saudita e Kuwait pode disponibilizar mais barris indesejados

Para piorar a situação do petróleo, o Kuwait e a Arábia Saudita estão tentando retomar a produção de 500.000 bpd em campos operados conjuntamente pelos dois países na Zona Neutra.

A imprensa kwaitiana, citando fontes não identificadas, declarou que dois membros-chave da Opep haviam concordado em retomar a produção em campos petrolíferos na zona dividida por Arábia Saudita e Kuwait. O vice-ministro de relações exteriores do Kuwait vem descrevendo até agora as negociações sobre o projeto como “muito produtivas”.

Analistas, no entanto, não estavam tão animados com a possibilidade de os dois gigantes do Golfo aumentarem a oferta petrolífera em um mercado que mais uma vez enfrenta o fantasma da superprodução.

Stephen Innes, estrategista de mercado da AxiTrader, foi citado pela Reuters ao dizer: “Esses barris a mais não poderiam entrar no mercado em um momento mais inoportuno.”

Ouro pode permanecer próximo do nível de US$ 1.500

A commodity também se desvalorizou diante de sinais de que menos bancos centrais ao redor do mundo estariam dispostos a entrar em mais uma rodada de flexibilização monetária (Imagem: Michaela Handrek-Rehle/Bloomberg)

O ouro registrou ganho semanal, mas os investidores do ativo de segurança e aqueles que tradicionalmente acreditam na alta do metal ficaram de fora, permitindo que os preços recuassem antes da votação do Brexit na sexta-feira.

A commodity também se desvalorizou diante de sinais de que menos bancos centrais ao redor do mundo estariam dispostos a entrar em mais uma rodada de flexibilização monetária.

Na semana, tanto os contratos futuros de ouro quanto o lingote se valorizaram levemente, apesar de terem permanecido um pouco abaixo do importante limiar altista de US$ 1.500.