Na era Trump, imigrantes buscam espaço na política dos Estados Unidos
Pelo menos 100 imigrantes, de primeira e segunda geração, disputarão as chamadas eleições de meio-termo nos Estados Unidos (EUA) em novembro. O levantamento é da organização não governamental (ONG) New Americans Leaders (Nal, a sigla em inglês). Para a ONG, mais candidatos imigrantes estão na corrida deste ano em busca de espaços, como uma reação à rigorosa política de imigração de Donald Trump.
Com as medidas anti-imigração do atual governo, muitos candidatos se posicionaram em favor dos imigrantes, sobretudo dos sem documentos (ou indocumentados). De acordo com um relatório da Nal, esse movimento representa um “despertar” de certas minorias que não estavam politicamente tão ativas.
Nas eleições de novembro serão escolhidos 435 representantes na Câmara e no Senado norte-americanos, bem como governadores em 36 estados, deputados estaduais, prefeitos e vereadores.
Segundo a Nal, em 2015 somente 2% das vagas em eleições locais e estaduais foram ocupados por afroamericanos e latinos – os dois grupos mais populosos de minorias de primeira e segunda geração.
A busca por eleger candidatos locais ajuda a formar apoio na comunidade para eleições mais expressivas, como o Congresso e as majoritárias.
Um movimento semelhante em busca de maior participação também é observado, com a presença de mais mulheres candidatas este ano.
Sonhadores
Um exemplo de imigrante que se lançou candidata é o da estreante na política Catalina Cruz. Colombiana, ela vive nos Estados Unidos desde os 9 anos e agora é candidata a uma vaga à Assembleia Legislativa do estado de Nova York.
Catalina se autodenomina “dreamers” (sonhadora) – como são chamados os jovens que chegaram aos Estados Unidos com os pais, na infância, e viveram ou vivem ilegalmente no país.
Na campanha, voltada ao imigrante, Catalina conta que a mãe trabalhou como faxineira e babá, depois de deixar a Colômbia em busca de vida melhor para os filhos.
“Fui indocumentada por 13 anos, sei o que é ter medo de levarem sua mãe ou de ser deportado. Sei também que milhares, como nós, vieram para cá em busca de oportunidades e de trabalho”, afirmou, em um vídeo institucional de campanha divulgado no Facebook.
Catalina regularizou seu status migratório e tornou-se cidadã americana no ensino médio. Depois, formou-se em direito e, na campanha como candidata pelos Democratas, defende melhores condições para trabalhadores domésticos.
Novos protagonistas
Nomes progressistas também aparecem em destaque entre os Democratas. A jovem Alexandria Ocasio, 28 anos, venceu o deputado Joseph Crowley, que tentava uma candidatura à reeleição nas primárias democratas da semana passada em Nova York.
Crowley é um político tradicional dentro do partido e era cotado para líder democrata na Câmara. Candidato à reeleição, perdeu a chance de disputa ao ser derrotado internamente nas primárias por Alexandria Ocasio.
A jovem política, filha de portorriquenhos, representa uma ala mais à esquerda dentro do partido. Segundo a imprensa americana, ela faz parte de um grupo que tem bastante afinidade com o senador Bernie Sanders, de Vermont, ex-candidato à Presidência em 2016.
Há ainda representantes da comunidade islâmica no país. O candidato democrata para as eleições ao governo do Michigan é Abdul El-Sayed. Reconhecido como muçulmano, El-Sayed fez carreira no serviço público do estado e foi diretor do Departamento de saúde da cidade de Detroit.
Aos 38 anos, El-Sayed faz parte da primeira geração nascida nos Estados Unidos de uma família de imigrantes do Egito. Ele mantém a fé muçulmana e estudou em escolas públicas ao longo da vida escolar. Formou-se em medicina pela Universidade de Columbia e se especializou em saúde pública.
Em sua campanha, defende melhorias no ensino público do estado e o combate a desigualdades na atenção à saúde.
El-Sayed mostra, em comentários nas redes sociais, as dificuldades que encontra na campanha, ao ser atacado com manifestações negativas pelo fato de ser um muçulmano.
Enquanto democratas se articulam e lançam candidatos imigrantes, Donald Trump contra-ataca. Em junho, ele participou de vários “rallys”, como são chamados os comícios no país.
Apoiando candidatos republicanos nos estados, Trump fala diretamente ao seu eleitorado. Há dez dias, por exemplo, em Minnesota, o presidente americano afirmou que era preciso votar no partido para evitar que a oposição acabe com os planos de segurança que estão sendo trabalhados. “Democratas querem abrir a fronteira, para todo mundo vir”, afirmou.
Candidata brasileira
A brasileira naturalizada americana Renata Castro disputa uma vaga na Câmara Municipal de Margate, na Flórida. Em 2016, quase foi eleita e agora resolveu tentar novamente. “Como brasileira e americana, temos visto a necessidade cada vez maior do engajamento de etnias diferentes”, disse à Agência Brasil.
Renata, que também é advogada de imigração na Flórida, ressalta que a presença de minorias é comum dentro de poderes legislativos locais. “A grande verdade é que há necessidade da população, a gente precisa de representatividade”, destaca a candidata a vereadora.
Ela explica que, como o voto não é obrigatório nas eleições locais, os candidatos acabam batendo de porta em porta em busca de apoio. “A quantidade de votos varia conforme a de eleitores que vão às urnas. Mas aqui você sai com uma plaquinha com seu nome na rua, se apresenta e conversa com os eleitores, pelo voto”.