Importações

Na contramão do Brasil: Argentina muda regras de importação para ampliar acesso a produtos estrangeiros e combater a inflação – China agradece

22 nov 2024, 9:39 - atualizado em 22 nov 2024, 9:39
imposto de importação Argentina China Brasil
Medida elimina imposto de importação para compras até US$ 400 e amplia limite para US$ 3 mil por encomenda, enquanto compras internacionais no Brasil caem 50% no primeiro mês da “taxa das blusinhas”. (Imagem: iStock/Oleksii Liskonih)

O Natal dos argentinos pode ser mais internacional do que de costume. A partir de dezembro, eles terão um incentivo a mais para comprar produtos estrangeiros de uso pessoal: a isenção de imposto de importação para compras com valor igual ou inferior a US$ 400. A nova regra estabelecida pelo governo argentino também triplica o limite de compras por operação para indivíduos (de US$ 1 mil para US$ 3 mil).

De acordo com o Ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, a nova regra de importação tem por objetivo ampliar o acesso da população a preços mais competitivos.

“Com estas medidas, estamos dando a oportunidade a milhões de cidadãos de escolher o que querem comprar e onde, de frente para as festas, recebendo os produtos na porta de casa e buscando ampliar a oferta para todos”, escreveu em suas redes sociais.

Segundo o porta-voz do governo argentino, Manuel Adorni, as novas regras de importação beneficiam principalmente setores ligados a tecnologia e indústria têxtil, cujos produtos estão na lista das principais aquisições online dos argentinos.

Brasil x Argentina: “taxa das blusinhas” derruba compras internacionais

As novas medidas na Argentina vão na contramão do governo brasileiro, que decidiu taxar em 20% as compras internacionais de até US$ 50 em agosto deste ano. Até então, compras nesse valor pagavam apenas o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), com alíquotas entre 17% e 19%, que se manteve inalterado.

A “taxa das blusinhas”, como ficou popularmente conhecida no país, tinha como objetivo aumentar a arrecadação do governo, mas provocou uma queda de 50% nas importações já no primeiro mês da taxação.

De acordo com um relatório do Santander, com base em dados do Remessa Conforme, programa do governo responsável pela taxa, o volume de importações saiu de R$ 1,8 bilhão em julho para R$ 902 milhões em agosto. Em setembro, houve um leve aumento de 4,4% em relação ao mês anterior, chegando a R$ 942 milhões – número ainda muito distante do patamar pré-imposto.

Pragmatismo geopolítico a la Milei: China passa de pária a “parceira comercial interessante” em menos de um ano

Além de beneficiar economicamente grandes plataformas de e-commerce chinesas como Alibaba e Shein, a eliminação do imposto de importação pode ser entendida pela perspectiva geopolítica mais ampla.

O presidente argentino, Javier Milei, vem buscando estreitar as relações com a gigante asiática, numa clara mudança de posicionamento em relação ao seu discurso durante a campanha à presidência no ano passado.

Se em 2023 Milei afirmava que não faria negócio com o país, considerado comunista, hoje ele se refere à China como uma “parceira comercial interessante” e planeja uma visita em 2025.

Segundo especialistas, trata-se de uma postura pragmática de Milei: a China é uma fonte de recursos fundamental para o país, que ainda enfrenta uma grave crise financeira. Em junho desse ano, Milei renovou um acordo de swap cambial com o país asiático no valor de US$ 5 bilhões (35 bilhões de yuans), por 12 meses. Parte desse montante é usado pelo governo argentino para pagar a dívida com o FMI.

Além disso, a China é a segunda maior parceira comercial da Argentina, atrás apenas do Brasil. As exportações para o país asiático corresponde a 8,5% do total; de janeiro a setembro deste ano, os argentinos exportaram US$ 5 bilhões para os asiáticos, o que representa uma alta de 24,6% em relação ao mesmo período de 2023.

*Com informações do Diário do Comércio, Clarín e G1

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Mãe, socióloga e eterna aprendiz. Por mais de 15 anos, trabalhei com análise, fortalecimento e desenvolvimento de políticas públicas de respeito e promoção de direitos fundamentais no Brasil e nos EUA. Depois de um sabático de 6 anos dedicados à maternidade, fiz transição de carreira para o mercado financeiro, atuando nas áreas de comunicação interna, DEI, employer branding e cultura organizacional. Sou Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo e Mestre em Estudos Latino-Americanos e Caribenhos pela New York University.
bruna.vogel@empiricus.com.br
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