Internacional

Na Argentina, crise já ressuscita Kirchner; Sem reforma, Brasil abre caminho para volta do PT?

29 abr 2019, 12:08 - atualizado em 29 abr 2019, 12:10
Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirmou na semana passada que, sem a reforma da Previdência, o Brasil pode passar por uma crise econômica semelhante à enfrentada atualmente pela Argentina. O que o político não falou, contudo, é que esta ruína abriu o espaço para um possível retorno da ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner.

O país vizinho passa por uma forte desvalorização da sua moeda, inflação alta e baixo crescimento econômico. A Argentina está “pagando a conta” por não ter feito o ajuste fiscal necessário para melhorar a economia.  O presidente argentino Maurício Macri, em um movimento emergencial, criou um novo plano econômico que prevê o congelamento dos preços de 60 produtos da cesta básica e a manutenção das tarifas de eletricidade e telefone celular.

Haverá também desconto de até 70% em remédios populares e incentivos para pequenas e médias empresas.

“A ampla liquidação dos ativos argentinos na última semana, desencadeada por crescentes riscos políticos, resultou em um agudo aperto nas condições financeiras, o que pesará no crescimento econômico do país. próximos trimestres”, argumenta o economista para América Latina da Capital Economics Edward Glossop.

Indicador de condições financeiras da Capital Economics mostra o forte estresse econômico

O peso argentino se enfraqueceu em aproximadamente 10% contra o dólar nos últimos 10 dias. O prêmio para o CDS (Credit Default Swap), um tipo de seguro contra calotes da dívida, disparou e os juros para os papéis locais e externos também. A taxa de juros interbancária saltou 300 pontos-base.

(Wilson Dias/Agência Brasil)

Ele calcula que o recente estresse financeiro indica um ritmo de destruição do PIB entre 6% e 7% ano a ano nos próximos trimestres. “Mais preocupante, existe agora um risco real de formação de um loop potencialmente tóxico, no qual a fraca atividade econômica e os riscos políticos se tornam auto-realizáveis”, destaca.

A fraca atividade econômica poderia pesar ainda mais no índice de aprovação do Presidente Mauricio Macri e impulsionar as perspectivas eleitorais de seu predecessor populista (e anti-FMI), Cristina Fernández de Kirchner, ressalta o economista. “Isso, por sua vez, faria com que as condições financeiras se tornassem ainda mais rígidas e mantivessem a economia extremamente fraca”, conclui.

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Volta do PT?

Por aqui, a analogia é inevitável. O Brasil vive um momento decisivo para a aprovação da reforma da Previdência. Na Câmara, a Comissão Especial inicia os seus trabalhos no próximo dia 7, às 14h30. Enquanto o governo propõe uma economia de cerca de R$ 1,25 trilhão nos 10 anos entre 2020 e 2029, os economistas já trabalham com um nível entre R$ 670 e R$ 990 bilhões.

E o prazo de aprovação? A ideia inicial do governo de conseguir a reforma na volta do recesso, em torno de agosto, já era, e o mercado tem empurrado essa estimativa para o final do ano.

Enquanto isso, a projeção para a economia brasileira, colhida com 73 economistas pelo Banco Central, caiu pela 9ª vez consecutiva, mostrou o relatório Focus publicado nesta segunda-feira (29). O primeiro levantamento do ano, publicado no dia 4 de janeiro, mostrava a expectativa de 2,53% para 2019. Esta estimativa já foi tolhida em 0,83 ponto percentual, ou seja, 32% do que era projetado.

No lado político, a aprovação do presidente da República, Jair Bolsonaro, ainda continua elevada, mas está em tendência de baixa. Um levantamento realizado pelo Estadão nesta segunda-feira (29) com base nas pesquisas do Ibope mostra que o apoio ao governo caiu mais entre segmentos da população que resistiram a abraçar sua candidatura: entre nordestinos e eleitores com baixa escolaridade e renda.

Isso tudo em um momento em que Lula voltou ao noticiário. Em entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo e ao El País, o ex-presidente afirmou que o Brasil está sendo governado por “um bando de maluco”.

Sobre Bolsonaro, o ex-presidente não foi taxativo. Apesar de várias críticas, afirmou que “ou ele constrói um partido sólido, ou não perdura”. “O que não pode é esse país estar governado por esse bando de maluco que governa o país. O país não merece isso e sobretudo o povo não merece disso”, disse Lula à Folha.

Em resposta, Bolsonaro comentou: “Olha, eu acho que o Lula, primeiro não deveria falar. Falou besteira. Maluco? Quem é do time dele? Grande parte está presa, está sendo processada. Tinha um plano de poder, onde finalmente nos roubaria a liberdade”, disse Bolsonaro.

Ainda é cedo, claro, para falar sobre um retorno da esquerda ou do PT ao comando do Brasil. Quer tentar a sorte? É só não aprovar a reforma da Previdência.