Mundo vive bolha financeira? 4 veteranos de Wall Street respondem
O Federal Reserve pode estar preocupado com a euforia especulativa em torno das criptomoedas, empresas de cheque em branco e ações meme, mas muitos em Wall Street veem riscos de bolha cada vez maiores em todos os ativos sistemicamente importantes.
Títulos europeus, Treasuries, dívida de alto rendimento e ações de tecnologia são negociados perto dos maiores preços em décadas, mesmo com a ameaça de que o bicho-papão da inflação finalmente evapore os ganhos.
Participantes do mercado como Goldman Sachs e BlackRock estão divididos sobre se isso constitui um rali insustentável. Para Dan Fuss, o lendário vice-presidente da Loomis Sayles, de 87 anos, parece que sim, devido à liquidez sem precedentes que agora deve ser reduzida com as boas notícias econômicas.
Kathy Jones, da Charles Schwab, recomenda que os clientes tenham cuidado com a “maluquice” dos títulos de dívida de alto risco. E Bob Michele, da JPMorgan Asset Management, diz que as autoridades do Fed deveriam discutir a redução das compras de ativos a tempo, antes da formação de bolhas.
Outros são mais otimistas e apostam que a reabertura econômica e o ciclo de realavancagem abrirão caminho para mais ganhos.
As entrevistas foram editadas.
Dan Fuss, vice-presidente do conselho, Loomis Sayles
“Estamos em território de ‘bolha’. É principalmente uma bolha de liquidez, combinada com a distorção resultante dos valores. Ações com alta relação preço/lucro, títulos de crédito marginais e veículos agrupados são os mais vulneráveis. Nas décadas de 1960 e 1970, tive a sorte de detectar a pequena bolha de valores de small caps e a bolha de ações de crescimento. A semelhança entre aquela época e agora é o valuation. Esta é uma bolha de liquidez única em minha experiência. Quando os preços caem um pouco, pode haver, como ocorreu em março passado, uma queda maior da liquidez, gerando mais vendas. Isso pode desestabilizar o mercado mais amplo.”
Kathy Jones, estrategista-chefe de renda fixa, Charles Schwab
“Estamos alertando as pessoas para não exagerar. Estamos dizendo que tudo bem manter dívida de alto rendimento, mas sem uma posição concentrada na ponta final e perceber que isso pode mudar muito rápido. É quando a diversificação realmente ajuda, quando as coisas estão meio malucas como agora, e você não sabe quando a maluquice vai acabar.”
Elga Bartsch, chefe de pesquisa macro, BlackRock
“Os mercados não estão em território de bolha, mas sim em um terreno atípico, pois estamos em um reinício econômico, não em uma recuperação regular do ciclo de negócios. Para que o Fed atue mais rápido do que o indicado pelos preços de mercado, precisaria basicamente abandonar sua nova estrutura de política, que adotou apenas em agosto passado. Consideramos isso improvável e vemos um aumento dos juros mais tarde do que o mercado. Uma pré-condição para o surgimento de bolhas é o acúmulo de desequilíbrios financeiros. Antes da Covid-19, havia poucos indícios de tais desequilíbrios. Desde então, os balanços do setor privado ficaram mais fortes, não mais fracos.”
Peter Oppenheimer, estrategista-chefe de ações globais, Goldman Sachs
“Existem focos de otimismo exagerado e valuations excessivos das ações. Mas o principal é se isso é amplo o suficiente em sua manifestação para se tornar sistematicamente arriscado. Eu diria que ainda não há uma forte evidência disso. Podemos ter múltiplos altos, mas não são tão altos quando você considera onde estão as taxas de juros. Não temos grande alavancagem no setor privado. Descobrimos que a alavancagem do setor privado é um fator muito comum de bolhas financeiras. As famílias têm poupanças muito fortes e não têm níveis elevados de alavancagem. Isso também é válido para os bancos. Esperamos que o crescimento global acelere bastante e de forma sincronizada. Estamos com recomendação acima da média em ações e commodities e abaixo da média em títulos.”