Mundo do futebol ressalta polarização em meio a embate Lula x Bolsonaro
Poucos dias antes do primeiro turno da eleição presidencial, um vídeo de 13 segundos publicado no TikTok gerou enorme entusiasmo entre os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL): era o atacante da seleção brasileira Neymar declarando apoio ao candidato à reeleição.
Postado em 29 de setembro, o vídeo mostrava Neymar dançando um jingle de Bolsonaro com destaque para seu número na urna, e o presidente não demorou a compartilhá-lo nas suas próprias mídias sociais e incorporá-lo à campanha.
Na publicação, o atacante do Paris Saint-Germain não se alongou em declarações, limitando-se a dublar a música. Mas isso foi suficiente para que outros astros do futebol também entrassem na onda e fizessem posts semelhantes, entre eles Thiago Silva e Daniel Alves.
Sem mencionar o presidente diretamente, ambos destacaram slogans bastante conhecidos de Bolsonaro — alguns, muito populares especialmente entre os evangélicos, que apoiam massivamente a reeleição do atual mandatário. Muitos atletas no Brasil também são evangélicos.
“Tem um slogan que eu amo, que eu sou apaixonado”, disse Alves, citando a frase “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, um dos mantras do presidente.
Bolsonaro ficou atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno da eleição presidencial, mas por uma margem menor do que a projetada por diversas pesquisas. O segundo turno entre ambos acontece no próximo dia 30.
Nas redes sociais, as manifestações de jogadores têm reforçado a crescente ideia de que muitos dos craques atuais se inclinam politicamente para a direita.
O jornalista esportivo Juca Kfouri acredita que o movimento tem relação com a própria história de vida dos jogadores. Ele destaca que a maior parte dos astros do futebol no Brasil vem de classes excluídas e ascende socialmente por meio dos próprios talentos.
“Eles repetem o discurso autoritário da meritocracia”, disse Kfouri, que declarou apoio a Lula na atual disputa. “O atleta em geral é alguém muito voltado a si mesmo, para aproveitar o período da sua carreira. Estão muito pouco envolvidos com questões sociais, eles estão entre suas famílias e seus parceiros.”
O antropólogo Roberto DaMatta também destaca o futebol como importante instrumento de ascensão social no Brasil, mas acredita que sem uma pesquisa profunda é difícil chegar a uma conclusão satisfatória e precisa sobre as preferências políticas dos jogadores.
“É uma resposta mais especulativa”, disse.
“ESTAMOS DO MESMO LADO”
O vídeo de Neymar já foi assistido cerca de 60 milhões de vezes apenas na conta oficial de Bolsonaro no Instagram.
Ao compartilhá-lo, o presidente relacionou sua possível reeleição ao hexacampeonato mundial que a seleção tentará conquistar este ano no Catar.
No sábado, o craque do PSG participou de uma transmissão ao vivo para reiterar seu apoio a Bolsonaro.
“O que me motivou… de expor a minha opinião são os valores que o presidente carrega, são bem parecidos comigo, com minha família, com tudo o que gente preza”, disse Neymar.
Antes de Neymar, nomes como Lucas Moura (meio-campista do Tottenham) e Felipe Melo (volante do Fluminense) já haviam expressado apoio a Bolsonaro.
O vídeo do camisa 10 da seleção no TikTok, porém, desencadeou uma reação ainda mais ampla, incluindo declarações de apoio de ex-jogadores como Rivaldo, campeão do mundo em 2002, e Júlio César, ex-goleiro da Inter de Milão.
“Neymar, estamos do mesmo lado mais uma vez”, escreveu Júlio César.
LADO DE LULA
Do outro lado do campo político, Lula também conseguiu reunir apoios de astros do futebol, mas com destaque principalmente para ex-atletas que lutaram ao lado do ex-presidente contra a ditadura militar nos anos 1980, como o ex-atacante e hoje comentarista Walter Casagrande Junior.
“Eu não sou esquerda radical, eu sou pela democracia… E neste momento, a opção de sobrevivência social do Brasil está nas mãos do Lula”, disse Casagrande em entrevista à Reuters.
“Eu só peço (para os jogadores que apoiam Bolsonaro) argumento, e eles não têm argumento, porque não dá para ter”, acrescentou. “Nós estamos vivendo num caos. O governo Bolsonaro está destruindo o país.”
O ex-técnico da seleção Vanderlei Luxemburgo, o ex-meio-campista Juninho Pernambucano e o campeão mundial em 1994 Raí também estão entre os apoiadores de Lula.
Raí é irmão de Sócrates, ícone da luta contra o regime militar e um dos fundadores –ao lado de Casagrande– da Democracia Corinthiana. Na última segunda-feira, ao apresentar um prêmio social que recebeu o nome de Sócrates na cerimônia da Bola de Ouro, Raí fez um sinal de “L” com a mão e disse que todos sabem de que lado seu irmão, morto em 2011, estaria.
Entre jogadores atuais, o atacante Paulinho, do Bayer Leverkusen, e o lateral Igor Julião, ex-Fluminense e atualmente no Vizela, estão entre os poucos que explicitaram apoio a Lula.
Com uma eleição tão polarizada às vésperas de uma Copa do Mundo, emerge a questão sobre se a preferência política dos jogadores pode afetar a torcida de parte da sociedade para a seleção no Catar.
Juca Kfouri duvida: “na hora que a bola começa a rolar, o povo esquece disso.”
Já Casagrande não tem tanta certeza.
“Eu acho que o impacto do resultado vai ser avassalador na sociedade brasileira, e futebol e torcida estão dentro desse pacote”, afirmou o ex-centroavante, que participou da Copa do Mundo de 1986.
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