Multimercados têm perdas de até 12,9% em dois meses; investidores resgatam

Por Arena do Pavini – Os fundos multimercados sofreram em maio e junho por conta da piora dos mercados brasileiros. A alta forte do dólar, muito mais que o esperado pelos analistas, e seu impacto nas taxas de juros provocaram perdas em dois dos principais ativos desses fundos. A subida dos juros, especialmente depois de o Comitê de Política Monetária (Copom) surpreender o mercado mantendo a taxa básica em 6,5%, depois de sinalizar que a reduziria para 6,25%, pegou de surpresa gestores que haviam alongado os prazos de suas aplicações em títulos do governo ou em contratos futuros de DI na B3.

Ao tentar sair dessas posições, muitos gestores não conseguiram encontrar compradores para os papéis, o que acentuou a alta dos juros desses títulos e as perdas, levando o Tesouro Nacional e o Banco Central a anunciar leilões de recompra de títulos e de venda de papéis com compromisso de recompra para normalizar os mercados. Ao mesmo tempo, o dólar não parou de subir, apesar das contas externas brasileiras continuarem equilibradas e do elevado volume de reservas internacionais afastarem o risco de crise cambial.

Estudo feito pelo Portal do Pavini usando a ferramenta de análise de fundos de investimento da Economatica mostra perdas de até 12,89% acumuladas em maio e junho, reduzindo os ganhos no ano ou até transformando-os em prejuízos. As perdas são proporcionais aos riscos assumidos pelos fundos, como mostra o indicador Value at Risk (VaR), que mostra a perda potencial da carteira por ano. Os fundos com maiores perdas são os que têm VaR mais alto, acima de 10%.

Grandes gestores têm perdas

Mesmo os grandes gestores de multimercados não escaparam do prejuízo nos últimos dois meses. Além do Ibiuna Long Biased, que lidera as perdas, o Safra Galileo tem perda de 7,27% entre maio e junho. O Adam Macro, da Adam Capital, perde 5,5%. E nem o Verde, maior multimercado do país, do respeitado gestor Luís Stuhlberger, escapou das perdas, com -1,52% em dois meses, apesar do ganho de 0,29% em junho.

Os dados mostram que muitos fundos tiveram perdas menores em junho, o que indica que os gestores ajustaram as carteiras ao novo cenário mais negativo. Alguns conseguiram até mesmo ganhos no mês passado, mostrando a capacidade dos gestores em reagir às mudanças de cenário. Mesmo assim, muitos fundos registraram resgates líquidos em junho, o que indica que os investidores se assustaram com as perdas, abrindo mão de uma possível recuperação.

Entrou e perdeu

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A situação mais delicada é do investidor que entrou nesses fundos em abril, depois da época da bonança, animado com os resultados dos meses anteriores e pelas campanhas de vendas de corretoras, gestores e bancos. Esse investidor, em geral menos preparado, pegou apenas a reversão do mercado. Para ele, será mais difícil recuperar as perdas. Até porque muitos gestores reduziram suas posições de risco, ou seja, se o mercado voltar ao cenário positivo, o ganho será menor.

O que vem a seguir

Daqui para frente, diante dessa redução do risco, a expectativa é de que os multimercados tenham oscilações menores, e busquem mais ganhos de curto prazo. Portanto, a qualidade do gestor será ainda mais importante. Perdas são normais em fundos que aplicam em renda variável e mesmo em renda fixa, desde que proporcionais ao risco que o gestor se propõe a correr e dentro de sua estratégia. Por isso, o ideal é que o investidor veja os multimercados como uma classe de ativos para diversificação de longo prazo, e não apenas para tirar proveito no curto prazo, já que o risco é grande. Com a queda dos juros, ter um gestor buscado ganhos extras é vantajoso.

Abaixo, os 50 fundos com maiores perdas em maio e junho. Os dados incluem a captação em junho e a rentabilidade apenas no mês passado, bem como no ano, em um e dois anos.