Mulheres são mais conservadoras com seus investimentos?
Por Carol Sandler, sócia da Ella’s Investimentos
Um dos maiores mitos do mercado financeiro é semelhante a uma das perguntas mais famosas da história da publicidade brasileira: Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais? Refiro-me aqui à velha história de que as mulheres são investidoras conservadoras.
Parece impossível saber o que é causa e o que é consequência. Afinal de contas, levantamentos mostram que os investimentos favoritos das mulheres são a caderneta de poupança, imóveis e previdência privada. “Conservadoras por natureza” – é o que dizem por aí.
Mas que natureza? Fica difícil falar sobre “impulsos naturais” quando sabemos que as mulheres começaram a lidar com dinheiro e a investir há pouco tempo, em termos históricos. Foi apenas no final dos anos 1960 que as mulheres brasileiras tiveram direito a ter seu próprio CPF e sua conta bancária, sem precisar de autorização do pai ou do marido.
No caso, então, a dúvida é um pouco diferente: as mulheres escolhem aplicações com pouco risco porque são conservadoras, ou por que têm pouco conhecimento sobre investimentos?
Existe sim uma preferência entre as mulheres por investimentos que apresentem menos riscos. No entanto, uma série de estudos mostra que na realidade, mulheres e homens possuem estilos de investimento diferentes. Elas tendem a aplicar de olho no longo prazo e não trocam de posição com tanta frequência quanto eles. Elas são de fato mais avessas a risco e não são tão vítimas das modas do mercado (alô, bitcoin). Elas estudam e pesquisam mais, e por isso têm mais confiança nas suas posições. O resultado? Maior performance no longo prazo.
Por que então a fama de conservadora?
O problema tem duas raízes entrelaçadas: a forma como enxergam o risco e o nível de conhecimento sobre investimentos e finanças pessoais. As mulheres encaram o risco de forma exagerada e, por um desconhecimento e exagero na percepção de risco, optam pelas aplicações mais conservadoras.
O medo de perder todo o capital investido, mesmo nas aplicações mais conservadoras, funciona como uma lente de aumento na avaliação de risco. Como não entendem tanto sobre o assunto, elas tendem a procurar alternativas com a maior segurança possível.
A primeira vez que vi isto na prática foi quando recebi um e-mail de uma leitora que me pediu ajuda para começar a investir. Ela disse que sabia que a poupança não rendia quase nada, mas tinha medo de aplicar na bolsa e perder tudo, então a saída encontrada por ela foi deixar o dinheiro parado na conta corrente.
Ela foi de um extremo a outro do mercado financeiro sem ver que existe uma imensidão de alternativas. Renda fixa, renda variável, fundos multimercados. Fundos imobiliários. COEs. E tantas outras opções disponíveis.
Eu acredito que investir é como andar de bicicleta – algo que a gente só aprende na prática. E foi isso que disse a ela. Que ela precisava entender que existem dezenas de alternativas, cada uma adequada para um perfil de risco e objetivos diferentes. Conhecimento é poder. Quanto mais ela começasse a ler sobre o assunto, a falar e perguntar, mais ela se sentiria confortável para começar a investir com segurança e garantir retornos melhores.