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Mulheres que planejam empreender ainda se deparam com obstáculos

05 dez 2020, 14:33 - atualizado em 05 dez 2020, 14:33
Comércio
O enfoque do estudo consiste na desigualdade entre brancos e negros durante a pandemia de covid-19 (Imagem: Rio de Janeiro)

Para escapar do desemprego, que atingiu o maior nível da história no terceiro trimestre deste ano, muitas brasileiras decidem apostar no empreendedorismo.

Porém, enfrentam diversos obstáculos, que, em sua maioria, têm origem cultural, segundo avaliam especialistas ouvidas pela Agência Brasil.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa recorde de desemprego foi de 14,6%, sendo a maior registrada desde 2012.

Apesar de o dado ser expressivo por si só, verifica-se através dele uma diferença importante, que diz respeito ao gênero de trabalhadores. Enquanto entre os homens o índice foi de 12,8%, sobe para 16,8%, entre mulheres.

Apesar do desejo de tocar o próprio negócio, as mulheres ainda sentem constrangimento ao solicitar empréstimo aos bancos, como revela a pesquisa O Impacto da Pandemia do Coronavírus nos Pequenos Negócios, elaborada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV).

Na avaliação de Marisa Cesar, CEO do Grupo Mulheres do Brasil, que promove diversas ações de incentivo ao protagonismo feminino, as mulheres são ensinadas a duvidar de seu potencial, o que resulta em uma falta de confiança que não é tão percebida em homens, já que eles são estimulados a confiar em suas habilidades e projetos.

“Muitas vezes, essa mulher [que pretende abrir um negócio] vai deixar de pedir um valor maior, para não passar vergonha de, de repente, o score dela não ser de acordo com o valor que ela está contando como crédito. Ela prefere pedir valor menor, para não passar vergonha, como se fosse ficar um carimbo nela. Isso é interessante, porque o homem, ele pede o que tiver que pedir e, se não der, paciência. É toda uma questão de como somos educadas, por conta do machismo”, diz a CEO.

Para Marisa Cesar, as mulheres que buscam empreender apresentam demandas distintas, que variam de acordo com seu perfil.

Ela explica que é comum que algumas delas necessitem de capacitação e orientação para saber como fazer o marketing de seu produto ou serviço e que devem separar as finanças pessoais do dinheiro que destinam ao negócio.

Por outro lado, pontua Marisa, mulheres com uma condição socioeconômica melhor também encontram percalços pelo caminho, devido ao machismo, embora disponham de mais recursos. “A gente já assistiu a muitas cenas em que ocorre um divórcio e o marido acaba pegando o negócio dela e levando embora com ele”, relata.

Marisa afirma ainda que as mulheres negras têm “o dobro ou o triplo” de receio ao seguir em sua jornada, em virtude da opressão que vai além do machismo e passa também por uma segunda, a do racismo.

Levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) confirma que a taxa de desocupação dessa parcela, em específico, superou a de qualquer outro grupo populacional, no primeiro e segundo trimestres deste ano, chegando a 17,3% e 18,2%, respectivamente.

O enfoque do estudo consiste na desigualdade entre brancos e negros durante a pandemia de covid-19.

De forma geral, as empreendedoras também têm tido mais dificuldade para se recuperar, o que pode ser relacionado ao comportamento normalmente assumido diante das instituições de crédito.

Em outubro, 77% das empreendedoras ainda registravam perda de faturamento, contra 73% dos homens ouvidos pela pesquisa. Seis meses antes, em abril, a porcentagem era de 89% em ambos os grupos.

Apesar disso, evitaram repassar os prejuízos aos funcionários, como sugere estudo assinado pelo Sebrae e o Banco Mundial, divulgado em meados de novembro.

Elas também demonstraram mais disposição para adotar protocolos sanitários recomendados e para aderir a políticas públicas de mitigação de impactos da crise. A pesquisa compreendeu 1.677 micro e pequenas empresas do estado de São Paulo.

“Elas demitiram na mesma quantidade dos homens, mesmo tendo impacto maior no faturamento. Isso nos traz olhares de que o estilo de gestão talvez seja um pouco diferente e de começar a colocar que elas são mais resilientes e até mais cuidadosas com o outro”, diz a coordenadora de pesquisas do Sebrae-SP, Carolina Fabris, que pontua também que as mulheres acabam gastando mais tempo com afazeres domésticos do que homens, o que pode afetar o desempenho do negócio do qual estão à frente.

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