Agronegócio

Muito ‘hedgeado’, café fica atento ao impacto no sistema financeiro da briga EUA-China

02 ago 2019, 15:21 - atualizado em 02 ago 2019, 15:29
Sem influência direta da guerra comercial, café espera chineses tomarem a bebida (Imagem: Pixabay)

O café é um dos produtos agropecuários que não sentem impacto direto pelo agravamento da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Na medida em que não figura nas relações comerciais entre as duas potências, bem como os chineses estão longe de ter um consumo per capita minimamente digno do Ocidente e, portanto, compram muito pouco do Brasil, não há fundamentos próprios atrelando o negócio à crise, como na soja, por exemplo.

De maneira indireta, sim, pode a commodity sofrer alguma volatilidade na esteira do sistema financeiro. E aqui não entra somente a questão sino-americana, ampliada pela taxação de 10% sobre US$ 300 bilhões em produtos chineses, mas também a queda dos juros nos Estados Unidos (25 pontos-base) determinada pelo Federal Reserve (FED).

Para um setor exportador que mais faz hedge em câmbio (além de em volumes) em suas operações e arbitragens entre mercados futuro e de opções, não deixa de ser importante monitorar a situação, como já lembrou aqui em Money Times (17/7), Lúcio de Araújo Dias, superintendente comercial da Cooxupé.

“Ontem tivemos uma alta do dólar índex e no Brasil em 1% e nesta sexta (2) também está em alta, de modo que essas oscilações mexem sempre com as operações contratadas”, analisa o executivo da maior cooperativa e exportadora brasileira de café.

Há também em jogo os preços do café negociado em Nova York. Com a possibilidade de fuga dos derivativos para ativos mais seguros, como dólar e ouro, pode haver alguma influência no curto prazo, explica Marcus Magalhães, CEO da Maros Corretora.

Mas o analista de café de Vitória (ES) estima que se ocorrer é movimento pontual, de curto prazo, até dadas as condições da economia dos Estados Unidos, “até porque tudo isso é jogo de cena do Trump visando ganhos eleitorais nas eleições presidências de 2020”.

A queda dos juros no mercado americano, determinada pelo FED na quarta, que desincentiva a migração de mais recursos para Títulos do Tesouro (outro ativo real muito procurado em tempos de crises), tem base na confiança econômica do país.

O que também foi visto hoje com a divulgação do payroll, mostrando estabilidade no nível já baixo de desemprego.

“E uma tendência de que no mínimo os juros se manterão baixos nos níveis de atuais”, aponta Araújo Dias.

Janela chinesa

O agravamento da crise comercial pode dar oportunidades para o café brasileiro, mesmo com o possível prejuízo à economia chinesa, e a consequente queda das suas compras globais.

A opinião de Marcus Magalhães, da Maros, é de que a China poderia ampliar as compras brasileiras de um modo geral, inclusive com as últimas declarações de autoridades dos dois países animadas com o incremento das relações comerciais.

Ainda que os ganhos maiores serão da soja e carnes, o café, segundo o analista e corretor, deveria entrar na lista de pedidos do governo brasileiro junto às autoridades chinesas.

Mesmo que os chineses tivessem que se adaptar a um hábito de consumo da bebida, uma pequena parcela da população que substituísse o chá de vez em quando, já seria uma janela bastante significativa.

Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
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