Brasil

Mudança na Lei das Estatais poderia ser barrada pela legislação eleitoral?

23 jun 2022, 21:33 - atualizado em 24 jun 2022, 13:41
Petrobras
Petrobras (PETR4): alas do governo incentivam uma mudança na Lei das Estatais (Imagem: Money Times/Petrobras)

A novela da Petrobras (PETR4) ganhou um novo capítulo após o anúncio, na última sexta-feira (17), de um novo ajuste no preço dos combustíveis no Brasil.

Repercutindo o aumento de 5,18% na gasolina e 14,26% no diesel, alas do governo se uniram para pressionar o presidente da República Jair Bolsonaro (PL) a realizar uma alteração na Lei das Estatais.

O objetivo final seria flexibilizar normas para a nomeação de cargos em empresas estatais e de economia mista para, assim, ter mais facilidade em articulações corporativas na Petrobras que possam ajudar a diminuir o preço nas bombas no Brasil.

Há menos de 3 meses das eleições, recai a dúvida se uma eventual mudança da lei por parte de Bolsonaro poderia ser barrada por instrumentos jurídicos, como a legislação eleitoral.

Antônio Carlos Freitas Júnior, especialista em Direito público e Constitucional, explica que não é a alteração da lei em si que pode causar problemas para Bolsonaro com a Justiça Eleitoral, e sim as consequências da eventual alteração.

“Não há vedação formal e tecnicamente pode-se mudar a lei. Mas, a repercussão eleitoral pode vir se houver uma mudança grande nas estatais, que podem se enquadrar como abuso de poder político“, diz.

O jurista esclarece que o abuso de cargos públicos em empresas de economia mista e em estatais podem causar inegebilidade, o que é respaldado tanto pela Constituição quanto pelo Código Eleitoral.

Constitucionalmente, um mandato poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral se comprovado abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.

Já na legislação eleitoral, está disposto que a constatação de uma interferência do poder econômico e o desvio ou abuso do poder de autoridade, em desfavor da liberdade do voto, pode anular uma votação.

O jurista também cita a Lei da Inegebilidade, que pune o uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade.

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“Briga teatral”

Mas nem mesmo uma alteração na Lei das Estatais e, com isso, uma alteração nos cargos da Petrobras, resolveria o problema de Bolsonaro, segundo Júnior.

O jurista explica que, para além da legislação, a alta no preço dos combustíveis está também atrelada a questões orçamentárias do Estado, direitos do acionista minoritário e flutuações na economia internacional.

“O presidente não quer ganhar a briga, ele quer botar a culpa e criar inimigo comum. Nem mesmo se ele nomeasse o conselho inteiro da Petrobras, ele iria resolver o problema, pois a causa não está na lei. Está no contexto econômico. A Petrobras não vai conseguir mudar a legislação comercial internacional e não vai conseguir mudar as leis naturais da economia”, afirmou.

E toda a disposição mostrada pelo presidente em abaixar o preço dos combustíveis tem sido vista como pouco efetiva por analistas.

Para Rafael Cortez, cientista político e sócio da consultoria Tendências, Bolsonaro parece mais propenso a pressionar por seus discursos do que por suas ações.

“Apesar de toda essa retórica pesada, olhando para a Petrobras, o presidente parece pouco disposto a dar encaminhamentos legislativos. Seja para mudar a PPI, seja para mudar a relação da União com as estatais, existe mais conforto em causar pressão do que de fato construir política pública”, disse.

O analista pontua que, para o presidente, fica cada vez mais difícil equilibrar todos os seus objetivos  ao mesmo tempo, como alcançar a reeleição, evitar rupturas institucionais e recuperar o ambiente econômico.

“A retórica só gera a ideia de que o presidente está fazendo tudo o que é possível, retirando-o da responsabilidade. Mas não gera bem estar para a população”, afirmou.

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