MP-MG vai denunciar Vale, TÜV SÜD e 16 pessoas por crimes após desastre de Brumadinho
O Ministério Público do Estado de Minas Gerais apresentará na tarde desta terça-feira denúncia contra a mineradora Vale (VALE3), a empresa alemã de inspeções e certificações TÜV SÜD e 16 pessoas por crimes associados ao rompimento de uma barragem em Brumadinho (MG) em janeiro do ano passado.
A informação foi publicada pelo MPMG em sua conta oficial no Twitter, na qual os procuradores afirmaram que detalhes sobre a denúncia devem ser divulgados ainda nesta terça-feira.
O #MPMG apresenta na tarde desta terça-feira, 21, #denúncia contra as empresas Vale e Tüv Süd e contra 16 pessoas por crimes decorrentes do rompimento da Barragem I da Mina Córrego do Feijão, em #Brumadinho, no dia 25 de janeiro, que vitimou 270 pessoas. pic.twitter.com/jKCgopK0Re
— MPMG (@MPMG_Oficial) January 21, 2020
O rompimento da barragem, que era operada pela Vale e teve a segurança certificada pela alemã TÜV SÜD, deixou 259 mortos confirmados, além de atingir rios, mata e comunidades da região. Outras 11 pessoas permanecem desaparecidas.
A Reuters havia publicado, há duas semanas, que o MPMG apresentaria em breve denúncias criminais contra Vale, TÜV SÜD e alguns de seus executivos e funcionários envolvidos no caso do rompimento de barragem.
Na reportagem, a promotora de Justiça e coordenadora da força-tarefa do MPMG que apura o desastre, Andressa Lanchotti, afirmou que havia muitos elementos apontando risco para o colapso da barragem e esses elementos não eram desconhecidos.
Segundo Lanchotti, o MPMG acredita que a TÜV SÜD tinha grande interesse em assinar a segurança da barragem, para que pudesse obter mais trabalho com a Vale, que havia dispensado outra empresa de inspeção que se recusou a certificar a segurança da estrutura.
Procurada nesta terça-feira, a TÜV SÜD afirmou em nota que “continua profundamente consternada pelo trágico colapso da barragem em Brumadinho” e ressaltou que seus pensamentos “estão com as vítimas e suas famílias”.
A certificadora ressaltou ainda que as causas do desastre ainda não foram esclarecidas e continuam a ser investigadas.
“Continuamos oferecendo nossa cooperação às autoridades e instituições no Brasil e na Alemanha no contexto das investigações em andamento”, disse a empresa, ressaltando que não fornecerá mais informações sobre o caso, enquanto processos legais e oficiais estiverem em curso.
Já a Vale não respondeu imediatamente aos pedidos de comentários.
Anteriormente, a mineradora pontuou que um painel de especialistas contratado pela assessoria jurídica externa da mineradora concluiu em dezembro que o rompimento “ocorreu de forma abrupta e sem sinais prévios aparentes, que pudessem ser detectados pelos instrumentos de monitoramento geotécnico usualmente empregados pela indústria da mineração mundial”.
Também afirmou que a contratação de uma empresa de auditoria de renome internacional, como a TÜV SÜD, “sempre teve por premissa que os auditores dessa empresa tivessem responsabilidade técnica, independência e autonomia na prestação de seus serviços”.
A empresa ressaltou ainda que continuará contribuindo com as investigações.
Enquanto o MPMG está pronto para apresentar sua denúncia, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal continuam a investigar o caso e uma possível denúncia do lado federal deverá demorar mais tempo.
Na semana passada, o delegado da PF responsável pela investigação, Luiz Nogueira, disse a jornalistas esperar que até junho haja a conclusão de uma perícia, que deverá apontar a causa da liquefação que levou ao rompimento de barragem, em um importante passo para determinar se houve homicídio doloso ou culposo no desastre.
Devido à alta complexidade da perícia, foi selada uma parceria com universidades em Barcelona e Porto, viabilizada pelo MPF, para identificar as causas.
A perspectiva, segundo o delegado, é que após a identificação do gatilho do desastre seja possível averiguar com maior precisão se o comportamento de representantes da empresa diante dos riscos pode ser considerado criminoso.