Opinião

Movimentos da taxa de câmbio: cuidado!

09 maio 2020, 9:15 - atualizado em 07 maio 2020, 16:22

O gráfico acima mostra a evolução da taxa de câmbio nominal R$/US$ desde o início de 2005 até o final de 2016. Podemos observar quatro grandes períodos de desvalorização da moeda brasileira: o final do regime em Janeiro de 1999, o ataque de 11 de Setembro de 2001, a transição para o governo Lula e a crise de 2008.

A característica mais curiosa dessa trajetória é a assimetria observada nos momentos de depreciação e apreciação, sendo os primeiros caracterizados por saltos e os segundos por quedas lineares. O histograma dos retornos diários também ajuda a ver esse comportamento errático do câmbio.

Longe de seguir um padrão normal, saltos não lineares são a regra. Percebe-se nas caudas da direita e esquerda que muitas das oscilações diárias estão bem longe de três desvios padrão. Numa curva normal, 99.7% das observações deveriam se encontram a no máximo três desvios padrão à direita ou a esquerda da média das observações.

Nessa amostra encontramos 1.86% de observações nesses extremos, 6 vezes mais do que deveríamos encontrar. Em 3012 dias de observação, temos 14 eventos em que o câmbio oscila num único dia 15% ou mais pra cima ou pra baixo. Ou seja, o ajuste no câmbio é mesmo na pancadaria.

Como sabemos, os episódios de grandes desvalorizações cambiais são marcados por sell-offs, e daí a natureza descontínua dessa variável. Aliás, comportamento análogo também é observado no mercado acionário, onde subidas tendem a ser lineares e quedas abruptas.

No jargão dos economistas, as vendas maciças de ativos financeiros ocorrem devido à chamada fuga para a liquidez, um movimento descontrolado em busca de ativos líquidos capazes de proteger portfólios nos momentos de elevada incerteza, medo e pânico. Já quando a tormenta passa, investidores voltam paulatinamente a buscar ativos de risco, criando trajetórias mais lineares.

Essas grandes desvalorizações da taxa de câmbio estão também associadas ao que economistas chamam de “sudden stops” ou paradas súbitas de fluxos de capital que financiam o déficit externo. De repente o dinheiro que vinha para o país deixa de vir!

Esses choques estão associados a algum evento extremo que afugenta os investidores. Um calote de algum banco ou estado, algum escândalo financeiro ou ate mesmo contágio por problemas em países vizinhos ou parecidos. É claro que o país que passa por um choque desses deve já estar numa situação de endividamento perigosa que suscite o temor dos investidores. Baixos níveis de reservas cambiais, alta dívida externa e déficit e em contas correntes tendem a contribuir para esse fenômeno.

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