Política

Mourão elogia Bolsonaro e diz que país é exemplo de proteção ambiental

24 set 2019, 22:47 - atualizado em 24 set 2019, 22:47
“Nossa matriz energética é mais de 80% de energia limpa e renovável. A base é energia hidrelétrica, eólica e solar”, disse Mourão (Imagem: Tomaz Silva/Agência Brasil)

O presidente da República em exercício, general Hamilton Mourão, disse hoje (24), em palestra na sede do Clube Militar do Rio de Janeiro, que o Brasil “é um exemplo em proteção ambiental”. “Nossa matriz energética é mais de 80% de energia limpa e renovável. A base é energia hidrelétrica, eólica e solar. Usamos muito pouco petróleo e carvão. O resto do mundo só tem 25% de energia renovável. Não podem nos acusar de sermos os poluidores e os responsáveis pela redução de vida na Terra”, disse para um público composto majoritariamente por militares da reserva.

Mourão também elogiou o discurso que o presidente Jair Bolsonaro fez mais cedo na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidos (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos. “Foi incisivo, firme, direto e soberano. Ele disse bem: a Amazônia não é patrimônio da humanidade, é patrimônio nosso”, avaliou o general.

Segundo Mourão, a legislação brasileira é a mais evoluída do mundo. “Hoje, 50% da Amazônia é área preservada e protegida. É terra indígena e área de proteção ambiental. E aliás, se somarmos todo o território no Brasil de terra indígena e de área de proteção ambiental, temos 2,6 bilhões de quilômetros quadrados. É quase um terço do Brasil. Nenhum país tem isso. E,no restante da Amazônia, quem tem terra só pode explorar 20% dela”, afirmou.

Ele também disse que há países que veem a Amazônia como uma reserva para o futuro. “Por que os Estados Unidos não invadiram o Irã ainda? Porque as Forças Armadas do Irã são capazes de defender o país. E é o que vai acontecer aqui também. Não adianta falar que a Amazônia é minha se eu não tenho capacidade de defendê-la”, acrescentou.

O presidente em exercício relacionou as recentes queimadas, que geraram preocupação em líderes políticos internacionais, ao tempo seco comum nos meses de setembro e outubro. De outro lado, ele sugeriu que as mudanças climáticas ainda demandam explicações.

“O clima mudou e nós sabemos disso. Mas não sabemos se essa mudança veio para ficar ou se é uma curva da senoide na nossa passagem pelo globo terrestre”, disse Mourão. Assim como Bolsonaro, ele avaliou criticamente as questões fundiárias envolvendo povos indígenas. Segundo ele, os principais conflitos são no sudeste do estado do Pará e no sul do estado do Amazonas. “Isso se arrasta há mais de 40 anos. Gente que veio do centro-sul ocupando a terra e depois ali foi dito que era terra indígena. Então tem lugares onde vivem 4 mil famílias e 150 indígenas. Mas aquilo virou terra indígena.”

Geopolítica mundial

Mourão dedicou boa parte do tempo da exposição para fazer avaliações sobre a geopolítica e economia mundial. Segundo ele, até 2030, a China pode se tornar responsável por até 50% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. “Na China não há Ministério Público, não há Ministério do Meio Ambiente. Se querem construir uma estrada em uma distância como daqui do Rio para Angra dos Reis, eles começam a construção e quem estiver na frente sai. Dessa forma funciona lá.”

Ele também afirmou que o último período democrático da Venezuela acabou em 1998 com a eleição do presidente Hugo Chávez, que classificou de ditador. Ao mesmo tempo, Mourão disse que não há condições para uma solução militar partindo do território brasileiro, uma vez que, ao entrar no país vizinho, seria preciso atravessar 600 quilômetros em um território de mata. “Quantas manobras logísticas nisso aí? É inviável e é fora daquilo que nós pensamos. Nós não intervimos em assuntos internos de outro país”, acrescentou.

De outro lado, o general defendeu que seja feita pressão política, diplomática e econômica. Segundo Mourão, o governo Nicolás Maduro se sustenta com apoio estrangeiro. Ele acusou Cuba de manter no país entre 20 mil e 25 mil pessoas atuando em sistemas de inteligência e no controle de milícias. Também disse que a Rússia dá suporte ao país em resposta aos Estados Unidos, que são responsáveis pela posição de tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Leste Europeu.

“Em primeiro lugar, precisamos tirar os cubanos de lá. Como vamos fazer isso? Eu tive oportunidade de conversar com o vice-presidente dos Estados Unidos sobre esse assunto. Cuba recebe 120 mil barris de petróleo por dia da Venezuela. Ela não usa isso, ela vende. Alguém tem que chegar nela e fazer um acordo. E quem é esse alguém? Uma potência, que tem a primazia. Vai dizer pra Cuba: você vai continuar recebendo os 120 mil barris, mas tira seu povo da Venezuela”, sugeriu.

Desenvolvimento

O presidente em exercício também defendeu o diálogo entre os países do Mercosul e afirmou que o Brasil precisará da Argentina, independentemente de quem ganhe as eleições no país marcadas para o próximo mês. A disputa envolve o atual presidente Maurício Macri, que conta com o apoio público de Bolsonaro, e Alberto Fernández, cuja vice é a ex-presidente Cristina Kirchner.

“A Argentina é nosso terceiro parceiro comercial. Uma das causas da quedas na projeção do PIB do Brasil para este ano é que a nossa manufatura exporta para a Argentina, e a Argentina não está comprando. Então faz parte manter as negociações”, disse Mourão.

Na palestra, o presidente em exercício sustentou que o desenvolvimento do Brasil passa por diversas medidas, entre as quais as reformas tributária e da Previdência, contenção de gastos e privatizações. Ele relacionou o desequilíbrio das contas públicas aos últimos governos e também a previsões constitucionais. “Tudo começa na Constituição de 1988. Uma Constituição parlamentarista em sua essência para um regime presidencialista. Uma Constituição que previa um sistema de bem-estar social padrão sueco, para um país latino-americano ainda emergindo. Benesses para todos sem olhar se no futuro haveria recursos para pagar essas benesses.”

Mourão também deixou claro seu posicionamento contrário à concentração pela Petrobras das atividades de refino e distribuição e defendeu a exportação de tecnologia agrícola para mercados da África e da Ásia. “Os países mais desenvolvidos chegaram ao seu teto. Atingiram aquilo que os economistas modernos chamam de japanização. O Japão também parou de crescer. E temos um grande país ao sul do Equador com espaço de manobra para avançar. É o nosso momento.”

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