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Morales tenta reeleição em momento de incerteza em setor de gás

14 out 2019, 16:23 - atualizado em 14 out 2019, 16:23
Com as importações baratas de gás marítimo inundando seus vizinhos costeiros, as exportações de gás do país caíram 25% este ano até julho (Imagem: José Cruz/Agência Brasil)

Por dois anos, a Bolívia teve como foco aumentar a produção de gás natural, há muito tempo um elemento essencial para a prosperidade do país, perfurando as planícies do sudeste. O resultado: um poço seco de 8 km de profundidade.

Sem dúvida, não há símbolo mais adequado para a situação enfrentada tanto pela Bolívia quanto por Evo Morales, o impetuoso presidente de esquerda que busca a reeleição depois de 14 anos no poder. Ao longo dos anos, as vendas de gás para o Brasil e Argentina ajudaram Morales a atravessar crises nos mercados de commodities globais, triplicar o salário mínimo e impulsionar programas sociais. Mas não mais.

Com as importações baratas de gás marítimo inundando seus vizinhos costeiros, as exportações de gás do país caíram 25% este ano até julho. E, sem descobertas, os poços envelhecidos da Bolívia serão cada vez menos rentáveis ao longo do tempo. Enquanto isso, Brasil e Argentina aceleram os projetos para produzir seu próprio gás.

“Este governo não fez nenhuma descoberta”, disse Freddy Castrillo, secretário de hidrocarbonetos do departamento de Tarija, que produz cerca de 55% do gás natural do país. “O cenário para os preços é completamente desfavorável, a produção está em baixa e nossos principais clientes – Brasil e Argentina – estão se tornando nossos principais concorrentes.”

Com sede em Madri, a Repsol perfurou o poço Boyuy nas planícies do sudeste a um custo de cerca de US$ 140 milhões. A Repsol continua avaliando os resultados, informou a empresa em comunicado por e-mail.

Conhecido há muito tempo como o “socialista economicamente capaz da América Latina”, Morales enfrenta sua mais difícil campanha de reeleição antes do primeiro turno em 20 de outubro. Morales tinha 40% das intenções de voto, segundo pesquisa publicada pelo jornal La Razón no domingo. Para evitar um segundo turno, Morales precisa de pelo menos 40% e 10 pontos de vantagem sobre seu rival mais próximo, que estava com 22% das intenções de voto no levantamento.

As dificuldades não terminam aí. Independentemente de quem vencer, o novo presidente deve enfrentar difíceis desafios econômicos que podem mudar a trajetória de um país que ganhou um nível de conforto com os generosos programas de gastos sociais de Morales.

A receita com petróleo e gás do país caiu de 35% para cerca de 20% nos últimos cinco anos. Enquanto isso, a dívida pública subiu para 54% do PIB em 2018, de acordo com o Fundo Monetário Internacional, limitando as opções para impedir um pouso forçado após mais de uma década de expansão econômica.

Ao mesmo tempo, há pouco espaço para impulsionar o uso doméstico de gás em um país onde o setor privado tem um papel restrito, e o governo queima um fundo de reserva antes das eleições deste ano, segundo Todd Martínez, diretor da Fitch Ratings, que colocou a dívida da Bolívia com perspectiva negativa em junho.

“O desempenho relativamente estável e sólido da Bolívia nos últimos anos e os números das manchetes são um pouco enganosos porque, em nossa opinião, refletem políticas que parecem cada vez mais insustentáveis”, disse Martinez em entrevista.

Alerta do Equador

O vizinho Equador serve como alerta para tensões sociais que podem resultar de medidas de austeridade em países com populações vulneráveis dependentes da generosidade do governo. A remoção dos subsídios aos combustíveis no início do mês provocou protestos contra o presidente Lenin Moreno, que fugiu da capital de Quito para uma cidade costeira devido aos tumultos e, em seguida, revogou o decreto que elevou os preços dos combustíveis.

“A principal ameaça à Bolívia é a própria Bolívia”, disse Ricardo Bedregal, chefe da pesquisa upstream da América Latina da consultoria IHS Markit. “Não há incentivos fiscais para atrair novos investidores para o jogo. Não há nada para mudar a trajetória em declínio.”

Enquanto isso, Brasil e Argentina investem em terminais de importação de gás natural liquefeito. O governo argentino anunciou descobertas de classe mundial em seus campos de gás de xisto, e o Brasil busca focar na exploração dos campos do pré-sal.

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