Montadoras e bancos chegam a impasse sobre socorro a setor automotivo
As montadoras de veículos do Brasil entraram em um impasse nas negociações com bancos estatais e privados sobre ajuda ao setor em meio à epidemia do novo coronavírus depois que as instituições financeiras exigiram garantias não apenas das subsidiárias locais, mas também de suas matrizes, disseram duas fontes à Reuters.
Essas pessoas afirmaram que as montadoras recusaram o pedido, o que atrasou qualquer decisão sobre os bilhões de reais solicitados pelas montadoras em suporte financeiro.
O Brasil é o maior produtor de automóveis da América do Sul e uma das principais operações da General Motors, Fiat Chrysler, Volkswagen e Ford, empresas que demandam que paralisaram suas operações por conta da pandemia e pedem socorro para enfrentar a crise.
Uma fonte da indústria automotiva disse que o setor ainda espera chegar a um acordo antes de 8 de maio, quando a associação do setor, Anfavea, divulgará balanço sobre o desempenho da indústria até o final de abril.
As montadoras no Brasil afirmaram que precisam de empréstimos urgentes para honrar folha de pagamentos e manter vivas o que descrevem como uma cadeia crucial de suprimentos que, no total, compõe vários dígitos do PIB brasileiro.
Os bancos, por outro lado, preferem ajudar as montadoras indiretamente, financiando principalmente seus fornecedores e revendedores de automóveis, pois empregam um grande número de funcionários, disse uma das fontes.
Semanas atrás, o setor automotivo iniciou negociações com bancos, governo e bancos, pedindo resgate de 100 bilhões de reais, uma cifra que as fontes duvidavam que o pacote de resgate fosse alcançar.
O BNDES, que vem coordenando as conversas entre empresas e bancos, também está em negociações para ajudar o setor de aviação, com cerca de 10 bilhões de reais, mas essas conversas também enfrentam dificuldades, uma vez que o governo exige que esses empréstimos possam ser convertidos em ações nas companhias aéreas.
A fonte da indústria automotiva disse que as montadoras buscam empréstimos com baixas taxas de juros e longos vencimentos, e com garantias menos onerosas, sem dar maiores detalhes.
Uma das fontes disse que os bancos não consideram as fábricas de automóveis no Brasil particularmente atraentes como garantia, apontando que são ativos difíceis de vender, caso as empresas não honrem suas dívidas.
A Ford, por exemplo, enfrentou dificuldades para vender sua fábrica mais antiga no Brasil, em São Bernardo do Campo (SP).
A companhia tentou vendê-la duas vezes, primeiro em tratativas particulares e depois com a ajuda do governo do Estado de São Paulo, e fracassou nas duas vezes em garantir um acordo. Desde então, essa fábrica foi fechada, e os funcionários, demitidos.