Moelis busca negócios na Argentina e vê Brasil sem ‘esteróides’
O banco de investimento com sede em Nova York começou a procurar oportunidades de negócios de reestruturação de dívidas na Argentina, pois um peso fraco e a contração da economia tornam a vida mais difícil para empresas e governos.
“Junto com nosso time de Nova York estamos realizando visitas mais frequentes ao país vizinho para tentar conseguir negócios de assessoria em reestruturação de dívida, recapitalização e fusões e aquisições”, disse Otavio Guazzelli, co-chefe da Moelis Brasil, em entrevista.
As empresas com dívida em dólar sofrem com a desvalorização do peso argentino. A moeda perdeu um terço de seu valor em relação ao dólar dos EUA nos primeiros nove meses do ano, mais do que qualquer outra.
Ao mesmo tempo, com a economia se contraindo 2,2% este ano, depois de recuar 2,5% no ano passado, os lucros e as receitas das empresas ficam mais apertados.
A turbulência política também não ajuda, e só está aumentando com a proximidade da eleição presidencial no fim deste mês em que o candidato mais à esquerda Alberto Fernandez é o favorito.
Mesmo que a Argentina receba o próximo desembolso da ajuda do Fundo Monetário Internacional, é provável que o governo atrase pagamentos ou reestruture sua dívida, disse Shelly Shetty, diretora da Fitch Ratings, em relatório no mês passado.
As empresas argentinas tornaram-se grandes emissoras de títulos de dívida em dólar após a eleição em 2015 do presidente Mauricio Macri, que trouxe uma abordagem mais favorável ao mercado.
As empresas atraíram investidores famintos por rendimentos oferecendo juros de até 9,62% e emitiram US$ 6 bilhões em 2016 e outros US$ 6 bilhões em 2017, o dobro da quantia de 2015, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Em setembro de 2017, os dados mais recentes disponíveis, o total da dívida privada externa era de cerca de US$ 67 bilhões, segundo o banco central do país.
Oi, Odebrecht
A Moelis está entre os principais assessores em reestruturação de dívida no Brasil desde a abertura de seu escritório em São Paulo, em 2014, incluindo a participação nos dois maiores pedidos de recuperação judicial da América Latina.
A Moelis representou um grupo de detentores de títulos da Oi (OIBR3), a companhia telefônica nacional que buscou proteção judicial contra seus credores em 2016 com US$ 19,2 bilhões em dívidas.
A Moelis também está assessorando a unidade de construção da Odebrecht com US$ 3 bilhões em dívidas problemáticas, no que se espera ser uma recuperação extrajudicial.
A Moelis também trabalhou com empresas estatais, assessorando a Petrobras (PETR3;PETR4) na reestruturação de US$ 120 bilhões em dívidas com bancos locais e detentores de títulos em 2015.
“Não temos nenhum dos conflitos de interesse que os grandes bancos têm porque somos puramente assessores — não fazemos operações de crédito ou de trading de ações ou títulos de dívida”, disse Guazzelli.
Agora, as perspectivas para a economia brasileira são melhores e as empresas fizeram os ajustes necessários, disse ele.
“A grande onda de reestruturação no Brasil acabou”, disse ele. “A economia voltou a crescer pela primeira vez em muitos anos sem esteróides artificiais alimentando uma recuperação artificial, como por exemplo bancos estatais ampliando o crédito.”
A Moelis planeja manter o foco no Brasil no negócio de assessoria em fusões e aquisições, disse Guazzelli, acrescentando que contratou Thiago Succar, ex-vice-presidente do JPMorgan Chase, para esse negócio.
A Moelis assessorou a Eye Clinic, empresa de oftalmologia de São Paulo, em sua venda para o UnitedHealth Group Inc., uma transação anunciada neste ano.