Moedas emergentes em 2018: Quem são? Onde vivem? O que comem? Quanto desvalorizam? E por quê?
Por Fernanda Consorte, Estrategista de Câmbio da Ourinvest
Esse ano não foi fácil para os mercados emergentes. Mas antes de discorrer sobre os dissabores desses países, gostaria de dividir o que torna um país emergente: os países emergentes ou “em desenvolvimento” são assim classificados de acordo com a renda per capita dos seus habitantes, padrão de vida entre baixo e médio, e um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) variando entre médio e elevado, mas com condições de melhorar seus índices em uma ou duas décadas. Além disso, um país emergente se destaca no crescimento de um setor específico da economia.
Assim, isso o tornaria interessante para investimento estrangeiro. Igualmente se avalia o tamanho do mercado interno do país em questão – maiores chances de expansão de consumo interno.
Dito isso, 2018 foi um ano marcado por aumento na taxa de juros dos países desenvolvidos – leia-se EUA. Motivo que, por si só, já gera uma reversão de fluxo de capital para países mais seguros – o chamado “fly to quality”, tirando a liquidez de países menos seguros, como os emergentes; e, portanto, causa desvalorização da moeda – que o diga a Argentina, que sofre com problemas de financiamento externo, e foi um dos gatilhos do enfraquecimento da moeda portenha e de seus pares (ler mais no relatório
E se em vez de feijoada com samba, tiver empanada com tango? Ao longo de 2018 foram-se agravando as questões comerciais-políticas entre EUA e China, causando expectativa de desaceleração econômica no gigante chinês e contaminando, portanto, todos os outros mercados emergentes. E, mais recentemente, adiciona-se a esse cenário nada auspicioso para os já fragilizados países emergentes, uma sensação geral de aversão ao risco global, com fortes revisões para baixo da expectativa de crescimento mundial, afetando o fluxo cambial.
Além disso, tivemos questões locais importantes como a greve dos caminhoneiros no Brasil, que forçou uma brutal intervenção do Banco Central nos mercados locais, entre maio e junho. Cito também as tensões enfrentadas pela Turquia em agosto, devido às preocupações com a influência do presidente Tayyip Erdogan sobre a economia, suas repetidas solicitações por taxas de juros mais baixas e o agravamento dos laços com os Estados Unidos.
Está bom ou quer mais? A combinação desses fatores explica as fortes desvalorizações enfrentadas pelas moedas de emergentes em 2018 (até 11/dez). Destacamos as 3 maiores desvalorizações:
– Argentina teve a maior desvalorização do ano (102,4%), com as maiores altas nos meses de maio e junho, quando iniciou a percepção mundial de instabilidade global (guerra comercial, problemas de financiamento externo na Argentina e na Turquia, e paralisação dos caminhoneiros no Brasil), e em agosto e setembro, períodos em que a crise Argentina ficou mais evidente. (A Argentina tem IDH de 0,825, ocupando o 47º lugar entre 189 países.)
– O segundo lugar fica para a Turquia (+41%), que, junto com os outros emergentes, mostrou desvalorização da moeda em maio e uma forte depreciação em agosto, quando houve a eclosão da crise local e tensão com os EUA. Contudo, vale mencionar que, dos emergentes com maior liquidez, este tem sido o único com valorização da moeda desde então — por exemplo, desde agosto, a lira turca já valorizou 18%. (A Turquia tem IDH de 0,791, ocupando o 64º lugar entre 189 países.)
– Nós pegamos a medalha de bronze, com uma desvalorização de 18% no ano, até 11/dez. A nossa colocação deveu-se exclusivamente às causas mencionadas acima, ou seja, fundamentos externos com uma pitada da greve dos caminhoneiros, mesmo o Brasil tendo passado por uma eleição bastante desgastante. Acontece que a desvalorização de 8% que abateu o real no início da campanha eleitoral (movimento comum durante eleições) foi devolvida em outubro com a lua-de-mel entre mercado financeiro e o presidente eleito, Jair Bolsonaro. (O Brasil tem IDH de 0,759, ocupando o 79º lugar entre 189 países.)