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Moedas digitais podem abalar o ultrapassado modelo bancário, afirma economista do BoE

30 jun 2021, 12:22 - atualizado em 30 jun 2021, 12:22
Apesar de receios, Haldane afirma que tal abalo ao setor bancário comercial pode ter um lado positivo (Imagem: Reuters/Toby Melville)

Em seu último discurso como economista-chefe do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) — após ter trabalhado por mais de 30 anos no banco central —, Andrew Haldane dedicou bastante tempo para falar sobre as possíveis consequências das moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDCs).

Em um discurso publicado nesta quarta-feira (30), Haldane disse que uma moeda digital amplamente utilizada pode alterar as propriedades estruturais, a nível fundamental, do setor bancário:

Pode resultar em algo parecido com ‘narrow banking’, em que atividades seguras e de pagamento são divididas das atividades mais arriscadas, de concessão de crédito, dos bancos. Em outras palavras, o modelo tradicional do setor bancário, conhecido há mais de 800 anos, pode ser abalado.

Atualmente, o Banco da Inglaterra — assim como grande parte dos bancos centrais do mundo — está explorando a possibilidade de lançar a chamada “britcoin”, uma versão digital da libra esterlina. Desde abril, o banco está contratando especialistas em CBDCs.

Porém, o banco central sempre deixou bem claro que uma decisão final sobre a possibilidade de avançar com o projeto ainda está bem distante, e que tanto os riscos como os benefícios de tal moeda devem ser ponderados de forma cuidadosa.

A batalha dos bancos

Esta não foi a primeira vez que bancos comerciais foram alertados. O dinamismo por trás das CBDC em todo o mundo gerou receios de que o típico modelo bancário, que usa depósitos a curto prazo para financiar investimentos a longo prazo — chamado de “transformação de prazos”  —, pode estar em risco.

Em junho de 2020, o Federal Reserve Bank da Filadélfia publicou um artigo com esses alertas. Seu argumento é que bancos centrais têm uma evidente vantagem competitiva em relação a bancos comerciais durante épocas de estresse, então iriam se apossar dos depósitos.

Em novembro, Sir John Cunliffe, vice-presidente do Banco da Inglaterra, alertou que não é papel do banco central “proteger modelos comerciais de bancos”.

Porém, em seu discurso de despedida, Haldane disse que tal abalo ao setor bancário comercial pode ter um lado positivo:

Mais especificamente, isso pode resultar em uma maior aproximação de risco para essas instituições, tanto novas como antigas, ao oferecer serviços — ‘narrow banking’ para pagamentos (dinheiro lastreado por ativos seguros) e serviços bancários de propósito limitado para empréstimos (ativos de risco lastreado por obrigações de risco).

Essa topologia radicalmente diferente, embora não seja onerosa, pode reduzir drasticamente as fragilidades no modelo bancário que causam crises financeiras há mais de 800 anos. Dados os custos dessas crises — grandes e crescentes —, esse é um benefício que precisa ser analisado.

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