Moedas de guerra e de reserva
Por Ryan Selkis
São graves as notícias recentes da ordem de ataque dos EUA ao Irã, que matou Qassem Soleimani.
Os EUA estão em guerra com o Oriente Médio há quase 20 anos, e é preocupante pensar que a violência na região possa se intensificar novamente — talvez para novos níveis —, como resultado disso.
Eu não vou falar sobre política ou sobre estratégia porque não é por isso que você lê as notícias da Messari e porque ninguém sabe sobre o que está falando ou o que vai acontecer em seguida, além de ser improvável que saberemos a verdade sobre o “timing” e os motivos acerca do porquê a administração de Trump decidiu eliminar esse cara agora.
Se você quiser compreender rapidamente o que está acontecendo: aqui está um apanhado do que o ataque significa (em inglês), de acordo com um dos repórteres mais perspicazes do Washington Post que fazem cobertura do Oriente Médio.
Além disso, aqui está um esclarecimento sobre quem foi Soleimani, em um artigo excelente de 2013 da revista New Yorker (eu não sabia quem ele era até o ataque acontecer).
A morte de Suleimani não parece ter sido algo ruim para a humanidade. Porém, causar a Terceira Guerra Mundial seria algo ruim.
Foi uma coincidência meio misteriosa eu ter lido, pouco antes, sobre as datas dos maiores eventos inflacionários na História Moderna.
Acontece que a grande maioria dessa hiperinflação do século XX aconteceu após o “fim” de grandes guerras mundiais nas regiões mais afetadas:
– 1ª Guerra Mundial (Alemanha, Polônia, Áustria e Rússia);
– 2ª Guerra Mundial (Hungria, Grécia, China, Taiwan);
– Guerra Fria (a maioria dos países do leste europeu).
Talvez não devamos torcer pela hiperinflação (uma catálise para a hiperbitcoinização) tão rapidamente se isso implica na nossa sobrevivência a um outro grande conflito mundial?
É provável que uma mudança na moeda de reserva — para uma nova moeda fiduciária ou criptomoeda — virá apenas após a morte de milhões de pessoas em conflitos globais ou após a desintegração de uma grande superpotência nuclear. Não é a melhor solução.
Imediatamente, eu me preocuparia com o que uma intensificação do conflito entre EUA e Irã — mesmo limitada — faria à indústria de criptoativos.
Bitcoin e seus irmãos são ativos de risco e eles estariam entre os primeiros a serem vendidos no mercado caso ocorresse um aumento na incerteza econômica e regulatória global.
Essa dificuldade cíclica poderia ser agravada ao “fechar o cerco” da indústria no futuro. Até mesmo ameaçadas de restrições globais na atividade comercial e/ou posse de cripto causaria medo em muitos dos atuais investidores.
Alguns podem dizer que isso é medo, incerteza e dúvida porque o máximo uso possível de cripto pelo Irã seria limitado pela baixa capitalização de mercado do bitcoin. Mas estatísticas não são importantes para políticos.
Imagine uma história parecida com a do New York Times ano passado sobre como “bitcoin poderia ajudar o Irã a evitar sanções” logo após um ataque retaliatório/terrorista a uma embaixada regional — ou pior.
Se os EUA apresentaram o Patriot Act após o ataque de 11 de setembro, morro de medo só de pensar em que tipo de ordem executiva ou legislativa teriam que evitar se viesse à tona que o uso de cripto pelo Irã estivesse aumentando — até mesmo ironicamente —, como parece ser o caso hoje em dia.
Ao mesmo tempo, eu teria ainda mais medo de um futuro onde criptoativos são restritos de forma severa. Hoje, na LocalBitcoins, o bitcoin está sendo negociado a quase US$ 24 mil no equivalente em dólares do rial iraniano.
É improvável que essas aquisições estejam pagando pela resposta militar iraniana. Em vez disso, podem ser os iranianos inocentes (e desesperados) que buscam por uma saída do futuro caos.
Só podemos esperar por paz e sanidade enquanto navegamos pela Quarta Reviravolta na década que se inicia.