Moeda única, tokenização e Real Digital; Presidente do BC do Brasil comenta próximos passos
O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, esteve presente nesta quinta-feira (19) em um webinar no painel “O Papel do Brasil e os Avanços em Fintech e Sistemas de Pagamentos Digitais” realizado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles.
No painel, Campos Neto afirmou que é contra a criação de uma moeda em comum entre o Brasil e a Argentina, que mira em um sistema econômico de tokenização e deu detalhes sobre os próximos passos das moedas digitais emitidas por Banco Centrais (CBDCs).
Ele abriu o painel afirmando que condena as invasões que ocorreram em Brasília no dia 8 de janeiro. “Espero que investiguem as pessoas responsáveis por isso. Afeta a credibilidade do país, e precisamos de credibilidade agora”, afirma.
Moeda Única não agrada presidente do Banco Central
Durante o momento de perguntas, Campos Neto foi questionado acerca da criação da moeda única entre o Brasil e a Argentina.
Conforme diz, não quis entrar em muitos detalhes por ser um assunto controverso. “Sou contra. Não acho que faça sentido para nós no momento por diversos motivos”, diz.
“Tokenizar ativos para negociação é a transformação principal”, diz Campos Neto
Campos Neto comenta que as pessoas estão buscando uma representação digital de valor. Ele faz questão de frisar a diferença entre tokenização e criptomoedas.
“Estamos mudando de uma economia de contas para uma economia de tokens? Nós acreditamos que sim”, afirma.
Para ele, os benefícios vão desde redução de custos entre intermediários até inclusão de pessoas no sistema financeiro nacional.
“Tokenizar ativos para negociação é a transformação principal”, afirma. “As pessas focam muito na ideia de criptoativos, e quero me distanciar um pouco disso por enquanto porque existe algo maior acontecendo”.
Campos Neto diz que o metaverso é um exemplo das grandes mudanças que estão acontecendo na economia. Segundo ele, é a tentativa de monetizar propriedades e ambientes virtuais.
Entretanto, ele diz que ainda existem dificuldades nas maneiras de interagir com o ambiente digital através dos óculos de realidade virtual e demais tecnologias de imersão.
“Se a tokenização avançar expressivamente, o século 21 pode ser o início da criação de uma rede de tokens global”, diz.
Open Finance e a monetização de dados
Sobre o Open Finance, Campos Neto comenta que existe uma oportunidade de monetizar a grande base de dados que existe atualmente entre os bancos através de APIs.
No esquema apresentado em PowerPoint, Campos Neto mostra como o próprio usuário pode monetizar seus dados ao fornecê-los para um gerenciador. O gerenciador por sua vez pode comercializar estas informações para um parceiro.
As afirmações foram feitas após o presdente do Banco Central comentar que a ideia do Pix foi apenas a primeira fase de uma ideia de economia de dados em grande escala, que mais para frente utilizaria o Real Digital em sua rede.
Real Digital é único e específico para o Brasil
Roberto Campos Neto comenta que o Real Digital vai ser o fio condutor que juntará tudo a um sistema financeiro totalmente tokenizado. Para ele, todos os projetos buscam resolver diferentes problemas, e o CBDC brasileiro será algo único.
“Nossas CBDCs serão diferentes de todas. Porque não são nada mais nem menos que depósitos tokenizados. Um banco vai bloquear um depósito e lastrear um token nele”, explica.
Ele relembra que existe um impedimento que ainda permanece sem solução no que tange às CBDCs, que é a capacidade de não “machucar” a habilidade dos Bancos de distribuir créditos.
“Você não quer ter ativos nem passivos no balanço do Banco Central. Não quer tirar o poder de competição que os bancos têm nos balanços. Além disso, a regulação é muito difícil, e se fizermos uma CBDC lastreada em depósitos, precisamos ter essa regulação. Ela já existe, então é mais fácil”, explica.
Campos Neto que se aproximar de Finanças Descentralizadas (DeFi)
Para ele, as CBDCs precisam se diferenciar do Pix por meio de dois pontos: a habilidade de tokenizar o sistema financeiro, e trazer o sistema de finanças descentralizadas (DeFi) mais perto.
“É justamente o contrário do que temos visto, que é os Banco Centrais afastando elas [DeFi]. Nós queremos fazer o contrário, queremos trazer o ecossistema mais perto”, diz.
Um dos motivos de querer trazer o DeFi para perto, é que atualmente cresce quatro vezes mais do que o ecossistema regulado, segundo o próprio Campos Neto.
Entre outros motivos que fazem o presidente do BC querer estar próximo ao DeFi, estão a busca pela interoperabilidade e escalabilidade da tecnologia.