Mercados

Modelo de negócios de diamantes começa a trincar

29 jul 2019, 15:42 - atualizado em 29 jul 2019, 15:42
Por mais de um século, a De Beers vendeu a maior parte de seus diamantes brutos para um número seleto de clientes, uma lista que diz quem é quem no obscuro mundo do comércio de pedras preciosas (Imagem: Andrey Rudakov/Bloomberg)

É um dos clubes mais exclusivos do mundo, chamado ao longo dos anos como “Syndicate”, “Central Selling Organization” e ‘Diamond Trading Company”.

Por mais de um século, a De Beers vendeu a maior parte de seus diamantes brutos para um número seleto de clientes, uma lista que diz quem é quem no obscuro mundo do comércio de pedras preciosas. A Tiffany & Co., Graff Diamonds e Signet Jewellers possuem filiais neste grupo, garantindo uma oferta constante de gemas com o pedigree de serem examinadas pela De Beers.

No mundo do comércio de diamantes, fazer parte do grupo de compradores de elite da De Beers é considerado essencial para alcançar sucesso e ganhar dinheiro. Agora, já não é tão fácil.

(Imagem: Bloomberg)

A De Beers vende suas pedras preciosas em 10 ofertas por ano em Gaborone, capital de Botswana, e os compradores – conhecidos como “sightholders” – aceitam o preço e as quantidades que lhes são oferecidas. É um sistema que teve início na década de 1890 e que foi projetado para beneficiar tanto a mineradora quanto o cliente, que recebe os diamantes com uma taxa de desconto.

Mas o desconto foi diminuindo. Em alguns casos, os preços saíram mais altos do que a taxa de negociação vigente, forçando os clientes a vender com prejuízo, segundo pessoas a par do assunto. Alguns sightholders agora enfrentam barreiras para ganhar dinheiro com um negócio que já foi altamente rentável.

Há dois problemas no setor de diamantes. As vendas de joias de alta qualidade estão estagnadas, já que outras ofertas de luxo, como sapatos, bolsas e férias em resorts são abundantes nesse mercado. Empresas que comercializam diamantes também têm mais dificuldade em encontrar financiamento, porque os bancos estão abandonando o setor depois de serem afetados por fraudes e empréstimos de risco.

“Não é um momento fácil, não vou fingir que é e não vou fingir para meus clientes que é”, disse o presidente da De Beers, Bruce Cleaver. Ele argumenta que a demanda continua sólida e que os millennials vão cobiçar diamantes da mesma forma que seus pais e avós.

A De Beers diz que também está gastando mais em marketing e melhorando o rastreamento na cadeia de fornecimento, como parte dos esforços para mostrar que os diamantes não estão alimentando conflitos ou abusos dos direitos humanos.

Mesmo assim, a relação entre a De Beers e seus sightholders agora é tensa, já que a empresa mantém os preços altos mesmo que isso signifique vender menos pedras.

É uma transformação para um setor onde ser um dos compradores escolhidos era considerado a maior conquista. Tornar-se um sightholder era algo tão cobiçado que algumas das coleções de arte da De Beers, que decoram os corredores de sua sede perto da Trafalgar’s Square, em Londres, incluem obras de David Hockney e Damien Hirst – presentes de clientes que esperavam agradar a mineradora.

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