Sustentabilidade

Modelo da Embrapa corta emissão de carbono de alguns produtos e setores procuram parcerias

18 out 2019, 12:03 - atualizado em 18 out 2019, 13:05
Ciclo de vida da cana revisado pela Embrapa comprova menor volume de emissões de gases de efeito estufa

Alguns setores do agronegócio (rações, óleos vegetais e proteína animal) estão se adiantando em conhecer melhor o ciclo de vida de seus produtos, das matéria-primas e suas operações com foco nas emissões de carbono. O objetivo é claro, ganhar mais mercados e mais receita desde que os dados mostrem menor impacto no efeito estufa – ou que auxiliem na melhoria dos processos produtivos. A boa notícia é que já há radiografias atualizadas atestando menores emissões de alguns produtos do que até então se sabia.

Depois de alguns anos inventariando os processos produtivos e uso da terra e da água, a Embrapa Meio Ambiente revelou que as estimativas de emissões de gases de efeito estufa (GEE) para a cana reduziram 99% e para a soja 41%. O milho também apresentou performance muito melhor.

Poluem menos, em resumo. Pelo menos na canavicultura já há um domínio maior do mercado, uma vez que a equipe da instituição modelou o ciclo de vida das operações que mapearão a pegada de carbono para o RenovaBio. Quanto menor emissão, maior receita com os CBios, papéis que serão negociados na B3.

As informações destas culturas, mais milho, manga, eucaliptos e da pecuária vão constar do banco de dados suiço Ecoinvent, para o qual a Embrapa colaborou com outras três instituições mundiais, sob a supervisão e validação dos dados pelo Agroscope, centro de excelência em pesquisas daquele país.

O efeito prático, segundo a pesquisadora da instituição brasileira, Marília Folegatti, é que os compradores internacionais, que balizam suas aquisições com base em critérios de quanto mais sustentabilidade melhor – ou que caminham para exigirem esses protocolos – agora terão informações mais acuradas da produção nacional. Por enquanto ainda são mercados de países desenvolvidos, mas Marília avalia que vai se alastrar.

“Nos Estados Unidos e na Califórnia, em particular, não se importa etanol sem o conhecimento do ciclo de vida”, afirma ela. Noruega e Alemanha também caminham para isso com soja, entre outros casos.

Por isso, por exemplo, que as entidades de classes Sindirações (produtores de rações), Abiove (óleo e farelo de soja) e ABPA (aves e suínos), além de produtores de mangas e melões, estão fazendo acordos de cooperação com a Embrapa Meio Ambiente. Querem agregar, aos inventários do ciclo de vida dos produtos até agora listados, as demais variáveis que envolvem as operações das respectivas empresas dos setores.

Em termos mais resumidos, de acordo com a pesquisadora, até então os dados do ciclo de vida dos produtos brasileiros no Ecoinvent estavam baseados em literatura e/ou com base em métodos de produção de outros países. A Embrapa desenvolveu o modelo mais próximo da realidade do Brasil.

Entre os exemplos, o uso de máquinas em maiores extensões de terras no Brasil, a calagem (aplicação de calcário no preparo do solo), as duas safras de milho (verão e inverno), uso da terra em rotação de cultura (milho depois da soja), melhor customização dos pesticidas na cana.

Também se corrigiram distorções, como a que mostrava o ciclo de vida das araucárias no Paraná, que está muito longe de representar o efeito do GEE dos eucaliptos a nível nacional. No caso da bovinocultura, até então o modelo era da criação de dupla aptidão, carne/leite, canadense.

Para lá das definições técnicas, que poderão ser consultadas quando todos os softwares estiverem rodando e disponíveis, o recado para o setor produtivo é evidente. Os mandatos dos compradores tendem a agregar cada vez mais exigências por produtos que mitiguem as emissões.

E já há concorrentes se queixando, como a pesquisadora Marília Folegatti, da Embrapa Meio Ambiente, diz ter sabido: os argentinos quando souberam que o milho brasileiro mostraria melhor performance, após as validações da Agroscope, não gostaram nem um pouco.