Ministro do Turismo nega participação em suposto esquema de candidaturas laranjas
Alvo de investigação de um suposto esquema de desvio de verbas do fundo eleitoral destinado a candidaturas femininas do Partido Social Liberal (PSL) de Minas Gerais na eleição de 2018, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, não só negou a denúncia como acusou o jornal “Folha de S. Paulo” – que trouxe o tema à tona há nove meses – de fazer publicações irresponsáveis.
Em audiência pública da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher nesta última quarta-feira (20), ele respondeu aos questionamentos dos deputados e negou que tenha existido esquema de desvio de recursos públicos. Marcelo Álvaro Antônio afirmou ser alvo de inimigos políticos e se disse vítima de um processo policial injusto e implacável.
“É um inquérito de 6.600 páginas, onde houve mais de 80 pessoas ouvidas, busca e apreensão de celulares e HDs do partido. É uma investigação implacável por parte das autoridades policiais de Minas, e estou muito feliz de dizer que não há nada que diretamente aponte qualquer ilícito ou procedimento inadequado da minha parte”, afirmou.
O ministro do Turismo é investigado por acusações de falsidade ideológica, associação criminosa e apropriação indébita. Das pessoas ouvidas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, o ministro admitiu apenas que uma candidata, Zuleide Oliveira; e um ex-assessor, Haissander Souza de Paula; o acusaram em depoimentos pessoais. Quanto às acusações da candidata, disse que provou estar em local diverso do afirmado por ela; e que o assessor negou o próprio depoimento no dia seguinte.
Perseguição política
Sobre as acusações da deputada Alê Silva (PSL-MG), que denunciou o ministro à mídia e o acusa de ameaçá-la de morte, Marcelo Álvaro Antônio afirmou que ela entrou em clima de “denuncismo falso” para derrubar um ministro e resolver seu problema político regional.
“A deputada fez essas denúncias por objetivo próprio. Ela mesma disse que teria 37 ou 39 comissões provisórias nomeadas para ela. E quando o Enéais Reis (PSL-MG), meu suplente, assumiu (como deputado federal), foi decidido, no âmbito do partido, que ele teria a prerrogativa de indicar todas as comissões. Ela perdeu as comissões, então elaborou um plano de derrubar um ministro para derrubar o suplente”, contou.
A deputada Alê Silva discordou da tese de perseguição política e criticou o ministro. “Se fossem perseguições políticas, pura e exclusivamente, ele não teria sido denunciado pelo Ministério Público. Ele é uma pessoa cínica, fria, calculista e covarde”, rebateu a deputada.
A deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP), uma das requerentes do debate, criticou as respostas do ministro, que chamou de publicidade do próprio trabalho. “Infelizmente ele só veio aqui para fazer propaganda de uma suposta atuação do Ministério do Turismo.”
Sâmia Bomfim lembrou que acusação semelhante derrubou outro ministro (Gustavo Bebianno, ex-ministro da Secretaria-Geral da Previdência). “Mas, infelizmente, o ministro do Turismo segue a frente, então nós desconfiamos que tenha muito a esconder”, disse ela.
Problema recorrente
Para Sâmia Bomfim, é preciso que o Congresso discuta amplamente a questão de cotas femininas e o problema recorrente das candidaturas laranja, que pode estar afetando também outros partidos.
“Boa parte dos deputados e dos partidos políticos acabam atribuindo a culpa pela realização dessas candidaturas laranjas à lei de cotas. Pouquíssimos partidos reconhecem a própria responsabilidade de não fomentarem candidaturas, não apoiarem a formação política das mulheres”, lamentou.
A deputada Major Fabiana (PSL-RJ) disse ter ficado satisfeita com as respostas do ministro. Para ela, ele não pode ser acusado de crime, porque nem ao menos é réu. “Me acrescentou muito saber como anda esse processo – até então, uma investigação; sequer essa denúncia foi aceita”.
Contra as cotas
O ministro do Turismo afirmou ainda ser favorável à participação feminina na política, à destinação de percentual do fundo partidário às candidaturas femininas, mas ser contrário à política de cotas, que hoje destina 30% das vagas às candidaturas femininas em eleições.