Agronegócio

Ministra espera êxito com EUA sobre açúcar e quer levar etanol à Índia

17 set 2020, 13:46 - atualizado em 17 set 2020, 13:46
Sacas de açúcar
De outro lado, as usinas nordestinas são as mais prejudicadas pelo etanol norte-americano importado (Imagem: REUTERS/Sergio Moraes)

O governo federal espera retribuir a confiança dada pelo setor de açúcar e etanol brasileiro e obter êxito em negociações comerciais com os Estados Unidos sobre estes dois produtos, em um processo que pode ir além, colaborando para transformar o biocombustível em uma commodity global com foco em países como a Índia.

A afirmação foi feita pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ao explicar a renovação, a contragosto dos fabricantes de etanol do Brasil, da cota para importação do produto norte-americano sem tarifas por um período de três meses na semana passada.

“Acho que essa discussão é importante, não sei se 90 dias serão suficientes, mas vamos ver, os produtores sentaram à mesa, acho que houve uma união de todos, pela primeira vez sentou todo mundo, e deram um crédito para nós para essa negociação, espero que tenhamos algum tipo de êxito para avançarmos…”, disse a ministra, em evento promovido pelo jornal O Estado de S.Paulo.

A renovação da cota foi estabelecida como um ato de boa vontade para que o governo de Donald Trump possa incluir uma maior abertura dos EUA ao açúcar brasileiro nas negociações de uma tarifa zero para importação de etanol norte-americano.

“Há muitos anos o Brasil tenta discutir o açúcar (com os EUA). A cota americana de açúcar para o Brasil, como maior produtor, é muito pequenininha, ela é irrisória, insignificante pelo tamanho do Brasil”, afirmou ela, em referência à cota anual de apenas 144 mil toneladas destinadas aos brasileiros, uma fração das exportações mensais de mais de 3 milhões de toneladas.

“Pela primeira vez o Brasil ouviu dos americanos… no passado, era quase um palavrão falar de açúcar e em mexer em cota de açúcar”, afirmou Tereza.

Ela lembrou que o Nordeste brasileiro, pela localização, seria beneficiado por condições mais favoráveis a exportar açúcar aos EUA, que impõem pesadas tarifas fora da cota.

De outro lado, as usinas nordestinas são as mais prejudicadas pelo etanol norte-americano importado.

“Temos um tempo em que temos de ser eficientes, nos deram um crédito de confiança e temos de devolver isso com algum resultado”, afirmou ela, buscando retribuir as expectativas da indústria nas negociações com os EUA, encabeçadas pelo Itamaraty.

Um livre mercado, defendeu a ministra, poderia colaborar para um sonho antigo do país de transformar o etanol em uma commodity global, o que traria benefícios ambientais pela maior substituição da gasolina.

“Temos levado isso para muitos países, como a Índia. Foi isso que os incentivou a conversar com o Brasil sobre este assunto… os EUA junto com o Brasil podem atingir outros mercados”, ressaltou.

A ministra afirmou ainda ter esperança de que a Índia seja a “próxima China” para o agronegócio brasileiro, e que a pandemia atrapalhou as negociações para maior abertura de mercados indianos a produtos brasileiros.

“Temos de estar preparados, estamos plantando a sementinha para fazer isso com a Índia, é um país diferente, mas temos muito a caminhar no comércio internacional com eles também”, afirmou.

A ministra destacou a importância de o agronegócio buscar ser mais sustentável e garantiu a sanidade dos produtos nacionais, ao reiterar que o Brasil irá à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as Filipinas, que embargaram a carne de frango do país após informações de contaminação por coronavírus em produtos avícolas brasileiros reportadas por uma cidade da China, em um caso que teve menores repercussões mesmo para os embarques aos chineses.