Política

Ministério da Economia de Javier Milei: Conheça Sturzenegger, Caputo e Laspina, cotados para a pasta

20 nov 2023, 15:51 - atualizado em 29 nov 2023, 16:22
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Suspense: Javier Milei, futuro presidente da Argentina, analista nomes para o Ministério da Economia (Imagem: Divulgação/ Javier Milei)

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, avalia, pelo menos, três candidatos para comandar o Ministério da Economia: o ex-presidente do Banco Central Federico Sturzenegger; Luis Caputo, ex-presidente do BC e ex-ministro da Economia; e Luciano Laspina, deputado federal.

Os nomes foram citados por Milei nesta segunda-feira (20), em entrevista à Rádio Mitre. O economista ultraliberal, que derrotou o peronista Sergio Massa no segundo turno da eleição presidencial, realizado ontem (19), afirmou que pretendia anunciar seu ministro da Economia ainda hoje, mas não tem certeza.

Milei culpa Massa pelo eventual atraso na definição do nome mais importante do futuro governo. O motivo é que o candidato derrotado é o atual ministro da Economia do governo de Alberto Fernández. Após reconhecer a vitória de Milei ontem à noite, Massa anunciou que se licenciará do cargo até a posse do anarcocapitalista, com o objetivo de “não atrapalhar” a transição.

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Javier Milei vê “maldade” de Massa na transição de governo da Argentina

O afastamento de Massa foi classificado pelo futuro presidente argentino como “maldade”. Na entrevista concedida hoje à Rádio Mitre, Milei afirmou que a atitude do peronista visa, apenas, “culpar” o novo governo “por decisões tomadas pelo atual governo.” E arrematou: “Ou seja, vão torpedear o ministro da Economia antes de tomar posse.”

O titular da Economia é uma peça central nas chances de sucesso de Milei, que assume a presidência da Argentina no próximo dia 10 de dezembro. Afinal, o rol de promessas do ultraliberal envolve a dolarização da economia, o fechamento do Banco Central, a privatização de estatais, a redução radical do tamanho da máquina pública, e a eventual privatização de serviços de educação e saúde pública.

Tudo isso, temperado pelo desafio de abater uma inflação que alcança 127% no acumulado do ano até outubro, uma taxa de desemprego aberto de 7,5%, uma queda prevista para o PIB em 2023 de 2,5%, e a pobreza que já atinge 40% da população, sendo que 10% já se encontram no nível de indigência.

Conheça, a seguir, um pouco mais dos nomes cotados por Milei para o Ministério da Economia :

Federico Sturzenegger: o banqueiro central que quer ajuda do Brasil para derrubar a inflação

O economista de 57 anos possui um PhD em Economia pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) e foi professor nas universidades da Califórnia e Harvard. Na vida pública, Sturzenegger foi secretário de Política Econômica do governo de Domingos Cavallo.

Ele se aproximou de Mauricio Macri em 2007, quando foi convidado a presidir o Banco da Cidade de Buenos Aires. Em 2013, foi eleito deputado federal. Com a ascensão de Macri à presidência da Argentina em 2015, Sturzenegger foi nomeado presidente do Banco Central, permanecendo no cargo de 2015 a 2018.

Durante sua gestão, o BC argentino adotou um sistema de metas de inflação com câmbio flutuante. As medidas conseguiram baixar a inflação de 34,59%, em 2016, para 24,80% em 2017.

Contudo, apesar do recuo, o Banco Central e o Tesouro Nacional anunciaram, no fim daquele ano, uma revisão da meta para 2018, elevando-a de 10% para 15%. O movimento foi visto como o enterro do sistema de metas na Argentina, já que o mercado entendeu que o governo não estava, de fato, comprometido em combater a alta de preços.

O resultado foi uma desancoragem de expectativas, levando a inflação oficial a 47,65% em 2018; e para 53,83%, em 2019.

As ideias mais recentes de Sturzenegger provavelmente não agradarão seu eventual futuro chefe. Isto, porque, enquanto Milei quer distância do “comunista raivoso” Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-banqueiro central de Macri propôs, em maio deste ano, a criação de um órgão multilateral com o Brasil para combater a inflação galopante em seu país.

A proposta foi apresentada por Sturzenegger, em um seminário internacional sobre política monetária promovido pelo Banco Central do Brasil. Arrancando risos da plateia, o economista disse que a situação da Argentina é parecida com a música “With a Little Help from My Friends”, dos Beatles. Ou seja, o país precisa “da ajuda dos seus amigos”.

Luis Caputo, o macrista que deixou Mauricio Macri na mão

Outro aliado de Mauricio Macri cotado para ministro da Economia de Milei é Luis Caputo. Antes de ingressar na vida pública, Caputo chefiou a mesa de trading para América Latina do JPMorgan e foi presidente do Deutsche Bank na Argentina.

O economista de 58 anos chegou ao governo com a eleição de Macri. Seu primeiro posto foi o de ministro da Economia, mas assumiu o Banco Central, após a renúncia de Sturzenegger. Para enfrentar a aceleração da inflação e a forte desvalorização do peso, que chegou a cair 15% em um único dia frente ao dólar, Caputo elevou a taxa básica de juros da Argentina de 45% para 60% – à época, o recorde mundial.

A passagem de Caputo pelo Banco Central, contudo, foi de apenas três meses, entre junho e setembro de 2018. Desgastado pelas negociações com o FMI (Fundo Monetário Internacional) em torno de um novo pacote de ajuda, ele surpreendeu o mercado e Macri ao renunciar, alegando “razões pessoais”. Na ocasião, as conversas com o FMI ainda estavam em curso.

Luciano Laspina, o aliado de Patricia Bullrich que é cético sobre a dolarização

Luciano Laspina é o terceiro nome citado por Milei, na entrevista de hoje à Rádio Mitre. Deputado federal desde 2015, foi economista-chefe do Banco Ciudad de Buenos Aires e assessor da presidência do Banco Central e da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia.

Nas eleições deste ano, participou da campanha da candidata conservadora Patricia Bullrich, que terminou o primeiro turno em terceiro lugar. Com o apoio público da candidata a Javier Milei, no segundo turno, Laspina entrou no radar do presidente eleito.

O problema é que, durante a campanha, o candidato a comandante da economia argentina minimizou uma das propostas mais caras de Milei: a adoção do dólar como moeda nacional. No fim de outubro, em meio à campanha de Sergio Massa e Milei pelo segundo turno, Laspina deu uma longa entrevista a uma TV local.

Após afirmar que, caso Milei vencesse a eleição, não contaria com a maioria do Congresso, acrescentou: “se ele tiver alguma ideia extravagante, terá que passá-la pelo Congresso”. Para não deixar dúvidas de que o adjetivo se aplicava à ideia de Milei sobre o câmbio, Laspina continuou: “A adoção da moeda é decidida pelo Congresso. Se ele tem um plano de dolarização, terá de submetê-lo ao Congresso, como ocorreu com a convertibilidade.”

Na ocasião, Laspina considerou prematuro o debate sobre dolarizar a economia. Segundo ele, o que está em jogo “é algo muito mais profundo que o tipo de câmbio” que o país adotará. “Queria que fosse Bullrich [no segundo turno], para fazer um plano de estabilização e salvar o peso”, disse. “O plano de Milei talvez seja outro: estabilizar o peso e, no longo prazo, dar a opção de dolarizar [a economia]”, arrematou.