Ministério da Economia de Javier Milei: Conheça Sturzenegger, Caputo e Laspina, cotados para a pasta
O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, avalia, pelo menos, três candidatos para comandar o Ministério da Economia: o ex-presidente do Banco Central Federico Sturzenegger; Luis Caputo, ex-presidente do BC e ex-ministro da Economia; e Luciano Laspina, deputado federal.
Os nomes foram citados por Milei nesta segunda-feira (20), em entrevista à Rádio Mitre. O economista ultraliberal, que derrotou o peronista Sergio Massa no segundo turno da eleição presidencial, realizado ontem (19), afirmou que pretendia anunciar seu ministro da Economia ainda hoje, mas não tem certeza.
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Milei culpa Massa pelo eventual atraso na definição do nome mais importante do futuro governo. O motivo é que o candidato derrotado é o atual ministro da Economia do governo de Alberto Fernández. Após reconhecer a vitória de Milei ontem à noite, Massa anunciou que se licenciará do cargo até a posse do anarcocapitalista, com o objetivo de “não atrapalhar” a transição.
Javier Milei vê “maldade” de Massa na transição de governo da Argentina
O afastamento de Massa foi classificado pelo futuro presidente argentino como “maldade”. Na entrevista concedida hoje à Rádio Mitre, Milei afirmou que a atitude do peronista visa, apenas, “culpar” o novo governo “por decisões tomadas pelo atual governo.” E arrematou: “Ou seja, vão torpedear o ministro da Economia antes de tomar posse.”
O titular da Economia é uma peça central nas chances de sucesso de Milei, que assume a presidência da Argentina no próximo dia 10 de dezembro. Afinal, o rol de promessas do ultraliberal envolve a dolarização da economia, o fechamento do Banco Central, a privatização de estatais, a redução radical do tamanho da máquina pública, e a eventual privatização de serviços de educação e saúde pública.
Tudo isso, temperado pelo desafio de abater uma inflação que alcança 127% no acumulado do ano até outubro, uma taxa de desemprego aberto de 7,5%, uma queda prevista para o PIB em 2023 de 2,5%, e a pobreza que já atinge 40% da população, sendo que 10% já se encontram no nível de indigência.
Conheça, a seguir, um pouco mais dos nomes cotados por Milei para o Ministério da Economia :
Federico Sturzenegger: o banqueiro central que quer ajuda do Brasil para derrubar a inflação
O economista de 57 anos possui um PhD em Economia pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) e foi professor nas universidades da Califórnia e Harvard. Na vida pública, Sturzenegger foi secretário de Política Econômica do governo de Domingos Cavallo.
Ele se aproximou de Mauricio Macri em 2007, quando foi convidado a presidir o Banco da Cidade de Buenos Aires. Em 2013, foi eleito deputado federal. Com a ascensão de Macri à presidência da Argentina em 2015, Sturzenegger foi nomeado presidente do Banco Central, permanecendo no cargo de 2015 a 2018.
Durante sua gestão, o BC argentino adotou um sistema de metas de inflação com câmbio flutuante. As medidas conseguiram baixar a inflação de 34,59%, em 2016, para 24,80% em 2017.
Contudo, apesar do recuo, o Banco Central e o Tesouro Nacional anunciaram, no fim daquele ano, uma revisão da meta para 2018, elevando-a de 10% para 15%. O movimento foi visto como o enterro do sistema de metas na Argentina, já que o mercado entendeu que o governo não estava, de fato, comprometido em combater a alta de preços.
O resultado foi uma desancoragem de expectativas, levando a inflação oficial a 47,65% em 2018; e para 53,83%, em 2019.
As ideias mais recentes de Sturzenegger provavelmente não agradarão seu eventual futuro chefe. Isto, porque, enquanto Milei quer distância do “comunista raivoso” Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-banqueiro central de Macri propôs, em maio deste ano, a criação de um órgão multilateral com o Brasil para combater a inflação galopante em seu país.
A proposta foi apresentada por Sturzenegger, em um seminário internacional sobre política monetária promovido pelo Banco Central do Brasil. Arrancando risos da plateia, o economista disse que a situação da Argentina é parecida com a música “With a Little Help from My Friends”, dos Beatles. Ou seja, o país precisa “da ajuda dos seus amigos”.
Luis Caputo, o macrista que deixou Mauricio Macri na mão
Outro aliado de Mauricio Macri cotado para ministro da Economia de Milei é Luis Caputo. Antes de ingressar na vida pública, Caputo chefiou a mesa de trading para América Latina do JPMorgan e foi presidente do Deutsche Bank na Argentina.
O economista de 58 anos chegou ao governo com a eleição de Macri. Seu primeiro posto foi o de ministro da Economia, mas assumiu o Banco Central, após a renúncia de Sturzenegger. Para enfrentar a aceleração da inflação e a forte desvalorização do peso, que chegou a cair 15% em um único dia frente ao dólar, Caputo elevou a taxa básica de juros da Argentina de 45% para 60% – à época, o recorde mundial.
A passagem de Caputo pelo Banco Central, contudo, foi de apenas três meses, entre junho e setembro de 2018. Desgastado pelas negociações com o FMI (Fundo Monetário Internacional) em torno de um novo pacote de ajuda, ele surpreendeu o mercado e Macri ao renunciar, alegando “razões pessoais”. Na ocasião, as conversas com o FMI ainda estavam em curso.
Luciano Laspina, o aliado de Patricia Bullrich que é cético sobre a dolarização
Luciano Laspina é o terceiro nome citado por Milei, na entrevista de hoje à Rádio Mitre. Deputado federal desde 2015, foi economista-chefe do Banco Ciudad de Buenos Aires e assessor da presidência do Banco Central e da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia.
Nas eleições deste ano, participou da campanha da candidata conservadora Patricia Bullrich, que terminou o primeiro turno em terceiro lugar. Com o apoio público da candidata a Javier Milei, no segundo turno, Laspina entrou no radar do presidente eleito.
O problema é que, durante a campanha, o candidato a comandante da economia argentina minimizou uma das propostas mais caras de Milei: a adoção do dólar como moeda nacional. No fim de outubro, em meio à campanha de Sergio Massa e Milei pelo segundo turno, Laspina deu uma longa entrevista a uma TV local.
Após afirmar que, caso Milei vencesse a eleição, não contaria com a maioria do Congresso, acrescentou: “se ele tiver alguma ideia extravagante, terá que passá-la pelo Congresso”. Para não deixar dúvidas de que o adjetivo se aplicava à ideia de Milei sobre o câmbio, Laspina continuou: “A adoção da moeda é decidida pelo Congresso. Se ele tem um plano de dolarização, terá de submetê-lo ao Congresso, como ocorreu com a convertibilidade.”
Na ocasião, Laspina considerou prematuro o debate sobre dolarizar a economia. Segundo ele, o que está em jogo “é algo muito mais profundo que o tipo de câmbio” que o país adotará. “Queria que fosse Bullrich [no segundo turno], para fazer um plano de estabilização e salvar o peso”, disse. “O plano de Milei talvez seja outro: estabilizar o peso e, no longo prazo, dar a opção de dolarizar [a economia]”, arrematou.