Minério de ferro corre risco de forte queda após resistência à pandemia
O minério de ferro tem resistido bem à turbulência do mercado global desencadeada pela pandemia de coronavírus, tendo perdido muito menos terreno do que outras commodities industriais.
Agora, essa relativa resistência está prestes a ser testada com mais alertas sobre uma potencial queda dos preços do material usado para a fabricação de aço.
O minério de ferro pode cair para US$ 70 a tonelada diante da perspectiva de excedente no próximo trimestre, segundo alerta do Citigroup nesta semana.
A Wood Mackenzie também disse que os preços devem cair para US$ 70, mas acrescentou que há risco de a cotação atingir US$ 50 caso o mercado enfrente excesso de oferta. O preço de referência spot estava em US$ 87,10 na quarta-feira.
Enquanto commodities como petróleo a cobre afundam em consequência da redução do consumo no curto prazo provocada pela crise de saúde, o minério de ferro tem ido contra a maré.
Essa força vem do fornecimento mais restrito de minas no primeiro trimestre, da produção contínua de aço na China e da especulação de que Pequim pode aumentar os estímulos quando a economia emerge da paralisação causada pelo vírus.
Porém, com o início do segundo trimestre, a produção das minas pode aumentar justo quando bloqueios mundiais reduzem a demanda de aço.
“Ainda não vemos uma quantidade excessiva de minério de ferro transoceânico , mas os riscos aumentam e a balança se inclina para um maior impacto na demanda por minério de ferro do que na oferta”, afirmou Paul Gray, diretor de pesquisa da WoodMac.
A fraqueza recente “é o início de uma tendência”, não algo pontual, disse Gray, referindo-se às perdas na segunda-feira e na semana passada.
Maior produção
As principais produtoras de minério de ferro também devem elevar a produção este ano, embora o risco de o vírus interromper o fornecimento permaneça alto. A Vale (VALE3) disse que planeja manter as metas de produção e vendas para 2020, com previsão de aumento da produção para 340 milhões a 355 milhões de toneladas.
“A oferta de minério de ferro transoceânico deve aumentar sequencialmente devido às interrupções do primeiro trimestre, e os altos preços devem incentivar o crescimento de produtores marginais”, disse o Citigroup, que alerta para um cenário imprevisível.
Se o Covid-19 forçar o fechamento de minas em Pilbara, na Austrália, ou no Brasil, os preços podem subir, disse o banco.
Coma propagação do surto, siderúrgicas do mundo todo podem reduzir as operações, impactando o minério de ferro à medida que os volumes são redirecionados para a China, de acordo com a CITIC Futures. O risco é particularmente grande devido às reduções em usinas do Japão e Coreia do Sul, que usam tipos de minério semelhantes aos da China.