Mineradora é criticada por censurar transações no protocolo Bitcoin
Na última quarta-feira (5), a mineradora listada em bolsa Marathon (MARA) criou seu primeiro bloco “cumpridor de sanções” de transações de bitcoin (BTC) após anunciar sua intenção de fazê-lo.
A iniciativa trouxe de volta o receio de que a tão conhecida resistência à censura — a forma como mineradores têm um ponto de vista agnóstico em relação a quais transações são incluídas em seus blocos — iria ser prejudicada pelas ações de participantes da rede, como o novo pool da Marathon.
Porém, entender essa controvérsia significa entender a crescente interseção entre o bitcoin, uma rede aberta de transações e a Agência de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA (OFAC, na sigla em inglês), que administra as iniciativas de sanção financeira do governo dos EUA.
A OFAC e o bitcoin
No fim de março, a americana Marathon anunciou planos de lançar um pool de mineração de bitcoin complacente à OFAC.
Nos últimos anos, a OFAC se tornou cada vez mais assertiva ao acrescentar endereços de carteiras cripto à sua lista de Cidadãos e Empresas Nacionais Especialmente Designados (SDN) conforme ciberataques se tornaram mais fundamentais à segurança nacional.
Além disso, países sujeitos a regimes de embargos em grande escala como a Coreia do Norte, o Irã e a Venezuela migraram para cripto, fortalecendo a suspeita dos EUA.
Uma antiga relutância tem sido a incerteza sobre os próprios mineradores. Por conta da dominância chinesa na mineração de bitcoin, muitas autoridades da segurança e inteligência americana presumem que as recompensas por bloco são direcionadas para partes mal-intencionadas.
Dentre inúmeras entidades que pretendem levar a mineração para os EUA, Marathon é bem ativa em tentar cooperar com as autoridades. Mas como seria um processo de mineração obediente à OFAC?
Métodos do Mara Pool em prática
O anúncio inicial não dava detalhes de como o Mara Pool iria determinar quais transações iria classificar como “legítimas”.
Um representante da Marathon explicou ao The Block:
MARA OFAC Pool usa Walletscore da DMG, uma das tecnologias originais de análise em blockchain, para determinar quais transações serão aceitas em um bloco com base em informações fornecidas pelo Departamento de Tesouro dos EUA e a Agência de Controle de Ativos Estrangeiros, bases de dados de endereços de criptomoedas restritos pela OFAC, bem como outras fontes, incluindo a dark web.
Em outras palavras, Walletscore da DMG não apenas identifica endereços de carteira na lista de má reputação da OFAC — que não chegaram nem a cem. O software avalia endereços de carteira para transações passadas para atribuir pontuações de risco.
Em outras palavras, essa abordagem representa uma forma clássica de avaliação de risco, uma que seja familiar a instituições bancárias tradicionais que buscam filtrar possíveis clientes e, mais recentemente, um tipo de programa de corretoras cripto “obedientes” tiveram de implementar.
Ainda assim, para uma operação de mineração, isso se torna um problema de verificar carteiras a uma certa velocidade. Parece ter restringido severamente o bloco que a Marathon minerou, tanto em termos de transação e recompensas monetárias para mineradores.
O bloco de número 682.170 rendeu ao MARA OFAC Pool US$ 2.903. Incluía apenas 178 transações. Em comparação, os dois blocos adjacentes obtiveram US$ 17.478 e US$ 17.528 em recompensas por bloco e processaram 1.180 e 1.096 transações, respectivamente.
Controvérsia?
Além de simples problemas na taxa de processamento, estender esses tipos de verificação de carteira tem sido algo extremamente polêmico na indústria cripto. Muitos consideram medidas como a do Mara Pool como ameaças à promessa do bitcoin em ser resistente à censura e ter transações autossoberanas.
Como resultado, a indústria cripto rapidamente escalonou sobre o MARA Pool e seu bloco recém-minerado. Alguns usuários notaram que, apesar da superabundância de cuidado, duas das transações processadas pertenciam a endereços anteriormente ligados ao mercado ilegal Hydra.
O desenvolvedor Giacomo Zucco destacou que sempre houve um problema de que “mineradores podem escolher gerar blocos ‘vazios’, evitando que pessoas transacionem no blockchain”, mas esses blocos exigiriam subsídios externos.
Segundo ele, a questão é: “será que a demanda de mercado por transações sem censura ser maior do que o orçamento para a censura?”.
A negociação da ação da Marathon na Nasdaq caiu de US$ 36,71, em 30 abril, para US$ 31,40 hoje. A empresa viu seu valor de mercado aumentar no último ano e espera receber um novo lote de cem mil máquinas de mineração da Bitmain até o início de 2022.