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Mineração ilegal gera riscos para torres do linhão de Belo Monte

31 jul 2020, 14:46 - atualizado em 31 jul 2020, 14:46
Energia elétrica
Segundo os documentos, a BMTE registrou boletins de ocorrência sobre as atividades ilegais ao menos nas cidades paraenses de Parauapebas e Marabá (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Focos de mineração ilegal no Pará têm preocupado a operadora do linhão de transmissão que carrega do Norte ao Sudeste a produção da hidrelétrica de Belo Monte, uma vez que as atividades ameaçam impactar as torres de energia, com risco de derrubá-las, o que poderia gerar blecautes de grandes proporções.

A Belo Monte Transmissora de Energia (BMTE), associação entre a chinesa State Grid e a estatal Eletrobras (ELET3), enviou carta à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na qual disse que tem registrado denúncias junto à Polícia Civil, órgãos ambientais e Ministério Público, mas ainda sem o efeito desejado.

“Reforçamos a nossa preocupação com a desestabilização do solo que vem ocorrendo na região em decorrência da intensa atividade minerária, e informamos que temos reiteradamente solicitado o auxílio das forças de segurança na tentativa de paralisação imediata da atividade”, disse a empresa no documento, visto pela Reuters, que data de 30 de junho.

As preocupações da empresa responsável pelas instalações de transmissão associadas a uma das maiores hidrelétricas do mundo foram publicadas mais cedo pelo jornal O Estado de S. Paulo.

A operadora do linhão disse que houve ações fiscalizatórias da Polícia Federal na região em 11 de maio, o que de fato paralisou as atividades ilegais, mas afirmou que elas foram retomadas pouco depois.

A empresa também demonstrou receios de uma “atuação truculenta por parte dos garimpeiros”, caso estes associem eventual repressão de suas atividades a denúncias feitas por ela.

“As equipes da BMTE têm sido orientadas a atuar à paisana no local para que não haja identificação e possível riscos à integridade dos profissionais”, disse a empresa na carta à Aneel.

O material inclui fotos registradas entre 21 e 26 de junho, que segundo a empresa de energia mostram que as atividades “têm se intensificado ainda mais no local”.

Segundo os documentos, a BMTE registrou boletins de ocorrência sobre as atividades ilegais ao menos nas cidades paraenses de Parauapebas e Marabá.

A primeira carta da empresa à Aneel sobre o assunto, em maio, afirma que as denúncias vêm após ela ter identificado “inúmeros avanços de processos minerários” na região das instalações “ao longo dos últimos dois anos”.

A empresa explicou que o temor é de que a mineração impacte a configuração topográfica local, fazendo com que águas fluviais atinjam a base das torres de energia, o que poderia colocar sob risco a estabilidade das estruturas e, no limite, derrubá-las.

O linhão de transmissão operado pela BMTE, em ultra-alta tensão, é um dos maiores do mundo, com mais de 2 mil quilômetros de extensão entre o Pará e Minas Gerais.

A usina de Belo Monte, com 11,2 gigawatts em capacidade, é uma das maiores do mundo e a maior instalada no Brasil, embora fique atrás da binacional Itaipu, parceria brasileira com o Paraguai, que tem 14 gigawatts.

Não foi possível falar de imediato com representantes da BMTE. A State Grid, majoritária no empreendimento, não respondeu de imediato a pedidos de comentário sobre os documentos enviados às autoridades.