Mineração em terras indígenas dependerá de resposta da sociedade, diz Ibram
O projeto de lei que libera a exploração mineral em terras indígenas é uma proposta do governo federal e não das mineradoras, afirmou o diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), ao defender que as empresas apenas estudarão investimentos nas regiões se o tema estiver “apaziguado” com a sociedade.
Ao falar com jornalistas nesta quarta-feira, Flávio Penido lembrou que o PL, enviado pelo governo ao Congresso na semana passada, vai além do setor minerário, e autoriza também a liberação de outras atividades econômicas em terras indígenas, incluindo agricultura, pecuária e a exploração do turismo.
A proposta é uma das promessas de campanha do presidente Jair Bolsonaro, vista como uma reivindicação vinda principalmente de garimpeiros e empresas de exploração mineral, mas recebida com restrição por boa parte das comunidades indígenas.
“O Ibram não está defendendo, não está propondo mineração em terra indígena. Isso é um ato que está vindo do governo federal. O Ibram está observando o que está acontecendo”, disse Penido, dirigente da entidade que reúne mineradoras que respondem por mais de 85% da produção mineral nacional.
O executivo pontuou ainda que o PL da União busca regulamentar o que estabelece a Constituição Federal, que já prevê a mineração em terras indígenas.
Ele ponderou, no entanto, que nenhuma companhia associada ao Ibram, dentre elas Vale (VALE3) e Anglo American, irá investir em terras indígenas sem que o tema tenha encontrado consenso entre sociedade, incluindo governo, Congresso e os próprios indígenas.
“Se esse assunto não estiver apaziguado, nenhuma mineradora associada ao Ibram vai entrar”, disse o executivo, ressaltando que as companhias precisam de segurança técnica e jurídica para aprovar investimentos.
O projeto atribui funções técnicas à Agência Nacional de Mineração (ANM) para a avaliação sobre as terras que poderão vir a ser mineradas, o que na avaliação do Ibram significa maior segurança às partes envolvidas.
“Nós temos confiança na Agência Nacional de Mineração, que é capacitada para verificar a parte técnica desse assunto e ela está envolvida”, destacou Penido, ressaltando também que as terras indígenas são ainda desconhecidas do ponto de vista geológico e que as pesquisas nos locais apenas poderão ser feitas dentro da legalidade e sustentabilidade.
O presidente do Conselho do Ibram, Wilson Brumer, ressaltou que o tema de exploração nas terras indígenas ainda demandará muita discussão e tempo.
“A iniciativa é do governo… Isso está na nossa Constituição, desde 1988, e o que o governo está tentando fazer é regulamentar. Agora, isso ainda vai passar por uma enorme discussão… tem muitas pessoas contra, a meu ver, isso ainda vai demorar anos e anos”, afirmou.
Brumer afirmou ainda que o Ibram defende uma ANM forte para lidar com o desenvolvimento do segmento mineral.
Boas perspectivas
Durante coletiva de imprensa, os representantes do Ibram também apontaram boas perspectivas para o setor de mineração, inclusive devido a medidas recentes tomadas pelo governo federal.
O Ibram elevou a previsão de investimentos no setor mineral do Brasil em cinco anos para 32,5 bilhões de dólares entre 2020 e 2024, contra 27,5 bilhões estimados para o período anterior, de 2019 a 2023.
“Isso demonstra forte recuperação do setor e perspectivas de aumento de investimentos”, afirmou Penido, que também destacou boas perspectivas para a exploração mineral no país.
Segundo ele, a pesquisa mineral dará um salto a partir de 2020, revertendo tendência de queda observada nos anos anteriores, considerando políticas do governo federal para expandir a atividade minerária legalizada.