O que pode salvar os preços do milho de mais um colapso

“Esperando Godot” – ou, dito de outra forma, como o mercado de milho no Brasil segue na expectativa de que algo venha a consumir a elevada produção deste ano e salvar os preços de mais um colapso.
As cotações do milho físico nas diversas praças do interior do país e nos futuros da B3 iniciaram uma tendência de queda conforme o plantio do safrinha caminhou para sua conclusão dentro da janela ideal – a despeito das preocupações iniciais motivadas pelo atraso na colheita de soja.
E tal tendência ganhou fôlego com o bom desenvolvimento das plantas diante um clima próximo do normal, com consolidação de yield e revisões altistas de produção por parte da Conab, USDA e boa parte das casas privadas de pesquisa.
No entanto, temos defendido que, pela natureza própria do mercado futuro, o tamanho da safra – potencialmente recorde – já estaria nos preços atuais, em um momento onde a consolidação da safra parece evidente a todos, com ~70% já colhido a nível nacional.
Além disso, os preços no interior convergiram para o ponto de equilíbrio do produtor (“breakeven”), patamar onde receita e custos empatam e que retira o ímpeto de venda de quem já se capitalizou ao longo do primeiro semestre – e, especialmente, de quem pode estocar milho. Pode ser que estejamos no piso de preços.
O fator câmbio para o milho
O que não está no preço, ainda, é uma potencial surpresa altista pelo lado da demanda. Há uma grande expectativa de que as exportações comecem a andar doravante, apesar de um início de programa muito fraco até o momento.
Com o preço de originação supostamente próximo do piso, o que poderia destravar as exportações é uma potencial desvalorização do real – e aqui a referência a Godot encontra seu sentido completo no absurdo da ofensiva tarifária contra o Brasil e no vazio de uma solução improvável: eis um cenário de desvalorização cambial que pode, em última instância, ser providencial para o milho.