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MGLU3, VIIA3: Por que estratégia de longo prazo em varejistas tem elevado risco?

18 jul 2022, 12:14 - atualizado em 18 jul 2022, 12:14
e-commerce
“Quem comprou ações apostando no longo prazo, já acumula perdas de 61,77% no ano, considerando como data final o dia 15 de julho”, lembra o colunista (Imagem: Freepik/@snowing)

Antes e no primeiro ano da pandemia os investidores da Bolsa de Valores brilhavam quando ouviam os nomes de grandes redes varejistas.

Pudera, as empresas desse setor no Brasil tiveram um período muito bom de crescimento. Por comercializarem produtos de primeira necessidade, acabaram sendo beneficiados pelas restrições de mobilidade impostas pela Covid-19.

Foi nessa época que os canais de venda online se expandiram abruptamente, dando a impressão de que ninguém poderia segurar as grandes redes. Afinal, presencialmente ou não elas sabiam como atender seus clientes, com ou sem lockdown.

A estrela, sem dúvida, era a Magazine Luiza (MGLU3). Por duas razões. Primeiro, a valorização de suas ações em 91.300% em cinco anos, saltando de alguns centavos para R$ 27,42.

Um boom que durou até meados de 2020. Em segundo a própria estratégia de digitalização adotada pela empresa. A Magazine Luiza era, ao final de 2019, a única varejista nacional cujo canal de venda online contribuía com cerca de 50% do faturamento.

Nas concorrentes tradicionais, o e-commerce ainda engatinhava. Outras, como a Americanas (AMER3) com que atuavam exclusivamente por meio de canais digitais, não tinham uma rede física para explorar a omnicanalidade em sua totalidade.

Mas tudo mudou. A economia parou em 2020 e boa parte das pessoas e empresas entraram em 2021 endividadas. Com a economia patinando, as ações da Via (VIIA3) caíram 55%; Magazine Luiza despencou 74%; Lojas Renner (LREN3) teve desvalorização de 34% e Carrefour (CRFB3) perdeu 19%.

A expectativa era de que o mau momento continuaria durante 2022, o que tem se confirmado e com a crise gerada pela guerra na Ucrânia, pela instabilidade política no Brasil, e dificuldades na cadeia de suprimentos iniciada no período da pandemia, tudo indica que toda essa dor ainda vai demorar um pouco para passar.

Um cenário como este só faz com que a estratégia de investir a longo prazo no setor varejista seja extremamente arriscada.

Na realidade já era, por se tratar de um ramo facilmente influenciado pelas idas e vindas da economia. Então, vejamos.

No Brasil de hoje temos alta taxa de desemprego, salários defasados para quem está empregado, inflação alta a corroer a renda, taxa básica de juros crescente a encarecer a tomada de crédito.

Fatores, todos eles, altamente prejudiciais para a expansão do consumo. Os custos das redes de varejo estão aumentando, porém, a capacidade de repasse nos preços ao consumidor está diminuindo, obrigando-as a trabalhar com margens de lucro cada vez mais reduzidas.

É verdade que os preços das ações dessas empresas estão muito baixos. A Via Varejo, por exemplo, estava R$ 2,43 no dia 15 de julho, e a Magalu, R$ 2,76. Mas quem comprar agora vai levar quanto tempo para recuperar o investimento?

Trata-se de uma estratégia bem arriscada, principalmente para quem não puder ou não quiser ficar anos com o dinheiro parado nesses ativos. A lógica diz que devemos comprar na baixa para vender na alta e assim fazer dinheiro. Mas não convém esperar muito tempo.

Não há, por outro lado, razão para se apavorar. Mas o bom senso diz para que o investidor reduza a exposição em papéis do varejo ou então que a estratégia de longo prazo seja substituída por outra, de curtíssimo prazo. Explico a razão.

No primeiro dia útil de 2022, a ação da Magazine Luiza, só para citar um exemplo, abriu a R$ 7,41 e fechou a R$ 6,72, queda de 6,93%. Quem comprou ações apostando no longo prazo, já acumula perdas de 61,77% no ano, considerando como data final o dia 15 de julho.

Mas, se observarmos apenas os primeiros 15 dias de julho, os papéis da Magalu subiram 17,94%.  A lógica é simples. Apesar da alta desvalorização no acumulado do ano, sempre ocorrem momentos esporádicos de valorização, como verificamos nos primeiros 15 dias deste mês.

Toda essa tensão que o desempenho de longo prazo está gerando poderia ter sido evitada se a estratégia adotada fosse o day trade. O mercado fecha às 18h. Se acontece alguma coisa de madrugada nas Bolsas asiáticas ou na abertura da Europa que possa derrubar a Bolsa brasileira, no dia seguinte o investidor está líquido, não está posicionado e por isso mesmo tem tempo de ver para qual lado o mercado vai.

O investidor tem mais controle da situação. Diferente de quando se está posicionado em longo prazo. O investidor simplesmente está sentado dentro de um carro desgovernado.

É a economia do mundo que está levando o ativo (ou os ativos) escolhido para algum lugar. Mas o investidor mesmo não tem controle algum sobre aquilo.

É verdade que o day trade também é muito arriscado e, da mesma forma, exige bastante conhecimento e alguma dose de sorte.

Porém, ele dá a possibilidade de interromper a operação antes que o dinheiro “escorra totalmente por entre os dedos”.

No longo prazo, quando se decide frear pode ser tarde demais. Neste momento não vejo sentido em arriscar apostando no longo prazo.

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