MGLU3, VIIA3 e AMER3: Os fatores que levaram ao tombo de mais de 50% das ações em 2022
As ações de Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3) caminham para encerrar o ano com uma performance ruim. Nem mesmo a sinalização de retomada no início do segundo semestre deu suporte aos três varejistas do e-commerce brasileiro, que podem fechar 2022 com perdas acima de 50%.
Dos três, a Americanas acumula a maior queda, de aproximadamente 70%. Magazine Luiza vem logo depois, com perdas de 63,3%, seguido pela Via, que cai “apenas” 51,6%.
Sensível à alta dos juros, o setor foi um dos mais impactados pelo ciclo de aperto monetário que varreu o Brasil para uma Selic na ordem dos dois dígitos.
A expectativa de retomada econômica deu alívio momentâneo aos papéis, mas não inverteu a tendência negativa que vem se delineando. Isso porque, com a inflação elevada e os juros na casa dos 13,75%, o poder de compra do consumidor continua limitado, afetando especialmente as empresas com maior exposição à categoria de linha branca, como o Magazine Luiza.
Resultados fracos
O momento macro ruim afetou os resultados dos varejistas, especialmente o segmento de e-commerce, que foi mais uma vez o destaque negativo do setor na temporada de resultados mais recente.
No terceiro trimestre, o Magazine Luiza, Via e Americanas tiveram prejuízos, como analistas já esperavam.
O Magalu apresentou perdas de R$ 166 milhões no período, revertendo o lucro de R$ 143 milhões em igual intervalo do ano passado. Trata-se do quarto prejuízo seguido da companhia, que vem reportando números negativos desde o quarto trimestre de 2021.
Em base que exclui efeitos não recorrentes, como créditos tributários e honorários de especialistas, o prejuízo foi de 146 milhões, o quarto trimestral em sequência.
A Via mostrou prejuízo líquido contábil de R$ 203 milhões, enquanto o prejuízo líquido operacional veio em R$ 135 milhões, contra lucro de R$ 101 milhões registrado um ano antes.
Já a Americanas apresentou no terceiro trimestre um prejuízo de R$ 211,5 milhões. Com mais um prejuízo no período, a companhia acumula montante negativo de R$ 446,7 milhões nos primeiros nove meses do ano, ante os R$ 54,1 milhões positivos no ano passado.
Fim de ano
As festas de fim de ano costumam impulsionar as vendas do quarto trimestre. Neste ano, a Black Friday coincidiu com a realização da Copa do Mundo de 2022, trazendo esperanças de que esses dois eventos pudessem melhorar o faturamento dos varejistas.
No entanto, dados divulgados pela Neotrust mostraram uma edição desanimadora da Black Friday para o varejo virtual. No dia 25 de novembro, o e-commerce brasileiro teve queda de 28% em seu faturamento em comparação com o mesmo período do ano passado.
Fernando Ferrer, analista da Empiricus, destaca que, olhando para frente, o sentimento que predomina ainda é negativo devido à perda de renda real dos consumidores, a juros muito altos e ao crescimento da inadimplência.
O analista destaca ainda que todos esses fatores não mostraram pico. Pelo contrário: estão acelerando.
“Para frente, acho que eles vão piorar”, comenta.
Mais instituições estão cautelosas com a performance dos varejistas de e-commerce. O Bradesco BBI declara Mercado Livre como a preferência no setor. Para as demais empresas, incluindo Magazine Luiza, Via e Americanas, a instituição tem recomendação “neutra”, na expectativa de que os papéis andem de lado em 2023.
“Temos cautela, dada a dependência excessiva do setor em categorias de alto valor (por exemplo, eletrodomésticos), à luz do cenário atual de baixa demanda e alta concorrência em um cenário instável do ponto de vista macro”, avaliam Pedro Pinto e Flávia Meireles, que assinam o relatório publicado pela Ágora Investimentos.
O UBS BB segue cauteloso com o Magazine Luiza. Embora reconheçam uma melhora nas receitas com a demanda criada pela Copa do Mundo, analistas ainda veem um cenário de curto prazo desafiador pelos mesmos motivos indicados por Empiricus e BBI: taxas de juros ainda elevadas pressionando a demanda por itens de maior ticket.