Comprar ou vender?

MGLU3 e VIIA3: Pior está longe de passar e sofrimento com crise do varejo continuará; o que fazer?

19 maio 2023, 20:16 - atualizado em 20 maio 2023, 1:04

Se existia alguma esperança de que o pior havia ficado para trás quando falamos de Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3), o primeiro trimestre mostrou que não.

A começar pela a companhia liderada pela família Trajano, que reportou o seu maior prejuízo desde que abriu capital, em 2011, a R$ 390 milhões. A cifra gerou pânico no mercado, com a ação derretendo 23%. Em um dia, R$ 6 bilhões foram perdidos em valor de mercado.

A Via também enfrenta problemas, apesar de apresentar números ligeiramente melhores. O trimestre confirmou a crise no varejo provocada pela disparada dos juros e a queda do consumo.

O e-commerce brasileiro registrou queda de 14% no primeiro trimestre, de acordo com dados da Neotrust, devido à inflação e à redução da demanda por eletrônicos e eletrodomésticos.

“Você teve poucas varejistas em destaque. As pessoas continuam gastando mais em serviços do que com bens. Isso, no geral, tem isso um problema”, argumenta Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

Nem mesmo a derrocada da Americanas (AMER3), uma das líderes no e-commerce brasileiro, foi capaz de salvar os números do Magazine, considerados ruins pelo mercado, e Via.

“Foi interessante para observar os primeiros sinais de como será a captação de mercado pelos principais players. Apesar do espaço deixado pela Americanas a players como Via e Magazine Luiza, isso não implicou diretamente em maior crescimento e rentabilidade diante do cenário de menor concorrência”, diz Lucas Lima, analista da VG Research.

Ele argumenta que a conquista do mercado deixado pela Americanas se dá de uma maneira mais lenta e gradual, além de depender de investimentos mais agressivos de marketing por parte dos outros players.

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Dá para piorar?

A perspectiva do mercado, por enquanto, é que a Selic comesse a cair somente no segundo semestre, e, mesmo assim, de maneira tímida. O último Boletim Focus indica que a taxa de juros vai terminar o ano em 12,50%.

“Acreditamos que o pior não passou, uma vez que o ambiente macroeconômico não irá mudar de maneira relevante ainda no ano de 2023. Além disso, o cenário competitivo com os players asiáticos segue sendo um grande risco e preocupação”, argumenta Lima, da VG.

Ele vê as empresas reportando mais prejuízos diante de uma taxa de juros de dois dígitos até o final do ano, que pressiona diretamente a linha de despesa financeira.

Caroline Sanchez, da Levante Investimentos, coloca que o cenário ainda é desafiador para um segmento exposto à categorias cíclicas, como eletrodomésticos e eletroeletrônicos, somado a uma competição mais acirrada com empresas de e-commerce estrangeiras.

“Nesse cenário, quem lidera o segmento continua performando muito melhor”, completa.

Pedro Canto, analista da CM Capital, lembra que os últimos dados de vendas no varejo divulgados na quarta-feira surpreenderam positivamente.

“Entretanto, as condições apertadas de crédito e as taxas de juros devem continuar nestes patamares. Portanto, no curto prazo, o consumo ficará sufocado”, argumenta.

A XP Investimentos, em relatório enviado a clientes, escreve que a queima de caixa esteve presente em todos os segmentos, impactada pela sazonalidade normal do varejo, combinada com menor disponibilidade das linhas de risco sacado.

“Quase todas as empresas em nossa cobertura registraram prejuízos ou queda do lucro líquido em relação ao ano anterior, exceto SOMA3, RADL3, GMAT3, TFCO4 e VULC3, com as despesas de juros mais elevadas sendo um dos principais fatores que contribuíram ao aumento do custo da dívida”, observa.

Diferente do Magalu, explica, a Via conseguiu entregar um crescimento de 1,4 ponto percentual na margem bruta (Imagem: Reprodução/Magazine Luiza/ Via)

Quem foi pior: Magazine Luiza ou Via?

Embora as duas tenham divulgado resultados fracos, os números do Magalu foram mais negativos, dizem analistas.

“O Magazine Luiza decepcionou mais o mercado. A Via vem conseguindo melhorar em termos de vendas e rentabilidade, apesar de sofrer bastante com uma estrutura de capital apertada”, argumenta Lima, da VG.

Diferente do Magalu, explica, a Via conseguiu entregar um crescimento de 1,4 ponto percentual na margem bruta, atingindo 32,1%.

“O foco da empresa em categorias de cauda longa vem sendo essencial para um ótimo crescimento do marketplace (3P). Em relação ao Magazine Luiza, a reintrodução da taxa DIFAL gerou um aumento de carga tributária de 3,2 pontos percentual, o que afetou diretamente a rentabilidade e levou a uma queda da margem bruta”, justifica.

O que fazer agora?

Os analistas que conversaram com o Money Times são unânimes em dizer que o momento não favorece ficar posicionado em varejistas, a não ser que seja uma parcela pequena do capital.

“A expectativa do mercado em relação à redução da taxa de juros vem piorando bastante nos últimos dois meses. Em um determinado momento, o mercado chegou a acreditar que poderíamos ter corte na próxima reunião do mês de junho, algo que agora ficou praticamente impossível”, argumenta o analista da VG.

Atualmente, a probabilidade maior está na queda a partir de setembro, com a taxa de juros encerrando o ano em 12,5%, patamar ainda elevado e que pressiona o setor varejista.

“Nossa visão é menos construtiva para empresas que comercializam bens duráveis e atendem a classe mais baixa da população, dado o cenário macroeconômico de taxa de juros e inflação ainda elevada, além do endividamento das famílias que permanece apertado”, completa.

A analista da Levante afirma que investir em ações de varejo é um risco ainda bem alto, considerando um cenário no curto prazo ainda desafiador para o segmento, com inflação e juros altos, somado ao forte aumento de competição com as empresas gringas.

“Quem escolher se posicionar no setor agora deve considerar que deverá enfrentar muita volatilidade. Faz mais sentido estar posicionado em empresas que são líderes do seu segmento, como é o caso do Mercado Livre, que novamente superou as expectativas no 1T23″, coloca.

Canto, da CM Capital, argumenta que ainda não temos uma clara definição de quando as taxas de juros vão cair.

“E mesmo que os juros caiam antes do que o esperado, ainda temos o efeito defasagem na economia real. Portanto, ainda vai levar um tempo para que as condições de crédito aliviem, e a inadimplência caia”, prevê.

O momento da virada para o setor, segundo ele, ainda virá. “Mas parece um pouco prematuro se posicionar neste momento”.