México atrai investidor com dividendos e recompra de ações
Empresas do mundo todo estão recusando dividendos e recompras de ações. Mas não no México, onde o bilionário Carlos Slim e outros magnatas estão oferecendo recompensas maiores aos investidores.
A América Móvil, de Slim, pediu aos acionistas que aprovem um aumento de dividendos de 8,6% para 17 bilhões de pesos mexicanos (US$ 711 milhões) este ano e a ampliação do programa de recompra.
A Fomento Económico Mexicano (Femsa), controladora de uma rede de lojas de conveniência e de uma engarrafadora de bebidas, aprovou um aumento de 7% na distribuição total de dividendos, mais que dobrando a autorização de recompra para 17 bilhões de pesos.
É um nítido contraste com o cenário corporativo no resto do mundo, onde as empresas apertam o cinto enquanto contam com ajuda do governo para sobreviver à pandemia de Covid-19.
No México, o presidente Andrés Manuel López Obrador prometeu não socorrer empresas. E com a economia desabando, investidores como Michael Reynal dizem que gostariam de ver maior cautela por parte do setor privado.
“Eu tendo a preferir uma abordagem mais conservadora”, disse Reynal, que detém ações mexicanas na carteira que administra na RS Investment Management em Des Moines, no estado americano de Iowa.
“A questão principal é a falta de visibilidade da recuperação. Sentimos que a pandemia tem um ciclo, mas pouco sabemos de timing ou duração. O maior problema é a dificuldade de prever, mesmo o futuro próximo.”
Trump e AOC concordam
Nos EUA, Canadá e Europa Ocidental, as empresas suspenderam mais de US$ 56 bilhões em dividendos, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Nos EUA, as críticas aos dividendos vieram de políticos de ideologias tão diferentes quanto o presidente Donald Trump e a deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, antes mesmo de o pacote de resgate econômico de US$ 2 trilhões ter limitado a prática.
Recentemente, a autoridade reguladora do setor bancário e de valores mobiliários do México tentou reforçar a liquidez ao insistir que as instituições financeiras não pagassem dividendos ou recomprassem ações. Mas a recomendação não se aplicava a empresas não financeiras, muitas das quais são controladas por famílias.
Das 35 empresas componentes do principal índice da bolsa mexicana, oito já mantiveram ou aumentaram seus dividendos para o ano e apenas duas não declararam dividendos.
Entre as restantes, 74% provavelmente vão declarar aumento, segundo estimativas compiladas pela Bloomberg. A expectativa é que apenas uma, a operadora de restaurantes Alsea, negue completamente o pagamento de dividendos.
No Brasil, entre as 19 companhias que devem discutir dividendos no segundo trimestre, a previsão é que oito cortem ou descartem dividendos, incluindo a estatal Petrobras, que cancelou programações de pagamento de R$ 1,7 bilhão em dividendos.
Recompra de ações
Algumas companhias mexicanas também estão mantendo a recompra de ações. A América Móvil, de Slim, dobrou o fundo de recompra para 6 bilhões de pesos, embora o fundo inclua uma quantia não revelada que sobrou do ano passado.
A gigante das telecomunicações se recusou a fazer comentários para esta reportagem. Separadamente, a fundação de Slim doou US$ 43 milhões para aliviar as consequências do coronavírus
A Femsa também se recusou a comentar, assim como sua divisão de engarrafamento de refrigerantes Coca-Cola Femsa, que quintuplicou seu fundo de recompra para 5 bilhões de pesos.
Algumas empresas mexicanas estão mostrando mais contenção. A fabricante de cimento Cemex informou que suspenderia seu programa de recompra de ações para preservar a liquidez.
As operadoras de aeroportos foram duramente atingidas pela crise devido ao cancelamento das viagens e a Grupo Aeroportuario del Pacífico anunciou o adiamento da proposta de dividendos enquanto atua para conter custos.