Metaverso: Casos de abuso sexual crescem em plataformas de Meta (FB)
*Alerta de gatilho: Esta matéria contém conteúdo que pode ser sensível a determinados públicos.
Uma pesquisadora que adentrou o metaverso para estudar o comportamento de usuários em Horizon Worlds, plataforma de Meta (FB; FBOK34), antigo Facebook, disse que seu avatar sofreu um estupro no mundo virtual.
Um novo relatório, intitulado “Metaverse: another cesspool of toxic content” (“Metaverso: outra fossa de conteúdo tóxico”, em tradução livre) e publicado pela organização de responsabilidade corporativa sem fins lucrativos SumOfUs, apresentou detalhes do encontro violento da pesquisadora no metaverso do antigo Facebook, segundo o Business Insider.
Informações presentes no relatório mostram que usuários convidaram a pesquisadora para uma festa particular no metaverso de Meta no início deste mês. Outros usuários no mesmo ambiente pediram que ela desligasse a ferramenta que impede outros avatares de ficarem a menos de 1,2 metro de distância.
O relatório mostra um vídeo que SumOfUs afirma acontecer a partir da perspectiva do avatar da pesquisadora.
Na gravação, um avatar masculino se aproxima do da pesquisadora, enquanto outro permanece próximo, olhando a cena. Na sequência, uma garrafa, aparentemente com bebida alcoólica, é passada entre os avatares masculinos, que fazem comentários obscenos, registrados no vídeo.
Em outra parte do vídeo, que não foi apresentada, somente descrita, a pesquisadora “foi levada a um quarto privativo na festa, onde foi estuprada”.
Apesar de ter acontecido no mundo virtual, a pesquisadora ficou “desorientada”, afirmou ela no relatório. Segundo a pesquisadora, o controle do óculos de realidade virtual vibrava quando os avatares de abusadores encostavam nela, gerando uma sensação física do que acontecia no metaverso de Meta.
“Parte do meu cérebro estava ‘o que está acontecendo?’, outra parte estava ‘este não é um corpo de verdade’, e a outra parte pensava ‘esta é uma pesquisa importante’”, disse a pesquisadora no relatório.
“Isso tem um impacto real nos usuários”, afirmou Vicky Wyatt, diretora de campanhas do SumOfUs, à BBC.
Pesquisadores da organização de advocacia também relataram ofensas homofóbicas e raciais em Horizon Worlds, além de afirmarem ter presenciado violência com arma de fogo no metaverso.
Caso de abuso não foi isolado
Segundo o relatório de SumOfUs, outros quatro usuários também afirmaram ter sofrido assédio ou abuso sexual nas plataformas de metaverso e realidade virtual de Meta.
Em novembro do ano passado, uma usuária da fase beta da plataforma informou que seu avatar havia sido apalpada no metaverso de Meta.
No mês seguinte, uma pesquisadora do metaverso, chamada Nina Jane Patel, disse, em uma publicação em blog, que quatro avatares masculinos estupraram seu avatar nos primeiros 60 segundos após ter entrado em Horizon Worlds.
Também em dezembro de 2021, um informe do The New York Times reportou que um avatar feminino havia sido apalpado em um jogo de tiro de Meta.
Metaverso de Meta falha em segurança
Segundo o Business Insider, Meta lançou Horizon Worlds em dezembro de 2021, para usuários acima de 18 anos, nos Estados Unidos e Canadá.
No mês anterior ao lançamento, a representante de Meta, Kristina Milian, disse à revista MIT Technology Review que usuários deveriam “ter uma experiência positiva com ferramentas de segurança que são de fácil acesso — e nunca é culpa do usuário, caso este não use todas as ferramentas que oferecemos”.
“Nosso objetivo é tornar Horizon Worlds seguro, e estamos comprometidos com isso”, acrescentou Milian.
No entanto, em resposta ao recente relatório de SumOfUs, um representante de Meta disse ao jornal Daily Mail que não recomendava “o desligamento da ferramenta de segurança com pessoas desconhecidas”.
De acordo declaração da organização de responsabilidade corporativa à BBC, a empresa de tecnologia de Mark Zuckerberg ainda não tem políticas de combate a essa forma de violência.
Investidores de Meta em alerta após casos de abusos
De acordo com o Business Insider, ao menos dois importantes investidores em Meta ficaram alarmados pelos detalhes de assédio e abuso sexual no metaverso da companhia.
Em dezembro do ano passado, os investidores Arjuna Capital e Storebrand Asset Management, junto a SumOfUs e outras organizações, emitiram uma solicitação, exigindo que Meta publicasse relatórios examinando quaisquer danos que usuários pudessem sofrer nas plataformas de metaverso.
Para a sócia de Arjuna Capital, Natasha Lamb, “investidores precisam entender o escopo desses danos em potencial, e avaliar se esta é ou não uma boa ideia, antes de colocarmos dinheiro do bem em algo maléfico”.
Além disso, na reunião de Meta com acionistas na semana passada, outra proposta foi introduzida para realizar uma avaliação sobre “potenciais danos psicológicos e a direitos humanos e civis a usuários que possam ser causados pelo uso e abuso da plataforma”.
A proposta propunha uma avaliação também sobre “se os danos podem ser reduzidos ou evitados, ou se são riscos inevitáveis, inerentes a essa tecnologia”. No entanto, a proposta não foi aprovada.
*Com informações de Renan Nunes.
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