O que esperar da primeira reunião do CMN do governo Lula
Amanhã, o Conselho Monetário Nacional (CMN) realiza a sua primeira reunião do ano e a primeira do novo governo Lula.
Diferente dos últimos anos, a reunião agora conta com dois representantes do Poder Executivo: estarão presentes o ministro da Fazenda Fernando Haddad e a ministra do Planejamento Simone Tebet. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, completa o grupo.
O encontro promete ser tenso. O principal tema é o reajuste das metas de inflação. Haddad afirmou na noite de terça-feira que o assunto não será pautado nessa primeira reunião, ainda assim, tudo pode mudar em 24 horas.
No cronograma habitual do CMN, o tema é discutido nas reuniões de junho, com três anos de antecedência. Ou seja, a previsão é definir a meta de inflação a ser buscada em 2026 e ratificar a de anos anteriores. No entanto, as metas caíram na boca do povo.
Nas últimas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva travou uma batalha contra o Banco Central por causa da taxa Selic, que está sendo mantida em 13,75% ao ano desde agosto. Para o presidente, a taxa básica de juros está muito alta e até começou a questionar se a autonomia do Banco Central foi uma boa decisão.
Atualmente, Lula não tem força política para rever a independência do Banco Central. Por isso, ele tenta usar a meta de inflação para tentar driblar essa autonomia. Em janeiro, em entrevista a GloboNews, o presidente afirmou que a meta de inflação era muito baixa.
“Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7% e quando faz isso é obrigado a arrochar mais a economia para poder atingir a meta. Por que não 4,5%, como nós fizemos?”, disse.
Na teoria, se a meta fica mais alta, a inflação do país – que está em 5,79% – estaria mais próxima do teto ou do centro e a Selic poderia ser reduzida. As metas de inflação para 2023 e 2024 são de 3,25% e 3%, respectivamente. Na prática, a história é outra.
Rafael Passos, analista da Ajax Capital, aponta que por mais que a elevação das metas esteja sendo avaliada, há ressalvas sobre essa mudança.
“Uma das ponderações é que a revisão deste ano não traria efeito prático sobre a política monetária no curto prazo”, afirma.
O Itaú projeta que o Banco Central pode elevar a taxa Selic para um patamar de 15% caso o presidente insista na ideia de mudar a meta de inflação de 4,5% em 2024.
O banco destaca, em relatório, que elevar a meta de inflação do atual patamar seria percebido como pouco compromisso da política econômica, resultando em inflação mais alta à frente.
Oficilmente, o presidente do CMN é o ministro da Fazenda e não é preciso de unanimidade para aprovar a meta. No entanto, o mercado entende que Tebet pode assumir o papel de “voto de Minerva” e pender para um lado mais técnico e menos político.
Além disso, o governo deve apresentar suas indicações de nomes para os novos diretores do Banco Central. No final do mês acaba o mandato de Bruno Serra (Política Monetária) e Paulo Souza (Fiscalização). A princípio, Lula iria indicar pessoas ligadas ao PT, mas não estão descaradas indicações de servidores de carreira da autoridade monetária.