Messari: tendências do primeiro trimestre e previsões para o restante de 2020
O ano começou com grande otimismo, em que ativos atingiram altas e métricas como o valor retido no setor de finanças descentralizadas (DeFi) ter atingido níveis recordes.
Porém, por conta das questões econômicas e globais de março, os mercados cripto passaram por grandes liquidações no dia 12 de março.
Narrativas e infraestruturas parecidas passaram por provações em março e, conforme caminhamos para o segundo trimestre, a equipe de pesquisa da Messari destacou os principais destaques e as futuras tendências para esse universo.
Stablecoins
Direcionadas por uma fuga global para ativos mais seguros e a demanda por dólar, stablecoins tiveram uma grande capitalização de mercado no primeiro trimestre de 2020, terminando em mais de US$ 8 bilhões.
Na verdade, a demanda por stablecoins foi tão forte que houve mais fluxo no setor no primeiro trimestre do que no ano de 2019. A maioria dos fluxos foram para tether (USDT), a stablecoin dominante, apesar de outras como USD Coin (USDC) começaram a crescer significativamente.
Um vencedor no crescimento das stablecoins parece ter sido a Ethereum que, recentemente, atingiu a paridade de transferência de valor com a rede Bitcoin.
Agora, stablecoins totalizam 80% da transferência diária de valor na Ethereum, já que provou ser a plataforma escolhida para a emissão de novas stablecoins.
Provavelmente, esse crescimento irá continuar, conforme tether mova mais de sua emissão na Ethereum e novos projetos de stablecoin forem lançados ao longo do ano.
Embora a volatilidade de mercado tenha tido fluxos para muitas stablecoins, foi um fator negativo para DAI, a maior stablecoin descentralizada.
No dia 12 de março, agora conhecido como “Quinta-Feira Sombria”, os preços do ether (ETH) despencaram 44% e o sistema Maker teve uma queda de US$ 4 milhões por conta de liquidações de seus cofres.
Em geral, o primeiro trimestre de 2020 foi otimista para stablecoins e estão no ritmo de um crescimento quadruplicado. Isso poderia trazer um fluxo de nova liquidez para o ecossistema Ethereum e, no futuro, solidificar sua posição como a plataforma dominante de stablecoins.
Confira o relatório completo da Messari sobre stablecoins no primeiro trimestre
Criptomoedas
Criptomoedas começaram 2020 com otimismo, em que o bitcoin aumentou 45%, para uma alta de US$ 10,362 no início do ano. O otimismo foi rapidamente substituído pelo medo, conforme o impacto do coronavírus começou a abalar a economia global, chocando mercados financeiros tradicionais e cripto.
No dia 12 de março de 2020, o bitcoin passou por uma de suas piores quedas, despencando mais de 50% de um dia para o outro. A liquidação foi tão violenta que diversas corretoras de derivativos tiveram problemas em acompanhá-la.
Apenas na BitMEX, um total de US$ 1,6 bilhão nas posições compradas e alavancadas foi liquidado, varrendo quase toda a alavancagem no mercado.
A liquidação de março danificou drasticamente a antiga narrativa de que o bitcoin poderia funcionar como um ativo de refúgio ou um ativo de baixo risco. Isso acabou não sendo o caso, já que as correlações entre o bitcoin e o índice S&P 500 dispararam durante esses períodos de volatilidade.
Como diz o ditado: há décadas em que nada acontece, mas existem semanas em que décadas acontecem.
Embora a perspectiva macro ainda seja incerta para 2020, muitas criptomoedas, como bitcoin (BTC), bitcoin cash (BCH), bitcoin SV (BSV) e zcash (ZEC) passarão por seus halvings, que podem ser um desenvolvimento importante e positivo ou outra chance de ver uma narrativa ser desfeita.
Confira o relatório completo da Messari sobre criptoativos no primeiro trimestre
Finanças Abertas (DeFi)
Conforme a volatilidade aumentou no primeiro trimestre, corretoras descentralizadas (DEXs) se beneficiaram de uma alta nos volumes de negociação. Um índice de capitalização de mercado mostrou que o rendimento dos principais projetos DEX foi de 20,5% em um mercado onde muitos ativos terminaram trimestre em queda.
O setor de empréstimos descentralizados, por outro lado, passou por um trimestre mais pessimista, após a invasão à plataforma bZx ter resultado em uma perda de fundos de clientes, além da repercussão da Quinta-Feira Sombria ter criado problemas para a Maker, o maior protocolo no setor DeFi.
Maker atingiu baixas históricas após uma série de liquidações e de leilões fracassados de garantias deixaram o protocolo com baixa capitalização.
Para começar o ano, os empréstimos totais pendentes nos dois maiores protocolos de empréstimo, Maker e Compound, subiram de US$ 40 milhões para uma alta recorde de US$ 185 milhões em fevereiro.
Porém, a seguinte queda de mercado resultou em uma série de liquidações que acabaram com 40% das dívidas pendentes.
Outras áreas do universo DeFi passaram por ganhos importantes, em que mercados de previsão e oráculos terminaram o trimestre com altas. Chainlink (LINK) continuou em alta após um forte 2019, conforme continuou a firmar parcerias com projetos que desejam evitar mais problemas com oráculos.
Augur terminou o primeiro trimestre com uma alta de 13% conforme se aproxima do tão aguardado lançamento da segunda versão de sua plataforma.
DeFi continua experimental e a tecnologia continua evoluindo em um ritmo impressionante. Conforme diversos projetos planejam realizar atualizações significativas no segundo trimestre, essas mudanças poderiam ter um grande impacto no setor como um todo.
Confira o relatório completo da Messari sobre Finanças Abertas no primeiro trimestre
Contratos inteligentes
Assim como outros setores, contratos inteligentes foram afetados pelos eventos macro em todos os sentidos. Apesar de rápidas quedas de preço em março, vários grandes projetos, como Ethereum e Tezos, terminaram o trimestre com rendimentos positivos.
Os ganhos eram bem concentrados nos primeiros meses do ano, em que Ethereum passou por uma queda de 44% na Quinta-Feira Sombria.
A verdadeira história do setor foi a guerra contínua entre Ethereum e os chamados “Ethereum Killers” que buscam lançar, ou já lançaram, plataformas adversárias de contratos inteligentes.
Muitos desses projetos arrecadaram financiamento significativo com a promessa de criarem uma “melhor” versão da Ethereum.
Conforme novos projetos são lançados, é provável que compitam com uma Ethereum que não existia até o início do desenvolvimento da Ethereum 2.0, que continua a progredir para seu lançamento.
ETH 2.0 irá incorporar diversas mudanças, começando com a transição para um modelo proof-of-stake (PoS), ficando mais alinhada com redes mais novas, como Tezos e Cosmos.
Staking também será um tema importante no segundo trimestre, à medida que mais corretoras e custodiantes (e até mesmo fundos) começam a acrescentar ou impulsionar suas plataformas de staking.
Embora “staking-as-a-service” (SaaS) acrescente um nível de conveniência, stakers comuns e serviços de validação de pequena escala podem descarregar seus ativos retidos de o risco atual começar a superar o rendimento de staking, fazendo com que validadores mais bem-financiados (aqueles com fontes de rendimento além de staking, como corretoras) assumam maior controle sobre essas redes.
Uma concentração no poder de staking poderia ter implicações na governança de blockchain, como demonstrado pela votação recente na rede Tezos.
Embora Coinbase e Binance tenham facilitado que usuários realizassem o staking de Tezos, os usuários se recusaram a participar da votação mais recente de governança, que reduziu a taxa de participação no geral.
O lançamento de novas plataformas de contratos inteligentes, os estágios iniciais da ETH 2.0 e novos desenvolvimentos de interoperabilidade, como o protocolo Interblockchain Communication (IBC), serão importantes de se acompanhar em 2020, conforme novas redes buscam destronar a Ethereum como a plataforma dominante de contratos inteligentes.
Confira o relatório completo da Messari sobre Contratos Inteligentes no primeiro trimestre