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Mês começa com China, Fed e Congresso

01 fev 2017, 9:46 - atualizado em 05 nov 2017, 14:07

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

Mesmo em meio às festividades pela chegada do ano do Galo de Fogo, a China não saiu de cena. A segunda maior economia do mundo continua se fortalecendo, conforme os dados dos setores industrial e de serviços, e esses sinais ajudam a ofuscar a ofensiva dos Estados Unidos. Mas a maior expectativa neste novo mês é pela reunião do Federal Reserve, à tarde. Aqui, o fim do recesso coloca Brasília de volta ao centro das atenções.

O índice oficial dos gerentes de compras (PMI) na indústria chinesa seguiu nos maiores níveis desde 2012, apesar da desaceleração a 51,3 em janeiro, de 51,4 em dezembro, enquanto o setor de serviços permaneceu robusto, com alta a 54,6, de 54,5, no mesmo período. A previsão para a atividade industrial era de recuo maior, a 51,2.

Números acima de 50 indicam melhora das condições e sinalizam aos mercados financeiros que Pequim está pronta para agir, à medida que se prepara para potenciais tensões na relação comercial com a Casa Branca, a fim de manter um crescimento econômico estável. Os dados serviram de alento na Ásia, com ganhos de 0,50% em Tóquio, mas Hong Kong voltou do feriado do ano novo em queda (-0,4%).

Os índices futuros das bolsas de Nova York também estão no azul nesta manhã, ensaiando uma recuperação após as fortes perdas recentes, enquanto as principais praças europeias abriram em alta. Entre as commodities, o petróleo está na linha d’água e o ouro devolve parte do melhor rali desde junho, penalizados pela estabilização do dólar.

A moeda norte-americana se fortalece ante os rivais, após registrar em janeiro o pior mês desde março, em meio às reiteradas declarações do governo Trump de ter preferência por um dólar fraco, a fim de conquistar mercados e transformas os EUA em um grande exportador comercial. A questão é saber qual é o impacto dessa disposição do presidente, e das demais políticas econômicas, na condução da taxa de juros pelo Fed.

Aliás, a decisão sobre a taxa de juros norte-americana (17h) é o grande evento desta quarta-feira. O mercado não trabalha com um novo aumento dos juros neste encontro, mas vai tentar encontrar detalhes de como deve ser conduzido o processo de normalização da taxa daqui para frente. Embora alguns integrantes do Fed tenham expressado a confiança de que poderia haver três apertos monetários este ano, é possível que esse prognóstico seja revisto.

Com a eleição de Trump, esperava-se uma política mais austera pelo Fed, já que as promessas do republicano de mais investimentos e corte de impostos têm potencial de gerar mais inflação, combatida com mais juro. Porém, o que se vê é o contrário, com uma queda dos investimentos nos EUA e a ausência de medidas de estímulo com viés expansionista.

Desse modo, ainda há uma aposta de nova alta nos juros em março, mas as chances firmes são de um aperto adicional apenas em junho – seis meses após o último aumento de 0,25 ponto porcentual, em dezembro passado. O fim da era de juro zero nos EUA teve início ao final de 2015, também com uma dose de 0,25 ponto.

Ainda no calendário norte-americano, saem a criação de postos de trabalho no setor privado em janeiro (11h15), os índices PMI (12h45) e ISM (13h) da indústria, além dos gastos com construção em dezembro (13h). Também são esperadas as vendas de veículos no mês passado. Dados de atividade na zona do euro serão conhecidos logo cedo.

Na agenda doméstica, as atenções se voltam para o dado de dezembro da produção industrial. A indústria nacional deve crescer pelo segundo mês consecutivo, em +2,4% ante novembro, e interromper 33 meses seguidos de retração na comparação anual, registrando um leve avanço de 0,2%.  

No acumulado do quarto trimestre de 2016, a atividade deve ter diminuído o ritmo de queda, após recuar 5,5% nos três meses anteriores. Ainda assim, será a décima primeira taxa trimestral negativa consecutiva da indústria. Os números oficiais saem às 9h.

Depois, também merecem atenção os dados da balança comercial em janeiro, que deve registrar um superávit de US$ 1,9 bilhão. Logo cedo (8h), será conhecido o índice de preços ao consumidor (IPC), calculado pela FGV.

No front político, os investidores acompanham a retomada dos trabalhos no Congresso, com o foco direcionado nas eleições para a presidência do Senado, hoje. A escolha pelo peemedebista Eunício Oliveira é dada como certa, com as expectativas voltadas mais para a decisão na Câmara, amanhã, onde a disputa deve ser mais acirrada.

Além disso, acontece hoje a sessão de abertura do ano no Judiciário. Após a homologação da delação da Odebrecht, a expectativa é pela escolha do novo relator da Lava Jato. Hoje mesmo pode ser feito um sorteio entre os integrantes da 2ª Turma do STF para definir o nome, sendo que o ministro Edson Fachin se ofereceu para mudar de turma na Corte e ocupar o assento que era de Teori Zavascki, aumentando a lista de candidatos.

Aliás, o Palácio do Planalto está em estado de atenção, diante da possibilidade de vazamento seletivo das delações de 77 executivos da Odebrecht. O conteúdo pode atrapalhar o andamento das reformas estruturais no Congresso, já que a empreiteira cita nomes de vários integrantes do governo Temer, além do próprio presidente.

Em relação à prisão de Eike Batista, o governo considera o empresário um problema maior para a agora oposição, dada a proximidade dele com os dois últimos presidentes do país. Porém, se o material divulgado pelo ex-bilionário tiver amplitude maior, não se pode descarar novas peças no tabuleiro, vindas, principalmente, do PSDB. Afinal, a ligação do então governador de Minas Gerais Aécio Neves com Eike era igualmente forte.

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