Mergulhada em crise política e econômica, Venezuela vai às urnas neste domingo
No domingo, 20 de maio, 19 milhões de venezuelanos foram convocados às urnas para escolher o novo presidente que vai governar o país nos próximos seis anos. Também haverá votação para os parlamentos estaduais e federal.
Quatro candidatos disputam a liderança do país: o atual presidente, Nicolás Maduro, o ex-governador do estado de Lara e ex-chavista, Henri Falcón, o pastor evangélico Javier Bertucci e o engenheiro Reinaldo Quijada. O empresário Luis Alejandro Ratti se retirou do pleito, no início do mês.
Mas os líderes opositores: Henrique Capriles, María Corina Machado, Leopoldo López e Freddy Guevara perderam os direitos políticos e não podem ser candidatos.
Mergulhada em uma crise econômica, política e social, a Venezuela enfrenta ainda uma polarização entre os cidadãos. De um lado, aqueles que defendem que Nicolás Maduro permaneça no poder, como a estudante Mercedez Sales de 32 anos.
“Voto no governo Maduro porque sei que a crise vai passar um dia e vamos voltar a ter acesso às coisas que tínhamos como boa educação e saúde. Um governo que olha mais para os necessitados.”
Do outro lado, venezuelanos que pedem a saída do líder chavista e convocam boicote às eleições, já que no país o voto não é obrigatório. O motorista de 38 anos Alejandro Sol reclama que não tem candidato da oposição no pleito.
Sonora: “A eleição é uma farsa. Não há oposição real. Os verdadeiros opositores ao governo foram impedidos de participar. Não há como participar disso.” O pleito na Venezuela é cercado por polêmicas. Previsto para dezembro deste ano, chegou a ser agendado para abril e, agora, está marcado para este 20 de maio.
Nas últimas semanas, a comunidade internacional vem se pronunciando a respeito da eleição.
O governo dos Estados Unidos aumentou a pressão política sobre o país, classificou o pleito como fraude e pediu ao mandatário venezuelano que organize eleições reais.
A reportagem procurou a embaixada da Venezuela e eles não quiseram se posicionar sobre o tema.
Para o especialista em direito eleitoral Dyego Crosara, a Venezuela não vive em um regime democrático. Ele argumenta que o problema é o indeferimento das candidaturas de líderes da oposição.
“Tem algum tempo que, lá, as candidaturas são aprovadas previamente e sempre os grupos de oposição ao governo, eles não são autorizados a concorrer nos pleitos. Essa é a grande dificuldade hoje da Venezuela. E isso não faz parte do jogo democrático. Então, o que acontece hoje é que tanto a oposição como os mecanismos internacionais entendem que esse juízo prévio faz com que pessoas que podiam ser candidatas não sejam. A gente vê que vários regimes autoritários e nos regimes totalitários, historicamente, vários deles têm eleição. Cuba passa por eleição, a China passa por eleição, e a Venezuela não é diferente. A gora não se pode enxergar nisso como uma coisa normal para a democracia. Na verdade, é uma exceção, e isso tem que ficar muito claro.”
Dyego Crosara defende também que não existe um mecanismo de controle. “Na Venezuela, você não tem um cadastro eleitoral, você não sabe quem vai votar. A ocorrência de fraudes é muito grande. Porque não tem uma consolidação de cadastro, não tem uma fiscalização. Tanto que isso impede tantos os mecanismos internacionais quanto a própria oposição de fiscalizar.”
Já o Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília Thiago Galvão rebate as críticas. Para ele, o envio dos observadores internacionais valida as eleições.
“A Venezuela, nesses últimos anos, passou por uma série de eleições, todas elas acompanhadas por observadores internacionais. Em nenhuma delas foi verificado um tipo de contravenção ou de contrariedade ou de tentativa de burlar o pleito eleitoral. Então eu diria que a chance de isso acontecer agora não me parece muito real.”
O professor explica ainda que a oposição venezuelana tenta deslegitimar a eleição e diz que não são apenas as forças dentro do país que atuam neste momento.
“Você tem pressão do governo americano, que é fortíssima. Uma pressão canalizada via OEA, a Organização dos Estados Americanos. E alguns governos da América do Sul, que são claramente de direita, que não conseguem mais conceber a existência de um governo progressista de esquerda na América Latina.”
Na última eleição no país, em 2017, que foi para escolher os membros da Assembleia Constituinte, compareceram cerca de 8 milhões de pessoas, o que representa 41% dos eleitores.
O pleito, que elegeu representantes para mudar a Constituição no país, foi marcado por protestos violentos, confrontos e mortes. A oposição não participou dessa eleição.