Economia

Mercados duvidam de sinalização do BCE sobre juros na Europa

19 jan 2022, 20:49 - atualizado em 19 jan 2022, 20:49
Banco Central Europeu BCE
No entanto, representantes do BCE esperam que os índices de preços percam fôlego este ano (Imagem: Reuters/Kai Pfaffenbach/File Photo)

O Banco Central Europeu enfrenta um impasse com os mercados financeiros sobre o início do aperto na taxa básica de juros.

Embora as autoridades insistam que um aumento em 2022 é bastante improvável, os mercados de curto prazo apostam em acréscimo de 0,10 ponto percentual para -0,4% já em setembro, com o custo de captação saindo do território negativo até o final do ano que vem.

Estes são alguns dos motivos por trás da falta de consenso entre investidores e diretores do BCE:

Perspectiva de Inflação

Após a última reunião do BCE em dezembro, a inflação na Zona do Euro surpreendeu para cima.

Em vez de recuar, o aumento de preços ganhou velocidade e atingiu o recorde de 5%.

A recente disparada nos custos de energia significa que a inflação pode permanecer elevada por mais tempo.

No entanto, representantes do BCE esperam que os índices de preços percam fôlego este ano.

Os mercados não estão convencidos disso.

O que diz a Bloomberg Economics

“Os mercados de swap precificam aperto de 0,20 ponto percentual até dezembro. Mas isso destoa da insistência da presidente Christine Lagarde de que uma elevação é muito improvável. Quem tem razão? Nossa projeção é de vitória para Lagarde, mas os maiores riscos estão contra ela”, dizem Jamie Rush, Maeva Cousin e David Powell.

Sem defesa de uma postura mais branda

Em um contexto em que a inflação repetidamente surpreende para cima, vários integrantes do Conselho Geral do BCE parecem ter mudado o tom em relação à política monetária.

Conhecidos pela visão mais branda (dovish, no jargão do mercado financeiro), Gabriel Makhlouf, da Irlanda, e Olli Rehn, da Finlândia, recentemente defenderam que o BCE não seja complacente e reaja se necessário.

O influente representante francês François Villeroy de Galhau — conhecido pelo meio-termo — se posicionou contra dar muita importância à perspectiva de inflação abaixo da meta de 2% em 2023 e 2024.

“Não apenas os conselheiros de visão mais agressiva do BCE, mas também diversos conselheiros de postura mais branda sinalizaram disposição para mudar de rumo nos últimos dias e semanas”, escreveu um economista do Commerzbank, Michael Schubert, em relatório. “Se essa tendência continuar, seria um sinal de que o BCE está abandonando a política expansionista antes do previsto.”

Transição energética

Em outro sinal de mudança de tom, a integrante do Conselho Executivo Isabel Schnabel fez um discurso que talvez leve o BCE a reavaliar os riscos atribuídos à transição para uma matriz de energia mais limpa.

O esforço para reduzir as emissões de carbono pode manter a inflação elevada por mais tempo, argumentou ela, acrescentando que o quadro pode levar ao aumento das expectativas de inflação no futuro.

Pressão dos pares

Com o argumento de que a recuperação da Zona do Euro está atrasada em relação a outras economias avançadas, o BCE está atrás dos bancos centrais dos EUA e Reino Unido no plano de reversão de estímulos.

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